Humberto Andrade: como CBDCs podem impactar o dia a dia de um cidadão comum?
Se você não é do criptomercado ou não acompanha as discussões em torno do desenvolvimento da economia digital, deve estar tentando entender o que significa “CBDC”.
CBDC é a sigla para “Central Bank Digital Currency”, ou Moedas Digitais de Bancos Centrais, em tradução livre.
Não sei se você sabe como funciona o mercado financeiro mas, se algum dia recebeu um dinheiro, seja na forma de cédulas ou moeda, você usou um produto de um Banco Central (BC).
O Banco Central tem a responsabilidade de emitir e gerenciar a moeda corrente em um país, com o intuito de garantir a estabilidade do poder de compra dessa moeda e melhorar o ambiente financeiro do país.
Embora o bordão “ouro vale mais que dinheiro” não esteja tão errado, você não consegue simplesmente pagar um quilo de feijão com ouro no supermercado. Você usa o real, caso esteja no Brasil, ou dólar, caso esteja nos Estados Unidos.
O fato é que se você não conseguir pagar com ouro, você pode efetuar um pagamento, no Brasil, usando o “Pix” que, embora seja dinheiro, não é a mesma coisa que o real físico.
O Pix é um dado virtual que corresponde, num controle operacionalizado pelo BC, à quantidade de reais que utilizados para realizar pagamentos.
O seu saldo no aplicativo do banco é dinheiro, mas também é um dado. E o Banco Central é o responsável por garantir que o seu banco esteja mostrando o valor que você depositou e que consiga sacar, caso precise.
O fato é que todo real conta com um número de série que é controlado pelo BC e, embora o Pix emule o real, você não consegue garantir quais foram as séries utilizadas para fazer sua transferência para realizar compras.
E como é que é possível garantir isso? Com a estrutura de CBDC!
Essa estrutura nada mais é do que a criação de dados oficiais do papel-moeda pelo BC. A China, por exemplo, já está com um plano avançado de implantação de sua CBDC, o yuan digital.
Muito se discute sobre como acontecerá a normalização de todas as particularidades de integração entre os sistemas financeiros e, principalmente, sobre as necessidades tecnológicas que circundam o desenvolvimento de uma CBDC.
Outro ponto importante a ser mencionado é que dizem que a CBCD possibilitaria o acesso e um maior controle aos gastos do cidadão por parte do governo — essa ainda é uma discussão que precisa ser mais debatida.
A tecnologia do Pix já proporciona esse conhecimento e controle por parte do BC. O Brasil tem, aproximadamente, 34 milhões de pessoas que não possuem acesso a serviços bancários e acabam sendo prejudicadas em diversas oportunidades do dia a dia.
Na minha opinião, a discussão em torno dos limites de controle não deve invadir a implementação ou desenvolvimento da CBDC, mas sim a pauta de proteção dos dados do cidadão.
É importante que a educação financeira também seja desenvolvida com o passo de implementação de um sistema desse nível por qualquer Banco Central. No final, é importante que tenhamos em mente quem realmente precisa ter controle sobre o que considera ou faz com seu dinheiro: nós cidadãos.
Humberto Andrade é analista de trading da MezaPro, unidade de negócios da 2TM voltada a clientes institucionais e de alta renda.