Ibovespa tomba, dólar e juros disparam: Por que o mercado reage mal à indicação de Flávio Bolsonaro?
O mercado foi pego de “surpresa” no início da tarde desta sexta-feira (5) com a notícia de que o candidato à Presidência escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro será o seu filho Flávio Bolsonaro (PL).
A informação foi publicada, em primeira mão, pelo portal Metrópoles. De acordo com o colunista Paulo Cappelli, a escolha de Flávio foi comunicada a interlocutores próximos à família nesta semana.
Esta foi a primeira vez que Bolsonaro, que está cumprindo pena em carceragem da Polícia Federal em Brasília e é considerado o líder da direta no Brasil, manifestou tal intenção.
Horas depois, a escolha de Flávio Bolsonaro foi confirmada pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto. “Confirmado. Flávio me disse que o nosso Capitão ratificou sua candidatura. Bolsonaro falou, está falado. Estamos juntos”, disse Costa Neto, ao jornal O Globo.
Por volta de 15h30 (horário de Brasília), Flávio Bolsonaro, por sua vez, se pronunciou sobre a decisão de Bolsonaro de apoiá-lo na corrida pela Presidência em 2026.
“É com grande responsabilidade que confirmo a decisão da maior liderança política e moral do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, de me conferir a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação”, disse ele, em publicação na rede social X.
É com grande responsabilidade que confirmo a decisão da maior liderança política e moral do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, de me conferir a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação.
Eu não posso, e não vou, me conformar ao ver o nosso país caminhar por um tempo de… pic.twitter.com/vBvHS7M0hJ
— Flavio Bolsonaro (@FlavioBolsonaro) December 5, 2025
Por que o mercado reagiu mal?
Até então, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), era cotado como o mais provável candidato da direita, na avaliação do mercado, embora ele ainda não tivesse anunciado a intenção de concorrer à Presidência.
Na pesquisa mais recente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) liderava em todos os cenários de primeiro turno para as eleições presidenciais de 2026. O atual presidente, porém, teria empate técnico com Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Michelle Bolsonaro (PL) em um eventual segundo turno, segundo a pesquisa AtlasIntel, divulgada na última terça-feira (2).
Flávio Bolsonaro não havia sido avaliado como um dos possíveis candidatos nas pesquisas eleitorais.
“O apoio de Bolsonaro a um candidato que não seja Tarcísio cria uma pulverização, divisão de forças em vez de uma união“, avaliou o analista Victor Benndorf. “A percepção de risco em torno de uma direita mais dividida e pulverizada é negativa, mas ainda [a precificação do cenário eleitoral] é muito incipiente”.
“O mercado já está bastante esticado, então qualquer ‘pretexto’ reflete em uma realização de lucros, especialmente quando o assunto é eleição”, acrescentou. Para ele, a movimentação de hoje não impacta a tendência positiva do Ibovespa.
Na mesma linha, o economista André Perfeito, do Garantia Capital, avalia que decisão de “lançar” Flávio Bolsonaro como candidato “implode” possíveis alianças entre os partidos de centro e de direita para as eleições. “O mercado apostava em Tarcísio para construir essas alianças e pavimentar a vitória da direita em 2026, mas agora cabe avaliar se Flávio Bolsonaro consegue reunir esse amplo espectro político”, avaliou o economista.
Já Ricardo Pompermaier, estrategista-chefe da Davos Investimentos, observa que “a percepção predominante entre analistas é que ele enfrenta um nível de rejeição elevado e tem dificuldade para ampliar sua base para além do eleitorado já alinhado à direita”.
“Esse aspecto importa porque reduz a competitividade da centro-direita e aumenta a chance de um segundo turno menos favorável para esse grupo. Quando o mercado identifica um candidato com baixa capacidade de crescimento, costuma aumentar a cautela, não necessariamente por preferência política, mas porque isso reduz a previsibilidade sobre qual agenda econômica pode prevalecer no próximo governo”, disse Pompermaier.
Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital, afirmou que o mercado esperava um “apoio forte” de Bolsonaro para o atual governador de São Paulo. “Tarcísio era mais agradável para o mercado pela austeridade fiscal e capacidade gerencial administrativa durante o governo em São Paulo”, destacou.
Teste de fogo?
Na avaliação de Erich Decat, head de análise política da Warren Investimentos, a eventual candidatura de Flávio Bolsonaro é um “balão de ensaio: uma tentativa de recolocar Bolsonaro no centro do processo decisório da direita e forçar os dirigentes do centrão a considerarem que o ‘jogo’ ainda não está resolvido”.
“Do ponto de vista analítico, uma decisão dessa magnitude não seria anunciada via off a um único veículo [de imprensa]. É pequeno demais para o modus operandi da família Bolsonaro, e para o peso simbólico que tal escolha teria dentro da direita”, disse Decat.
O analista também afirmou que “a simples circulação dessa informação já cumpre o papel de tensionar o ambiente e reposicionar atores”. Para ele, a candidatura de Flávio ainda precisa decantar antes de ser tratada como um movimento concreto e “há muita água para passar debaixo da ponte” até o início oficial do ciclo eleitoral.
Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, também compartilha da mesma visão. “Acredito que o desejo de Jair [Bolsonaro] de lançar o filho Flávio seria mais para testar o nome dele nas pesquisas de intenção de voto e, a partir de agora, ver o quanto ele [Jair] conseguiria ‘transferir’ votos para o filho.”
Ibovespa derrete, dólar e DIs disparam
Nos mercados, o Ibovespa (IBOV) perdeu mais de 7 mil pontos, depois de ter renovado a máxima histórica no nível dos 165 mil pontos em apenas três horas de negociações. Após a confirmação de Flávio Bolsonaro, o principal índice da bolsa brasilera passou a cair mais de 4%, aos 157 mil pontos.
O principal índice da bolsa brasileira terminou as negociações com queda de 4,31%, aos 157.369,36 pontos. Uma perda acima de 4% não era vista desde 22 de fevereiro de 2021, quando o índice caiu 4,87%.
Com a escalada da cautela, com a percepção de uma direita “enfraquecida”, o dólar à vista superou a casa de R$ 5,40. A divisa norte-americana bateu a máxima intrada a R$ 5,4840 (+3,27%) e encerrou a sessão a R$ 5,4318 (+2,29%).
A curva de juros futuros também acelerou os ganhos, com abertura de mais de 20 pontos-base no curto prazo. No mesmo horário, o contrato da taxa de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027, de curtíssimo prazo, fechou a 13,79% ante o ajuste anterior de 13,55%. Já o DI para janeiro de 2030, de médio prazo, terminou a sessão a 13,36% ante 12,77% do ajuste anterior. O DI para janeiro de 2035, de longo prazo, encerrou a 13,57%, ante 13,01% do fechamento anterior.