Mercados

Ibovespa tomba, dólar e juros disparam: Por que o mercado reage mal à indicação de Flávio Bolsonaro?

05 dez 2025, 16:06 - atualizado em 05 dez 2025, 18:42
Flavio e Jair bolsonaro
O ex-presidente Jair Bolsonaro (à dir.) e o filho Flávio (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

O mercado foi pego de “surpresa” no início da tarde desta sexta-feira (5) com a notícia de que o candidato à Presidência escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro será o seu filho Flávio Bolsonaro (PL).  

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A informação foi publicada, em primeira mão, pelo portal Metrópoles. De acordo com o colunista Paulo Cappelli, a escolha de Flávio foi comunicada a interlocutores próximos à família nesta semana.

Esta foi a primeira vez que Bolsonaro, que está cumprindo pena em carceragem da Polícia Federal em Brasília e é considerado o líder da direta no Brasil, manifestou tal intenção.

Horas depois, a escolha de Flávio Bolsonaro foi confirmada pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto.  “Confirmado. Flávio me disse que o nosso Capitão ratificou sua candidatura. Bolsonaro falou, está falado. Estamos juntos”, disse Costa Neto, ao jornal O Globo. 

Por volta de 15h30 (horário de Brasília), Flávio Bolsonaro, por sua vez, se pronunciou sobre a decisão de Bolsonaro de apoiá-lo na corrida pela Presidência em 2026.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

“É com grande responsabilidade que confirmo a decisão da maior liderança política e moral do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, de me conferir a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação”, disse ele, em publicação na rede social X.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Por que o mercado reagiu mal?  

Até então, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), era cotado como o mais provável candidato da direita, na avaliação do mercado, embora ele ainda não tivesse anunciado a intenção de concorrer à Presidência.  

Na pesquisa mais recente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) liderava em todos os cenários de primeiro turno para as eleições presidenciais de 2026. O atual presidente, porém, teria empate técnico com Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Michelle Bolsonaro (PL) em um eventual segundo turno, segundo a pesquisa AtlasIntel, divulgada na última terça-feira (2).

Flávio Bolsonaro não havia sido avaliado como um dos possíveis candidatos nas pesquisas eleitorais.

“O apoio de Bolsonaro a um candidato que não seja Tarcísio cria uma pulverização, divisão de forças em vez de uma união“, avaliou o analista Victor Benndorf. “A percepção de risco em torno de uma direita mais dividida e pulverizada é negativa, mas ainda [a precificação do cenário eleitoral] é muito incipiente”.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

“O mercado já está bastante esticado, então qualquer ‘pretexto’ reflete em uma realização de lucros, especialmente quando o assunto é eleição”, acrescentou. Para ele, a movimentação de hoje não impacta a tendência positiva do Ibovespa.

Na mesma linha, o economista André Perfeito, do Garantia Capital, avalia que decisão de “lançar” Flávio Bolsonaro como candidato “implode” possíveis alianças entre os partidos de centro e de direita para as eleições. “O mercado apostava em Tarcísio para construir essas alianças e pavimentar a vitória da direita em 2026, mas agora cabe avaliar se Flávio Bolsonaro consegue reunir esse amplo espectro político”, avaliou o economista.

Já Ricardo Pompermaier, estrategista-chefe da Davos Investimentos, observa que “a percepção predominante entre analistas é que ele enfrenta um nível de rejeição elevado e tem dificuldade para ampliar sua base para além do eleitorado já alinhado à direita”.

“Esse aspecto importa porque reduz a competitividade da centro-direita e aumenta a chance de um segundo turno menos favorável para esse grupo. Quando o mercado identifica um candidato com baixa capacidade de crescimento, costuma aumentar a cautela, não necessariamente por preferência política, mas porque isso reduz a previsibilidade sobre qual agenda econômica pode prevalecer no próximo governo”, disse Pompermaier.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital, afirmou que o mercado esperava um “apoio forte” de Bolsonaro para o atual governador de São Paulo. “Tarcísio era mais agradável para o mercado pela austeridade fiscal e capacidade gerencial administrativa durante o governo em São Paulo”, destacou.

Teste de fogo?

Na avaliação de Erich Decat, head de análise política da Warren Investimentos, a eventual candidatura de Flávio Bolsonaro é um “balão de ensaio: uma tentativa de recolocar Bolsonaro no centro do processo decisório da direita e forçar os dirigentes do centrão a considerarem que o ‘jogo’ ainda não está resolvido”.

“Do ponto de vista analítico, uma decisão dessa magnitude não seria anunciada via off a um único veículo [de imprensa]. É pequeno demais para o modus operandi da família Bolsonaro, e para o peso simbólico que tal escolha teria dentro da direita”, disse Decat.

O analista também afirmou que “a simples circulação dessa informação já cumpre o papel de tensionar o ambiente e reposicionar atores”. Para ele, a candidatura de Flávio ainda precisa decantar antes de ser tratada como um movimento concreto e “há muita água para passar debaixo da ponte” até o início oficial do ciclo eleitoral.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, também compartilha da mesma visão. “Acredito que o desejo de Jair [Bolsonaro] de lançar o filho Flávio seria mais para testar o nome dele nas pesquisas de intenção de voto e, a partir de agora, ver o quanto ele [Jair] conseguiria ‘transferir’ votos para o filho.”

Ibovespa derrete, dólar e DIs disparam  

Nos mercados, o Ibovespa (IBOV) perdeu mais de 7 mil pontos, depois de ter renovado a máxima histórica no nível dos 165 mil pontos em apenas três horas de negociações. Após a confirmação de Flávio Bolsonaro, o principal índice da bolsa brasilera passou a cair mais de 4%, aos 157 mil pontos. 

O principal índice da bolsa brasileira terminou as negociações com queda de 4,31%, aos 157.369,36 pontosUma perda acima de 4% não era vista desde 22 de fevereiro de 2021, quando o índice caiu 4,87%.

Com a escalada da cautela, com a percepção de uma direita “enfraquecida”, o dólar à vista superou a casa de R$ 5,40. A divisa norte-americana bateu a máxima intrada a R$ 5,4840 (+3,27%) e encerrou a sessão a R$ 5,4318 (+2,29%).

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A curva de juros futuros também acelerou os ganhos, com abertura de mais de 20 pontos-base no curto prazo. No mesmo horário, o contrato da taxa de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027, de curtíssimo prazo, fechou a 13,79% ante o ajuste anterior de 13,55%. Já o DI para janeiro de 2030, de médio prazo, terminou a sessão a 13,36% ante 12,77% do ajuste anterior. O DI para janeiro de 2035, de longo prazo, encerrou a 13,57%, ante 13,01% do fechamento anterior.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Compartilhar

WhatsAppTwitterLinkedinFacebookTelegram
Repórter
Jornalista formada pela PUC-SP, com especialização em Finanças e Economia pela FGV. É repórter do MoneyTimes e já passou pela redação do Seu Dinheiro e setor de análise politica da XP Investimentos.
Jornalista formada pela PUC-SP, com especialização em Finanças e Economia pela FGV. É repórter do MoneyTimes e já passou pela redação do Seu Dinheiro e setor de análise politica da XP Investimentos.

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies.

Fechar