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A História e a Saga da Fábrica de Brinquedos Estrela

14 dez 2017, 21:50 - atualizado em 14 dez 2017, 21:50

Por Giancarlo Pereira, Professor e Pesquisador em Planejamento e Predição

A Estrela iniciou suas atividades na zona leste de São Paulo, no bairro do Belém, em 1937, seu fundador foi Siegfried Adler, um alemão que buscava ganhar a vida na cidade. O empresário viu em uma pequena fábrica falida de bonecas de pano e carrinhos de madeira uma possibilidade de negócio. Investindo todo seu dinheiro em tempo para criar uma marca que fosse referência na infância dos brasileiros, Adler foi o responsável por lançar a primeira boneca da nova empresa.

Com 38 cm ela tinha corpo de tecido e rosto de massa. Era o começo de uma empresa que marcaria gerações de brasileiros. Anos depois, na década de 40, a empresa lançou o cachorro Mimoso, o primeiro brinquedo brasileiro, feito em madeira, que se movimentava e produzia som. Na sequência Adler conseguiu lançar o Banco Imobiliário, versão brasileira do Monopoly, o jogo de tabuleiro mais popular do mundo. As bonecas, que até o final dos anos 40 eram feitas em uma massa inquebrável, passaram a ser de plástico a partir da Pupi, uma boneca articulada de 35 cm, que “dormia e chorava”, lançada no início da década de 50.

Logo na sequência e empresa investiu em bichinhos e bonecos de vinil, que eram mais flexíveis e indicados para crianças pequenas ou bebês. Como uma empresa familiar, com a morte do seu fundador, em 1958, a esposa de Siegfried assumiu a presidência, pois o filho do casal, Mário, encontrava-se nos Estados Unidos. Foi ela a responsável pelo lançamento de brinquedos elétricos, dentre os quais o autorama com pistas de corrida e carrinhos para desafiar a habilidade dos garotos.

Essa alcunha, Autorama, inclusive, passou a ser o sinônimo de brinquedos ligados à velocidade com direito, inclusive, à citação no Dicionário Aurélio. A Estrela introduziu, nesse período, outro conceito de grande sucesso, a boneca fashion (fashion doll), com o lançamento da SUSI, que foi extremamente popular por diversas gerações de meninas brasileiras até 1985, quando deixou de ser fabricada, tendo vendido mais de 20 milhões de unidades. Voltando à história da empresa, Mário Adler, filho de Siegfried, retorna ao Brasil em 1964 com 19 anos e se torna presidente da Estrela. Tendo nas mãos uma empresa consolidada no mercado, ele procurou manter o seu desenvolvimento buscando modernizá-la com a ajuda do marketing.

Dessa forma, a ideia foi enfatizar o reconhecimento da marca através de uma grande divulgação em eventos nacionais, internacionais e programas de TV. Nesta década a linha de produtos foi ampliada com lançamentos inovadores, como a primeira boneca mecânica (Gui Gui), que sorria quando abria e fechava seus braços; e a boneca Beijoca, que “mandava beijinhos”. Em 1970 a Estrela passou a trabalhar o conceito de figuras de ação. Essa categoria teve seu marco com o lançamento do Falcon, primeiro boneco para meninos.

O grande sucesso dessa coleção foi “Falcon Olhos de Águia”, que movimentava os olhos, quando apertado um botão localizado em sua nuca. Outro grande sucesso dessa época foi a boneca Amiguinha, que ficou famosa por seu tamanho – 90 centímetros, e que hoje está de volta ao mercado em versão atualizada. Em seguida surgiram os carros rádio controlados, que teve o Stratus como primeiro modelo.

A década seguinte foi marcada pelo lançamento do Genius, o “computador que fala”, sendo o primeiro brinquedo eletrônico do país. A eletrônica também foi incorporada às bonecas, que passaram a ser mais interativas, em modelos como a Amore, introduzida em 1986. Outras inovações surgiram nessa linha, como a Sapequinha, primeira a utilizar fibra óptica e foto sensor para “perceber” a aproximação da criança, e a Bate-Palminha, que “cantava” quando suas mãos se juntavam.

Mesmo com todo esse sucesso adquirido nas décadas anteriores, a Estrela enfrentou graves momentos de crise a partir do início dos anos 90. A empresa sofreu um forte abalo com o processo de abertura do mercado brasileiro, que atingiu não somente a ela, mas toda a indústria de brinquedos do país. As chegadas de produtos chineses e a viralização de produtos falsificados e contrabandeados também contribuíram para reforçar os resultados ruins da empresa.

Outro ponto que favoreceu essa crise foi o rompimento com a Mattel que, após uma batalha judicial, retirou o direito da empresa de produzir a Barbie, ícone do segmento de bonecas. Mesmo com todos esses problemas a Estrela não se deixou abater e, por isso, é marca presente no nosso dia a dia até hoje. Em 1992, apostando na qualidade, a ESTRELA foi a primeira empresa do segmento de brinquedos a receber a certificação ISO 9002 na produção de seus brinquedos, nas suas instalações e nos serviços prestados.

Em 1996, Carlos Tilkian assume a presidência da empresa e passa a procurar formas de enfrentar e vencer a crise. Em 1997, as bonecas SUSI, que não eram fabricadas há mais de 10 anos por causa da chegada da Barbie, voltaram ao mercado. Além disso, alguns clássicos como Banco Imobiliário, Detetive, Jogo da Vida e Combate tiveram a sua categoria reforçada com a chegada dos jogos inspirados em populares programas de TV como o Show do Milhão, o Big Brother Brasil e No Limite.

Em meio às todas essas dificuldades a empresa aprendeu a usar tecnologia e componentes chineses para renovar produtos antigos e competir ainda com a Internet e os jogos eletrônicos. Com essas atitudes, nos anos seguintes, a empresa teve um crescimento gradativo, superando a crise. A ideia foi modernizar a linha de produto, relançar alguns clássicos e inovar no que fosse possível.

E dessas convicções surgiram brinquedos como: o carro movido a energia solar, helicóptero controlado pelo iPhone, carrinho de controle remoto com sensor e boneca Susi com realidade aumentada estão entre as novidades recentes da ESTRELA para continuar conquistando uma nova geração de consumidores. Além disso, a empresa aposta na migração de alguns de seus jogos clássicos, como Detetive e Cara a Cara, para aqueles que podem ser jogados em novas mídias, como o iPad e o Twitter.

Entre os relançamentos, ferramenta de marketing adotada pela empresa para resgatar fãs saudosistas, estão jogos que fizeram sucesso nas décadas de 80 e 90 como o Boca Rica, Morcegos Equilibristas e Guerra das Aranhas. A chegada dos novos tempos fez com que a empresa investisse nas redes sociais para se manter na mente dos brasileiros e de seus consumidores. Nos últimos anos, em vez de jogar a toalha, a empresa vem reconquistando pouco a pouco o terreno perdido. O mais curioso dessa história é que a recuperação se deu graças à China, de onde passou a importar produtos de maior valor agregado, e ao mundo virtual com seus milhares de fãs saudosistas.

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