Economia

Atividade econômica no Brasil tem contração acima do esperado em agosto, aponta BC

15 out 2021, 9:25 - atualizado em 15 out 2021, 11:05
Banco Central
Na comparação com agosto de 2020, o IBC-Br avançou 4,74% (REUTERS/ Ueslei Marcelino)

A atividade da economia brasileira contraiu em agosto pela primeira vez em três meses e com mais força do que o esperado, de acordo com dados divulgados pelo Banco Central nesta sexta-feira, interrompendo a recuperação em um cenário repleto de incertezas no país.

O BC informou que seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), considerado sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), teve recuo de 0,15% em agosto na comparação com julho, segundo dado dessazonalizado.

O resultado foi pior do que a expectativa em pesquisa da Reuters de perda de 0,05%.

Em um cenário de inflação e desemprego elevados, aumento de custos e restrições de oferta, além de alta na taxa básica de juros, a atividade voltou ao vermelho em agosto pela primeira vez desde maio.

Além disso, o resultado de julho foi revisado com força para baixo pelo BC, passando a um crescimento de 0,23% depois de ter informado originalmente avanço de 0,60%.

Na comparação com agosto de 2020, o IBC-Br avançou 4,74%, enquanto no acumulado em 12 meses passou a uma alta de 3,99%, segundo números observados.

O cenário ainda é de fortes incertezas e ruídos políticos, com o ano eleitoral cada vez mais perto, e o país vem registrando ainda piora na confiança do consumidor e das empresas, apesar do avanço da vacinação contra a Covid-19.

“A aceleração da inflação, aumento da taxa de juros, problemas na cadeia de oferta impactando o setor industrial, ruído político e incertezas, e a interrupção da tendência de alta na confiança do consumidor e das empresas podem limitar a alta”, alertou o chefe de pesquisa econômica do Goldman Sachs (GS) para a América Latina, Alberto Ramos.

O BC passou a ver crescimento do PIB este ano de 4,7%, reduzindo a conta ante taxa de 4,6% antes, e em sua primeira projeção para a economia em 2022 calculou uma expansão de 2,1%.

A autoridade monetária alertou que o ciclo de elevação da taxa básica de juros conduzido para domar uma inflação descrita como “intensa e disseminada” irá afetar a atividade no ano que vem.

Já os especialistas vêm piorando seu cenário para o crescimento do PIB brasileiro tanto para 2021 quanto para 2022, vendo taxas de crescimento respectivamente de 5,04% e 1,54% de acordo com a pesquisa Focus do BC.

Em agosto, tanto a indústria quanto o varejo pesaram negativamente sobre a atividade no Brasil. A produção industrial teve queda de 0,7% em relação ao mês anterior, acumulando em três meses perdas de 2,3% e permanecendo quase 3% abaixo do nível pré-pandemia.

Já as vendas no varejo tiveram em agosto queda inesperada de 3,1%.

Por outro lado, o volume do setor de serviços no Brasil cresceu 0,5% em agosto, no quinto mês seguido positivo que levou o setor ao patamar mais elevado em quase 6 anos.

Mirella Hirakawa, economista da AZ Quest, chamou a atenção para os impactos dos problemas globais de oferta, principalmente sobre o setor automobilístico.

“Não esperamos que esse setor ganhe tração ou se recupere de uma forma muito rápida dados os fatores globais, os problemas de oferta globais impactando a economia doméstica”, disse ela.

“Por outro lado, os serviços, que é um setor muito pesado na atividade no Brasil, tem uma recuperação melhor. Deve ser o principal, senão o único, corroborando com uma recuperação”, completou.

(Atualizada às 11:05)