Comprar ou vender?

Ibovespa: ‘A bolsa está barata, mas pode continuar assim por muito tempo’, alertam gestores

26 out 2022, 12:00 - atualizado em 27 out 2022, 16:47
Alphatree
Jonas Doi (à esquerda) e Rodrigo Jolig (à direta) seguem céticos com a bolsa brasileira, mesmo com a alta dos últimos meses (Imagem: Divulgação)

A Alphatree, dos gestores Rodrigo Jolig, ex-Morgan Stanley, e Jonas Doi, ex-Verde Asset, que juntos somam 36 anos de experiência no mercado financeiro, comemora um ano com mais acertos do que erros, nas palavras dos próprios fundadores, que conversaram com o Money Times.

Com R$ 460 milhões sob gestão, nesse ano, o fundo multimercado Alphatree FIC FIM acumula rentabilidade de 24%, mais que o dobro do CDI, seu benchmark, que subiu 10,9% no mesmo período.

A aposta, segundo a dupla, é buscar retornos em ativos não correlacionados ao mercado tradicional.

“A ideia é que ganhemos dinheiro com a bolsa caindo ou subindo. Usamos a nossa expertise para diversificar em ativos do Brasil e também ativos disponíveis lá fora. Fundos americanos, petróleo, iene, juros na China, temos diversificação global”, coloca o Jolig.

E, diferente de parte do mercado, os gestores ainda seguem céticos em relação à bolsa brasileira, embora tenham comprado ‘um pouquinho’ nos últimos meses.

“A bolsa brasileira está barata e já tem dois anos. Nada me leva a crer que ela deixará de ficar barata”, diz Jolig.

Veja a seguir os principais pontos da entrevista, que ainda falaram sobre petróleo, juros e eleições no Brasil.

As estratégias do fundo

Jonas Doi: Qual é sacada dos multimercados aqui no Brasil? Você já tem a taxa de risco alta. Esses fundos miram ganhar um retorno acima dessa taxa básica de juros. Ele mira ter um retorno a mais do que esse CDI.

Quando criamos a Alphatree, poderíamos ter feito várias estratégias como produtos. Mas dado que esperávamos uma normalização de taxa de juros não só no Brasil como no mundo, o melhor produto para se proteger das taxas de juros subindo é o multimercado, não tem como fugir disso.

Os fundos de bolsa, eles não te protegem porque o benchmark é bolsa e bolsa cai em um mundo que a taxa de juros está mais alta.

Por mais que esteja batendo o benchmark, o benchmark dele está caindo. O CDI não. Ele sobe.

A graça do multimercado é que podemos fazer apostas em que você não consegue fazer em produto passivo. Passamos um bom tempo vendido em bolsa. Ganhamos dinheiro quando a bolsa estava caindo.

Hoje, estamos vendidos no S&P. Ficamos tomados em juros americana, ou seja, com os juros americano subindo, lucramos.

Criamos o hedge fund  para ter uma proteção de um mundo muito diferente do que foi há cinco anos, que é um mundo inflacionário.

É um projeto de longo prazo, de 20, 30 anos. Com as pessoas migrando para a renda fixa, elas vão procurar fundos que rendam mais que o CDI.

Bolsa tá barata?

Rodrigo Jolig: As pessoas chegam à conclusão que bolsa no Brasil está barata quando olham para as bolsas lá fora. As bolsas no exterior participaram de um rali muito forte, com múltiplos crescendo.

A bolsa brasileira ficou um pouco para trás nesse rali, e um dos motivos é o juros ser mais elevado. A bolsa brasileira está barata porque as bolsas lá fora subiram muito. As bolsas lá fora vão corrigir e não vemos muito upside (valorização) na bolsa brasileira.

Vemos mais downside (queda) lá fora do que aqui nessa correção. Se bolsa brasileira está barata, talvez o mundo inteiro fique barato. A bolsa brasileira está barata e já tem dois anos.

Nada me leva a crer que ela deixará de ficar barata. Em um cenário de juros subindo no mundo, o Fed cada dia mais vocal, comprometido em combater a inflação nos Estados Unidos.

