Ibovespa com Lula: Índice vai derreter no primeiro ano do governo petista?
O Ibovespa termina 2022 com um gostinho amargo. O índice, que chegou a ultrapassar os 120 mil pontos em abril, devolveu parte dos ganhos e encerrou o ano estável, com elevação de 4%.
No começo de 2022, a expectativa era de que a Bolsa subisse a 130 mil pontos. Porém, analistas já alertavam para o ano difícil diante do período eleitoral. E foi o que aconteceu, principalmente com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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A PEC da Transição, que permitiu ao governo eleito cumprir promessas de campanha, como o Bolsa Família em R$ 600, assustou parte do mercado, que viu na medida a volta da gastança do governo de Dilma Rousseff.
Somado a isso estão as incertezas com o novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e com as estatais, Petrobras (PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3).
“O processo eleitoral tumultuado e as notícias negativas vindas do exterior ajudaram a aumentar a cautela de investidores, empurrando a bolsa para baixo. Por outro lado, as oportunidades voltaram a aparecer”, observa Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management.
Para 2023, no entanto, analistas seguem pessimistas, ressaltando que os riscos diante do novo governo continuam.
Novo governo ainda é ponto de interrogação
Historicamente, o Ibovespa teve um desempenho formidável durante a primeira e a segunda gestão do governo Lula. Entre 2003 e 2007, o índice disparou 447% e mais 40% entre 2007 e 2010.
Apesar disso, para os próximos anos, é difícil que esse desempenho se repita. Isso porque o Brasil contou com ajuda externa durante o período, com a expansão das commodities. Em 2023, o cenário é de juros alto, baixo crescimento e recessão, com uma China mostrando sinais de fraqueza econômica.
“Neste momento, a única certeza é que entraremos em 2023 ainda sob a influência de um cenário macroeconômico repleto de desafios”, escreve a NuInvest em relatório de perspectivas.
Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, calcula que o índice deverá ficar entre 110 a 120 mil pontos para este ano.
“Não acreditamos que 2023 será um bom ano para a bolsa porque a renda fixa está atrativa e a volatilidade vai continuar”, discorre.
A expectativa do mercado é que a Selic se mantenha em 13,75% até, pelo menos, julho. Porém, já há gestores prevendo aumento dos juros, caso o governo eleve os gastos.
A JGP Asset Management, por exemplo, adiou, em seu cenário-base, a data de início de cortes da Selic de maio para novembro, diante da PEC da transição com valor extra-teto maior do que o esperado.
A gestora prevê corte de 1 ponto percentual da Selic neste ano, para 12,75%. Mas o sócio e economista-chefe da casa, Fernando Rocha, ainda tem dúvidas.
“O que pode ajudar o Ibovespa é uma postura mais pragmática do novo governo, entendendo os incentivos de adotar uma postura mais fiscalista. Acreditamos que isto não deve ocorrer em um primeiro momento, podendo haver uma virada de chave conforme o risco de recessão aumente”, observa Komura.
Matheus Spiess, analista da Empiricus, diz que Lula terá desafios, como a alta rejeição de parte do eleitorado.
“Pode ser um governo medíocre, mas como tem 6 anos para maturar as reformas, talvez essa mediocridade possa cair bem”, acrescenta.
Ibovespa barato; vale o risco?
Apesar disso, parte dos analistas ouvidos pelo Money Times mantém certo otimismo com o Ibovespa, muito em função do seu preço. A percepção é que a bolsa caiu demais.
“O Ibovespa segue barato, já que os fundamentos de boa parte das empresas não se alteraram mesmo com contexto de incerteza econômica local, e muitas empresas tem se mostrado resilientes aos mais variados cenários”, argumenta Sidney Lima, analista da Top Gain.
Atualmente, excluindo Petrobras e Vale, a bolsa negocia a 8,9 vezes preço sobre o lucro projetado de 12 meses, abaixo da média histórica de 12,5x o múltiplo.
Adicionando a Petrobras e Vale, a diferença é ainda maior, com as ações negociando a 6,9x P/L projetado de 12 meses contra os 11,1x P/L da média histórica.
Outro ponto é que parte dos analistas ainda esperam uma melhora no ciclo altista de inflação e taxa de juros.
“Com a melhora, os ativos de risco devem voltar a ter uma melhor atratividade”, diz Mario Mariante, analista-chefe da Planner Corretora.
O analista também afirma que o Ibovespa segue barato, já que os fundamentos de boa parte das empresas não se alteraram mesmo com contexto de incerteza econômica local, e empresas tem se mostrado resilientes aos mais variados cenários.
A Órama vê uma melhora de perspectiva em 2023, com índice batendo em 132 mil pontos, dado um P/L muito abaixo da média histórica e, principalmente, descontado em relação aos pares internacionais.
“Além disso, admitindo que a situação fiscal do país seja a principal vulnerabilidade econômica, nosso cenário de referência admite que o novo governo tende a adotar uma postura de responsabilidade, abrindo espaço para recomposição dos preços da nossa bolsa, mesmo com um quadro externo mais desafiador, de menor crescimento global, inflação e juros elevados”, coloca.
Estrangeiros podem salvar Ibovespa?
A grande esperança para o índice, no entanto, repousa no investidor estrangeiro. Durante a corrida eleitoral, os gringos foram mais favoráveis ao governo Lula devido às pautas ESG.
“Estrangeiros no Ibovespa podem ser o grande nome em 2023. O problema é que quando o mundo vai mal, nós também vamos”, observa Spiess, da Empiricus.
Para ele, talvez haja uma recessão, mas menor que em 2008.
“O novo equilíbrio será de mais inflação e mais juros. O problema é se isso torna o Brasil mais atrativo. O Brasil é um país barato para o mundo”, coloca.
O NuInvest também vê uma boa expectativa sobre a vinda de fluxo de investidores estrangeiros para a bolsa brasileira, “o que ajudaria na recuperação”.
“Se de um lado, o risco fiscal atrapalha, do outro, o Brasil está relativamente bem ante os pares, já que está difícil investir em países como China, Rússia e Índia“, discorre.
Na visão de Mariante, da Planner, o fluxo de capital estrangeiro da bolsa foi positivo em 2022 e deve seguir dessa forma em 2023.
“O Brasil saiu na frente dos demais países com relação ao aumento de juros para segurar a inflação, e é de se esperar que comece a colher frutos antes dos demais. Um ciclo baixista para juros e inflação antecipado para o cenário doméstico deve continuar atraindo o investidor estrangeiro”, argumenta.
Já Gonçalvez, da Box Asset Management, lembra que o momento atual é de boas oportunidades na bolsa para quem tem visão de médio e longo prazo.
“Muitos papéis se encontram descontados e com múltiplos atrativos, o que deve seguir atraindo o fluxo de capital estrangeiro no ano que vem”, completa.