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Hora de fugir do Brasil? Não é o que diz JPMorgan; investidores procuram o país com apetite ao risco

20 abr 2023, 15:49 - atualizado em 20 abr 2023, 15:49
Ibovespa, Brasil
Investidores globais procuram Brasil e outros mercados emergentes com apetite ao risco (Imagem: Patricia Monteiro/Bloomberg)

Enquanto o mundo espera uma eventual recessão nos Estados Unidos entre o segundo semestre de 2023 e o primeiro de 2024 devido às altas taxas de juros, o destaque vai para a América Latina. É o que afirma o JPMorgan ao pontuar que a primeira escolha dos investidores são as taxas locais dos mercados emergentes, com México e Brasil sendo os preferidos para adicionar risco.

Segundo Cassiana Fernandez e a equipe de economistas do JP, o sentimento dos investidores globais em relação ao crescimento global é pessimista.

Mesmo na América Latina, onde os investidores enxergam maior oportunidade, os bancos centrais reforçaram a orientação de alta por mais tempo — mas há otimismo. “Diferentes pontos do ciclo de negócios e políticas permitirão que alguns países da região reduzam as taxas mais cedo do que outros”, dizem os economistas.

No Brasil, por exemplo, o Banco Central manteve um tom mais “agressivo” (hawkish) nos comunicados recentes, sugerindo que o trabalho ainda não está completo e destacando que a inflação permanece alta. O JP espera que o BC alivie as taxas apenas no fim do quarto trimestre de 2023.

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Brasil: Menos ruído político, mais dados macro

Os economistas do JPMorgan afirmam que, entre uma impressão abaixo do consenso para a inflação do Brasil e dias “mais calmos” na frente política, os ativos locais têm enxergado alívio e registram desempenhos positivos.

“Esse cenário mais calmo será testado nas próximas semanas, à medida que o Congresso discute não apenas a estrutura do novo arcabouço, mas também as medidas adicionais que serão necessárias para realmente entregar a consolidação fiscal prometida por Haddad”, pontuam.

De olho na inflação

Segundo o JP, a desaceleração da inflação de março reforça que o processo de desinflação está de fato em curso.

Os dados vão de encontro com a manutenção da projeção da gestora para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 5,5% ao fim do ano. “Continuamos antecipando uma inflação abaixo do consenso ao longo deste ano”, afirmam.

Os economistas, entretanto, modificaram a trajetória de inflação mensal. Em abril, é esperado que a inflação suba 0,50% (antes 0,52%), enquanto em maio e junho deve saltar 0,32% (0,28%) e 0,42% (0,23%), respectivamente.

As revisões são explicadas pelo aumento do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) estadual sobre a gasolina, dizem.

PIB vai subir?

Do lado da atividade, o relatório do Produto Interno Bruto (PIB) do JP indica que a atividade geral está se saindo melhor do que o sugerido. “O ponto positivo no último trimestre foi o agro, que está crescendo mais rápido do que pensávamos inicialmente e está impulsionando a balança comercial do Brasil”, destacam Fernandez e equipe.

Os economistas esperam que o setor agro cresça na casa dos dois dígitos em 2023. Ao juntar essa expectativa com o fato de maior parte da produção agrícola estar concentrada na primeira metade do ano, a gestora vê sua previsão de crescimento de 0,5% para o PIB (abaixo do consenso) deste ano em risco.

Do outro lado, a gestora se preocupa com as vendas fracas no varejo e os serviços em desaceleração. Segundo os economistas, a volatilidade em serviços e vendas decorre de mudanças no comportamento sazonal desde a pandemia.

Eles explicam que a flexibilização dos indicadores econômicos deve continuar, mas provavelmente de forma não linear.