Colunista Inversa

Helena Margarido: Como um hackaton pode ajudar a reduzir despesas para empresas

17 jun 2020, 14:56 - atualizado em 17 jun 2020, 14:57
“Muitas vezes ideias simples podem gerar economias multimilionárias ou aumento de receita expressivos”, afirma a colunista (imagem: pixabay)

Esses dias em casa têm servido para organizar muitas coisas na minha vida. Uma delas foi para, finalmente, trabalhar em um projeto que promete causar barulho assim que for oficialmente lançado.

Por enquanto vou manter o suspense sobre o que se trata, só vou adiantar algo importante para essa carta: precisava entender o processo inteiro da criação de modelos de negócios viáveis em Blockchain, do começo ao fim.

Não sei se tem uma melhor maneira para fazer isso na prática, mas optei por um caminho que me rendeu uma das mais gratificantes experiências de vida até o momento: entrei num hackaton.

Como participante. Troquei o chapéu de mentora/jurada/organizadora que usei tantas vezes e decidi ver como as coisas funcionam do outro lado.

Minha equipe era composta por 4 pessoas: uma designer/UX, um desenvolvedor de front end e um de back end. Fiquei responsável pela área de negócios.

Tínhamos um final de semana para desenvolver uma solução tecnológica para aumento da qualidade de vida de caminhoneiros.

Um parênteses aqui: hackatons são desafios propostos geralmente por um patrocinador (nesse caso, uma concessionária de rodovias) para que sejam propostos modelos de negócio com forte viés tecnológico visando solucionar o problema.

Os prazos são curtíssimos (um final de semana é o mais comum deles) e espera-se que as equipes entreguem ao menos um protótipo com programação de códigos (back e front end), as principais telas da aplicação (UX/design) e elabore uma apresentação de até 3 minutos (pitch) amarrando a solução proposta com um modelo de negócios incrível. Fecha parênteses.

Desafio lançado, acompanhei a abertura, exposições dos principais dados relativos à saúde, carga horária de trabalho, utilização de tecnologias, etc.

Resumo geral: a categoria é composta por uma massa de trabalhadores (em torno de 2% da população economicamente ativa no Brasil) que trabalha em média 11,5 horas por dia, 6 dias por semana. Políticas de prevenção e de saúde têm uma adoção baixíssima e o uso de novas tecnologias só acontece se tiver algum benefício direto e perceptível.

Bem. Parecia óbvio que criar algo com essas características (benefícios) era ordem do dia para o modelo de negócios ser, de fato, incrível. Na parte de proposta tecnológica, os 3 membros do time saíram com a mesma ideia: algo envolvendo gamificação, que fosse fácil e intuitivo.

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Então, chegou minha vez de expor. Foi algo mais ou menos assim:

“Pessoal, se todos nós tivemos exatamente a mesma ideia sobre a solução, podem ter certeza que metade das demais equipes também vai seguir nessa linha. Vamos pensar, o que o desafiante quer? Aumentar a qualidade de vida dos seus principais clientes por qual razão? É uma entidade humanitária, por acaso? Não. Então, se não é, provavelmente tem alguma relação direta entre a má qualidade de vida dessas pessoas e o dinheiro que eles perdem ou deixam de ganhar. Desta forma, para criarmos um “jogo de ganha-ganha”, precisamos tirar desse bolo (despesas) o principal incentivo de qualquer ser humano desde o início dos tempos: dinheiro. E como tem muita gente envolvida nisso (lembra? São 2 milhões de caminhoneiros) o processo precisa ser incrivelmente transparente. Então, precisamos de Blockchain.” 

Notem: não era um desafio sobre o tema. Nenhum dos desenvolvedores jamais tinha desenvolvido nada usando esse tipo de tecnologia.

Mas, pelo menos para eles, a resposta da necessidade de Blockchain no projeto era óbvia e irrefutável – tanto que passamos mais tempo discutindo as cores do layout do que isso.

“Porque só tecnologias em Blockchain conseguem, de fato, garantir transparência e confiabilidade a qualquer base de dados que se queira criar”, escreve (Imagem: Pixabay)

Estabelecemos uma meta de entregáveis pra cada um. Nosso designer de front decidiu ver se conseguia programar algo em Ethereum. Em 2 dias, o contrato inteligente já estava com deploy feito, rodando em testnet (traduzindo: rodando perfeitamente em ambiente de testes, bastando apertar 1 botão para jogar na rede do Ethereum de verdade).

Todos entregáveis saíram no prazo. Projeto entregue com sucesso (e com orgulho) horas antes do deadline. E acreditem: quando o prazo são 48 horas corridas, 2 horas são preciosas!

Apresentei o projeto para algumas pessoas alheias ao desafio depois que entregamos. Todos, sem exceção, começaram a frase com “Uau!”.

Meu ponto aqui, entretanto, não tem nada a ver com a genialidade (ou não!) do que foi proposto (sinceramente, tem tantos participantes bons participando que o mais provável é que não ganhemos nada além da experiência).

A questão é que desenvolvimento de modelos de negócios revolucionários em Blockchain estão aí, a 48 horas de distância, só esperando alguém que tome a iniciativa de encarar o desafio e fazer.

Muitas vezes ideias simples assim podem gerar economias multimilionárias ou aumento de receita expressivos.

Porque só tecnologias em Blockchain conseguem, de fato, garantir transparência e confiabilidade a qualquer base de dados que se queira criar. E o tamanho do impacto disso é tão incalculável quanto estimar quanto o Bitcoin poderá valer daqui há 10, 20, 50 anos.

Mas uma coisa é fato: é o tipo de tecnologia que veio pra ficar. E como as moedas digitais são em muitos casos quase que uma “licença de uso” de uma Blockchain com emissão decrescente e que tende a zero, imaginem quanto valerá uma dessas “licenças” quando a demanda pela solução aumentar e a oferta diminuir.

Esse é o racional econômico de (grande parte) das criptomoedas. Nada de bolha, nem de esquema financeiro. É uma tecnologia da qual cada um pode ter uma fração sem, se fato, ser dono. E isso é, assim como a tecnologia em si, sem precedentes.

Um grande abraço,

Até a próxima!

Helena Margarido