Ibovespa: 4 motivos para crer numa virada da Bolsa em 2023 (e como ganhar com ela)
Raras vezes nos últimos 20 anos foi possível observar valuations tão atrativos no Ibovespa. Em poucas oportunidades, o Ibovespa esteve tão barato, e fatores externos contribuem para um 2023 positivo. Por outro lado, o governo eleito parece, até o momento, estar deixando passar uma oportunidade de ouro que se apresenta ao Brasil e aos ativos negociados na B3.
Somente na crise do subprime, em 2008, na grande recessão da era Dilma, em 2015, na greve dos caminhoneiros, em 2018, e no ápice da crise de Covid foi possível identificar ações tão baratas, segundo o sócio-fundador e estrategista chefe da Empiricus, Felipe Miranda.
Além de uma B3 excessivamente descontada, vários fatores referentes ao cenário macroeconômico global contribuem – e muito – para uma possível virada da B3 em 2023. Vamos a eles:
1 – Onda de autocracias locais
Um dos fatores diz respeito à onda de autocracias locais, como Xi Jinping, na China, Putin, na Rússia e Erdogan, na Turquia, que faz com que o mundo dê mais crédito aos países democráticos.
“Ninguém quer mais confiar no Xi Jinping. Então você precisa reorganizar a cadeia de suprimentos global, impondo uma necessidade de reindustrialização do ocidente. É melhor confiar no Brasil e no México, por exemplo, do que na China. E isso é uma oportunidade gigante que se apresenta para o Brasil”, analisa Felipe.
2- Reabertura da China
A China tem dado, nas últimas semanas, sinais de que Xi Jinping finalmente cedeu aos apelos populares contra a política de ‘Covid 0’ no país. Com a menor projeção de crescimento do PIB desde 1976 (sem contar 2020, auge da pandemia), o presidente afrouxou algumas medidas impostas pelo estado no combate ao vírus.
“Já se trabalha com uma meta de crescimento de 5% na China em 2023. Se confirmado, isso pode voltar a alimentar o preço das commodities, sobretudo minério de ferro e petróleo (por conta da maior circulação), e devolver fluxo de recursos para mercados emergentes, enquanto os desenvolvidos sofrem com a recessão iminente”, explica Felipe Miranda.
A China é a principal parceira econômica do Brasil. Portanto, não é segredo que a reabertura do país asiático resulta em um fluxo de recursos significativo entrando no país. Na B3, as empresas – principalmente as de commodities – devem sentir o impacto positivo do “retorno” da China às atividades.
3- 2023: o ano dos países emergentes?
Por falar em mercados emergentes, muitos estrategistas colocam 2023 como ‘o ano dos países emergentes’. Por quê?
Os países desenvolvidos lutam para combater a inflação. Nos Estados Unidos, o índice atingiu o maior nível dos últimos 40 anos. Na Europa, desde que o euro foi criado, a inflação nunca esteve tão alta. A recessão – contração da economia – é iminente, tanto nos EUA quanto na UE.
Para Felipe Miranda, o mundo “gostaria de abraçar o Brasil”, que, até o momento, não tem agarrado a oportunidade.
“Lula foi celebrado no COP-27 e poderia receber investimentos interessados na mudança climática e na transição energética Além disso, o planeta precisa de energia e comida, que temos em abundância”.
Prova das “boas intenções” dos investidores estrangeiros com relação ao Brasil é que, no dia seguinte da eleição de Lula, quase R$ 2 bilhões de investidores gringos entraram no país.
4- Ibovespa e queda dos juros em 2023
Até pouco tempo atrás, era consenso que a taxa Selic cairia no ano que vem. Caso isso ocorra, a mesma sensibilidade que penalizou os ativos de risco brasileiros – principalmente as small e microcaps, pode atuar a favor em 2023.
Agora, a realidade é outra. Desconfiados com as primeiras sinalizações de desrespeito à política fiscal do governo eleito, os investidores estrangeiros e locais estão com o “pé atrás”.
Com a PEC da Transição aprovada, o mercado deve continuar precificando a volta do ciclo de alta da Selic no início do ano que vem.
O trecho abaixo do Day One, escrito por Felipe Miranda, ajuda a entender quais as consequências do ‘furo’ no teto fiscal:
“Por mais bem intencionadas que possam ser as palavras de Lula, ”cuidar do pobre” sem espaço no orçamento aumenta o risco fiscal, o que se traduz em mais taxas de juro, e eleva as expectativas de inflação, porque o governo sempre poderá, num ato inflacionário, emitir mais moeda para cumprir seus compromissos financeiros. Mais juros implicam menos investimentos, menos crescimento e mais desemprego. Mais inflação aleija justamente as classes mais pobres, desprovidas de alternativas para blindar seu patrimônio. Os rentistas estão lá protegidos no paraíso dos juros altos e nos altos juros reais da NTN-B. Uma opção pela maior concentração de renda, em tese o oposto do desejo original da esquerda. Lei das consequências indesejadas”.
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