Hora da verdade: alta do petróleo põe pressão sobre governo e ações da Petrobras (PETR4)
Os contratos futuros de petróleo avançam nesta quarta-feira (19), surfando na tendência de alta das últimas semanas.
Por volta das 14h, 0 Brent subia 0,69%, aos US$ 80 por barril, e o WTI avançava 0,70%, US$ 76 por barril.
Os mercados da commodity energética reagem positivamente às promessas de mais estímulos da China, em meio aos sinais de fraqueza econômica. A segunda maior economia do mundo vem de uma leitura de PIB aquém do esperado, fato que motivou novas declarações de autoridades chinesas para apoiar o consumo doméstico.
À CNN Business, o analista de commodities da Moodle Analytics comenta que o país ainda não conseguiu superar a ressaca da pós-pandemia, a despeito de um início de ano sedutor. O represamento do consumo interno, com efeitos em diversos setores, tem mantido a demanda por combustíveis mais baixa.
Além da perspectiva de mais incentivos na China, a pressão de alta no preço do barril se deve à possibilidade de mais cortes de produção por parte de produtores importantes. O ministro da Energia da Rússia, Nikolay Shulginov, informou nesta semana que o país irá diminuir – em 2,1 bilhões de barris por dia – a sua exportação prevista para o terceiro trimestre.
Segundo o ministro, a estimativa estaria em linha com o corte voluntário de 500 mil barris por dia anunciados anteriormente e que passam a valer a partir do mês que vem.
A elevação do Brent a zona dos US$ 80 é um objetivo de curto-prazo não-declarado para a Opep+, que tem empenhado desde outubro do ano passado um ciclo de cortes. A última decisão nesse sentido foi tomada no início de junho, quando a Arábia Saudita, líder do cartel, decidiu por um corte voluntário de 1 milhão de barris por dia.
Se a tendência de alta corrente do petróleo é um resultado comemorado por parte dos países produtores, que podem ver um aumento de receita com a exportação da commodity, do lado daqueles que necessitam importar energia, a inflação de combustíveis pode voltar a preocupar.
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Aumenta pressão para Petrobras e para o governo
De acordo com a Associação Brasileira de Importação de Combustíveis (Abicom), o preço nacional para gasolina e diesel, praticado nos polos refinadores da Petrobras (PETR4), está cerca de 15% abaixo do preço de equilíbrio. Isso se a estatal ainda considerasse exclusivamente o PPI (paridade de preço internacional) como norte para a formulação dos preços.
A estratégia comercial da petroleira mudou em maio e passou a usar referências de mercado como: o custo alternativo do cliente, como valor a ser priorizado na precificação, e o valor marginal para a Petrobras.
A variável internacional ainda é citada como parte da fórmula, mas não é claro o quanto ela significa para o cálculo final.
Em entrevista concedida ao Money Times, Pedro Rodrigues, especialista e sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), salienta que a nova política de preços seria testada somente quando o petróleo engatasse uma tendência de alta. Este momento pode ter chegado.
“Acho que será um teste de fogo [cortes na produção] para essa nova política, porque hoje a defasagem da gasolina está muito alta”, comentou Rodrigues em junho. Na avaliação da Abicom, não há dúvidas de que o mercado internacional e o câmbio estão pressionando o mercado doméstico.
Apesar das indicações de alta no preço internacional do petróleo, a estatal tem trilhado o caminho contrário e feito cortes no preço dos principais derivados de petróleo.
Ainda hoje, a empresa anunciou que irá reduzir o preço do gás natural para distribuidoras em 7% em relação ao trimestre de maio-junho-julho. Com essa atualização, o preço do gás natural vendido pela Petrobras para as distribuidoras acumulará redução de aproximadamente 25% no ano.
O descompasso entre a redução do preço de derivados e a tendência de alta do petróleo no mercado internacional pode estar pressionando as ações da Petro. No último mês, a ação PETR4 caiu cerca de 5,14% e hoje está cotada a R$ 28,65.
Segundo analistas do mercado, o movimento recente acende a desconfiança sobre um crescimento na interferência do governo, que tem interesse na queda dos preços, sobre a prática corporativa da companhia.