Hora de arrumar a casa: MRV (MRVE3) pisa no freio, enxuga gastos e traz novo CEO para Resia
Uma das grandes dores de cabeça da MRV (MRVE3), a companhia de Rubens Menin completou a revisão estratégica de sua subsidiária nos Estados Unidos, a Resia, bem como sua estrutura organizacional e financeira, que envolve até a troca de CEO.
A companhia foi comprada em 2020 e é uma das principais queixas de analistas devido a sua queima de caixa. Chegou-se a especular, inclusive, em uma possível venda da companhia, o que não ocorreu.
Entre as medidas, está a venda de sete projetos, dos quais seis estão prontos e um em construção, ao longo dos próximos 24 meses e a desmobilização de mais de 60% do landbank (banco de terrenos), com expectativa de vendas em torno de US$ 800 milhões até o final de 2026.
A Resia também reduzirá seu ritmo de lançamento para um número mínimo de propriedades de “alta rentabilidade” nos próximos dois anos. O investimento, segundo a construtora, virá do landbank atual, além de US$ 20 milhões de capital adicional e US$ 120 milhões de dívida de financiamento à construção neste período.
O início de novas obras da empresa só ocorrerá se a execução do plano de desinvestimento for bem sucedida.
Além disso, a companhia também enxugará as despesas gerais e administrativas (G&A) de US$ 35 milhões anuais para menos de US$ 10 milhões já em 2025.
Como consequência dessas medidas, a expectativa é que a alavancagem reduza em aproximadamente US$ 480 milhões e que sejam gerados net proceeds (montante total de dinheiro obtido com uma transação) em torno de US$ 200 milhões até o final de 2026.
“A nova estratégia reflete nossa visão mais conservadora quanto à alocação de capital e o compromisso da companhia com a busca por eficiência operacional e financeira. As mudanças têm como foco simplificar a operação, liberar capital e fortalecer a geração de caixa”, diz.
Novo CEO
Para liderar esta nova fase, a Resia trouxe Leonardo Guimarães Correa, que se mudou para Miami para comandar o processo de reestruturação e venda de ativos, e Ricardo Blás, que irá liderar a área de operação.
O atual CEO da Resia, Ernesto Lopes, deixará o cargo no final de 2024, visando perseguir projetos pessoais.
Adicionalmente, Matias Rotella, CEO da holding da família Menin e ex-managing director da Goldman Sachs, e Nicola Calicchio, vice-presidente do conselho da MRV&Co e ex-CEO da McKinsey na América Latina, contribuíram para a elaboração desta nova estratégia e irão apoiar a companhia na implementação destas medidas.
Queima de caixa constante
A Resia é sempre citada nos resultados da MRV, mas não por bons motivos. No terceiro trimestre, a subsidiária teve prejuízo de R$ 52,3 milhões.
No acumulado de 2023, a queima de caixa chegou a R$ 332 milhões, com um consumo adicional de R$ 443 milhões em um trimestre específico, puxado pela falta de lançamentos e vendas de empreendimentos, impactando negativamente os resultados consolidados da MRV.
Para 2024, a empresa declarou o objetivo de alcançar uma “queima de caixa zero” para a Resia. A estratégia inclui somente iniciar projetos que tenham financiamentos firmemente garantidos, além de buscar maior eficiência nas operações.
O gestor Cesar Paiva, em evento do Bradesco Asset ocorrido no mês passado, lembrou que Résia era uma operação que fazia sentido com juros longos e baratos nos EUA. “Mas quando o juro subiu para 5%, o cenário se tornou um desastre. Agora estão tentando resolver esses problemas”, afirma.
Apesar disso, já em 2023 a MRV fez um ano bom, 2024 está sendo “maravilhoso” e 2025 deve ser “muito bom”.
“A empresa já deu um guidance para o mercado, não que eu acredite, mas para ilustrar os números deles: eles imaginam que vão entregar um lucro de R$ 1,5 bilhão em 2026. Atualmente, estão negociando a R$ 3,9 bilhões, o que daria uma relação preço-lucro de 3,1 vezes”.
Em sua visão, talvez a MRV esteja negociando a quatro vezes o lucro.
“Portanto, é aquele momento de comprar uma empresa que, embora no momento a foto seja feia, pode ser uma boa oportunidade, pois você paga bem barato, mas o futuro (o “filme”) pode ser muito melhor. A Résia, inclusive, é uma boa ideia, mas a empresa é sólida e confiável”.