Os demais BCs terão que seguir de uma forma ou de outra. É um ambiente muito difícil para ativos de risco.

Jonas Doi: Somos até comprados em bolsa brasileira, mas com uma parte pequena, de 5%. E mais 10% comprados em alguns nomes específicos, como Petrobras. Ao mesmo tempo, somos vendidos em bolsa americana.

Lula X Bolsonaro
“Terá pouca diferença, com um movimento mais abrupto para estatais em caso de vitória de Lula”, explica o gestor (Imagem: REUTERS/Adriano Machado e Ueslei Marcelino)

Eleições: Lula ou Bolsonaro?

Jonas Doi:  Se for Bolsonaro, o Brasil não terá um grande problema. Se for o Lula, o Brasil também não terá um grande problema.

Terá pouca diferença, com um movimento mais abrupto para estatais, em caso de vitória de Lula.

O ponto é que a Câmara ganhou mais relevância. A Câmara tomará conta da pauta. Então tudo que vamos colocar aqui sobre Lula ou Bolsonaro é uma conjectura vazia na nossa opinião. O Lula não sabemos quem será o ministro da Economia.

Se for o Henrique Meirelles será bom, se for uma economista menos liberal será complicado para conseguir sustentar a economia.

Mesmo o Bolsonaro tomou medidas mais populistas de desonerar combustíveis. À luz de hoje, não é tão óbvio dizer que um é muito superior ao outro.

Obviamente, no dia seguinte das eleições, se for Bolsonaro, o dólar deverá abrir um pouco melhor, mas nada extraordinário.

E se for o Lula, talvez a bolsa possa ir um pouco pior. Mas no longo prazo, ninguém vai quebrar o país ou terá um plano extraordinário.

É um pouco mais dependente de quem será o presidente da Câmara, quais serão as pautas, se vamos continuar sendo reformistas, se teremos esse PIB.

O mundo parece mais relevante para médio e longo prazo do que se vai ser Lula ou Bolsonaro.

“Quando você torcendo muito para parar o movimento, o movimento tente a continuar. Está todo mundo precisando de petróleo”, diz

Petróleo a US$ 60?

Rodrigo Jolig: O mercado ainda é apertado. Os Estados Unidos vão começar a recomprar petróleo para incentivar os produtores. A Opep está cortando. Tivemos anos sem investimentos.

Jonas Doi:  Quando você torce muito para parar o movimento, o movimento tende a continuar. Está todo mundo precisando de petróleo. Está demorando para o petróleo ficar mais barato e ninguém tem petróleo.

Rodrigo Jolig:  Sobre a recessão em si, o mercado tem reagido muito melhor do que qualquer pessoa esperava. O juros nos EUA já está em 4% e você vê o consumidor forte. Então, acho que estamos um pouco longe da recessão. Não vejo o petróleo caindo muito.

Acertos e erros do fundo: o que fariam diferente?

Rodrigo Jolig: Começamos o fundo de quando a inflação já estava vindo de uma forma mais expressiva, estávamos com a cabeça de que isso iria acontecer no mundo inteiro e as posições do fundo refletiram isso.

Tínhamos petróleo, estávamos apostando na alta dos juros nos Estados Unidos e isso se materializou. Talvez tenha faltado algum time, mas ficamos felizes de saber que a tese de materializou.

Jonas Doi: Quando o fundo começou, o Brasil já tinha largado na frente na política monetária e era uma tese que tínhamos antes do fundo começar, de que com a taxa de juros no Brasil mais alta, o dólar real iria se beneficiar muito.

Tínhamos o ‘parzinho’ de vender dólar e vender bolsa, e lucramos muito no começo do fundo. Isso foi bem operado.

Hoje somos comprados em dólar. Fora essa tese central nossa de que a inflação depois do choque na pandemia está forte no mundo como um todo e deverá ser mais persistente do que imaginávamos, na visão de que temos um choque no petróleo, por exemplo, em algo parecido com 1970.

Nesse primeiro ano, tivemos muito mais acertos que erros. Mas tivemos erros de time. Acertamos com o yuan e as Treasuries também.

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