Home office, transgêneros, propósitos: Como o RH pode ajudar sua empresa em tempos de mudança
O mundo tem mudado de uma forma que está difícil acompanhar. Não só as transformações estão mais rápidas e intensas, como também mais complexas e frequentes. Temos de lidar com fatos novos em praticamente todas as esferas, do meio ambiente às manifestações populares, da tecnologia à política. Muitas das movimentações ainda não conseguimos compreender.
O avanço global da ideologia da extrema direita, conservadora nos costumes, é algo que tem intrigado pesquisadores mundo afora. Ao mesmo tempo, o número de jovens que se identificam como transgêneros quase dobrou nos Estados Unidos nos últimos anos, segundo uma pesquisa encomendada pela CDC, a agência de saúde americana.
O estudo antecipa a tendência de uma sociedade que abraça diversas identidades de gênero – além do binário homem-mulher. A rotina das famílias “poliamorosas” (nas quais indivíduos dos mais variados perfis se unem para dividir a casa, a criação dos filhos e a vida conjugal) e a rede de serviços que surge para atender esse público foi destaque na revista New Yorker, de março de 2021.
Na tecnologia, igualmente temos de lidar com fenômenos que não existiam no passado. Por exemplo, a deep fake, a ferramenta que cria vídeos falsos de altíssima qualidade, quase impossíveis de serem identificados como fraude.
Aprendemos sobre deep fake depois que um vídeo de um Tom Cruise supostamente embriagado viralizou na internet – atingindo mais de 11 milhões de visualizações. Já houve até o caso de uma startup que nomeou um CEO de “mentirinha” e de uma empresa que perdeu milhões de dólares por ter caído no golpe de um falso CEO, fabricado por um sistema de deep fake.
No trabalho, vivemos a mudança mais radical no começo da pandemia da covid-19, quando centenas de milhares de funcionários de escritórios foram enviados para casa para realizar suas funções de lá, isolados dos colegas e longe do olhar do chefe. Nunca ninguém tinha imaginado que tal feito seria possível. E, por mais que os CEOs critiquem o remoto, nenhuma empresa deixou de existir por ter seus profissionais trabalhando de chinelo e moletom, de casa.
Mundo em transformação chega ao ambiente de trabalho
Todas essas transformações nos fazem refletir sobre o mundo que nos cerca e sobre nossa vida – na qual a esfera do trabalho tem um papel importante.
Não à toa, durante a pandemia também começou o movimento chamado de Great Resignation, quando um número recorde de pessoas (inclusive no Brasil) decidiu pedir demissão. O motivo de saída não vinha de uma fonte de insatisfação específica (o salário, o chefe, o emprego em si), mas de um conjunto de fatores complexos, ligados à rotina exaustiva, à falta de propósito, ao desejo de mudar.
As mudanças, de um lado, assustam. Nossa primeira reação é querer voltar à zona de conforto, ao que conhecemos. Essa, aliás, é uma teoria para justificar o avanço global da extrema direita: sem entender as transformações da sociedade, alguns buscariam alento nas ideologias tradicionais. E talvez aí também esteja a razão para tantos CEOs estarem pressionando os funcionários para voltarem ao escritório. Sem ter ideia de como será a relação de trabalho daqui para frente, o mais seguro é retroceder dois passos.
Mas, uma vez dada a ignição, a reviravolta não tem volta.
Assim, a melhor forma de lidar com as transformações é observá-las, estudá-las e, na medida do possível, acompanhá-las. Isso requer flexibilidade. Não é porque o trabalho foi sempre feito debaixo de um mesmo teto que ele só pode ser executado assim. Não é porque nos foi dito que a família é composta por um homem, uma mulher e seus filhos, que esse é o único arranjo permitido.
Outro ponto fundamental é que as empresas parem de se enxergar como um núcleo à parte da sociedade. Ainda hoje, muitos executivos se preocupam com a mudança de comportamento dos consumidores e, com base em pesquisas, criam produtos e serviços que atendam às novas demandas.
Mas quantos se interessam em conhecer se os benefícios oferecidos aos funcionários estão alinhados com o perfil das pessoas que ali trabalham? Será que o plano de saúde corporativo aceita a inclusão de dependentes do mesmo sexo? E será que a empresa está preparada para incluir profissionais trans?
Aqui, citei apenas alguns exemplos de transformações. Existem muitos outros. O importante é que os líderes de negócios e os responsáveis pela gestão de pessoas entendam que todos os fatores estão conectados.
Se as companhias continuarem se vendo como separadas da sociedade, vão apenas gerar resistência e conflito. Mas se também se posicionarem como um elemento aberto às novidades, vão conseguir enxergar as oportunidades e continuar evoluindo – como a sociedade.
Tatiana Sendin é fundadora e CEO da Think Work. Jornalista especializada em negócios e recursos humanos, nos últimos 20 anos, tem escrito sobre carreira, mercado de trabalho, gestão de pessoas, empreendedorismo e tecnologia.
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