Hermanos da América Latina? Entenda o que a China tem a ver com moeda comum e crédito para Argentina
Durante sua viagem para Buenos Aires, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou as relações bilaterais entre Brasil e Argentina. Os governos inclusive tocaram em temas que tiraram o sossego do mercado: a moeda comum e o BNDES.
Em suas falas, Lula usou e abusou do discurso de união dos países da América Latina e de como a Argentina é um grande parceiro comercial para o Brasil. No entanto, as medidas que estão sendo tomadas consideram o avanço da China na região.
Na segunda-feira, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, apontou em entrevista para a GloboNews que a China vem assumindo um protagonismo que pertencia ao Brasil no comércio com a Argentina.
“A China vem propondo soluções para a Argentina ao financiar a importação de produtos chineses. Estamos tentando construir soluções para o espaço que perdemos em função das restrições que a Argentina sofre hoje de acesso a uma moeda conversível”, disse.
Expansão da China na Argentina
Isso explica o interesse do Brasil em financiar empresas argentinas por meio de linhas de crédito com a garantia do Fundo Garantidor às Exportações (FGE) de bancos públicos e privados – esse é um modelo parecido de um programa já implementado pela própria China.
Em 2020, o país asiático superou o Brasil como o maior vendedor de produtos para a Argentina. Atualmente, a China é responsável por 21,5% das importações do país latino. O Brasil, por sua vez, representa 19,7% do mercado.
Por mais que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenha evitado citar a China em seu discurso em Buenos Aires, a pasta divulgou que estuda formas de garantir linhas de crédito de exportações brasileiras para a Argentina e apontou a China como um motivo.
“A China vem assumindo um protagonismo que pertencia ao Brasil no comércio com a Argentina. O país asiático vem propondo soluções para a Argentina ao financiar a importação de produtos chineses. O governo brasileiro está tentando construir soluções para o espaço que perdeu em função das restrições que a Argentina sofre hoje de acesso a uma moeda conversível”, diz o documento.
O Ministério da Fazenda destaca que uma das soluções oferecidas pela China à Argentina é o swap cambial. “Com isso, os empresários argentinos passam a ter moeda chinesa para comprar seus produtos”.
Uruguai
Lula também incluiu na sua agenda uma visita ao Uruguai. O objetivo também é “retomar as relações” – ou seja, brecar o avanço comercial chinês em mais um vizinho latino.
Em julho do ano passado, o presidente uruguaio Luis Lacalle Pou anunciou que os dois países iniciaram conversas para fechar um acordo unilateral de livre comércio.
O acordo permitiria que as nações estabeleçam tarifas diferentes para importação e exportação de produtos. Isso fragilizaria a Tarifa Externa Comum (TEC), uma taxa comercial padronizada para os países do Mercosul.
Caso isso aconteça, pode ser o fim para o Mercosul. Lula deve tentar evitar isso, ou então convencer os países a fecharem um acordo com todo o bloco.