Bancos

Hedging e trading ajudam bancos de investimento a manter receita

01 abr 2020, 8:09 - atualizado em 01 abr 2020, 8:10
”Estou trabalhando de casa há mais de duas semanas e estou impressionado com os níveis de produtividade que podemos alcançar”, disse Jose Olympio Pereira, presidente do Credit Suisse no Brasil (Imagem: REUTERS/Arnd Wiegmann)

Com o mercado de capitais fechado para empresas brasileiras, outros negócios estão ajudando banqueiros de investimento a manter receitas que, antes da crise do coronavírus, eles esperavam que atingissem um recorde em 2020.

”Nossos negócios de sale and trading e tesouraria estão muito ativos e empresas estão buscando mais derivativos”, disse Ricardo Lacerda, presidente do banco de investimento BR Partners. O mercado de câmbio também está movimentado, disse ele, pois os exportadores vendem dólares em uma aposta de que a puxada na cotação foi “um claro overshooting”.

Os banqueiros previam que a receita com comissões ganhas com a liderança na emissão de ações e dívida pelas empresas e na assessoria em fusões e aquisições aumentaria até 60% em relação ao total de US$ 1,1 bilhão calculado para 2019 pela Dealogic, empresa de pesquisa com sede em Londres.

Em vez disso, os executivos hoje têm se deparado com uma contração da economia global e doméstica e com uma potencial crise de crédito.

”Os mercados hoje são uma montanha-russa e isso está assustando as pessoas”, disse Lacerda em uma entrevista por telefone de sua casa, em um dia no qual começou a receber ligações às 5:30 da manhã e ainda estava nelas 13 horas depois.

É o mesmo em todo lugar.

”Estou trabalhando de casa há mais de duas semanas e estou impressionado com os níveis de produtividade que podemos alcançar”, disse Jose Olympio Pereira, presidente do Credit Suisse no Brasil.

Mais de duas dúzias de transações de emissão de ações no Brasil que deveriam ir a mercado no primeiro semestre do ano foram adiadas, pois a queda de preços e as restrições de viagens impostas para combater o coronavírus atingiram o negócio de bancos de investimento.

Duas das maiores eram de empresas estatais: a venda da participação da Petrobras na BR Distribuidora e a oferta pública inicial de ações da unidade de seguros da Caixa Econômica Federal.

”Todas as ofertas de ações do Brasil que haviam sido registradas para acontecer durante o segundo trimestre estão agora em compasso de espera”, disse Eduardo Mendez, chefe dos mercados de capitais/renda variável da América Latina do Morgan Stanley.

Os banqueiros têm dito às empresas que esperem até que a volatilidade diminua e que olhem índices como o VIX e o spread do swap de crédito com vencimento em cinco anos do Brasil.

”Para fazer um IPO, o ideal é ter um VIX por volta dos 20”, disse Hans Lin, chefe do banco de investimentos do Brasil no Bank of America. O VIX estava em 57 na terça-feira.

“O trading por algoritmos e os ETFs estão ampliando a volatilidade.” Ele disse que a inflação fraca e as taxas de juros em recorde de baixa provavelmente atrairão os investidores de volta para as ações “mais cedo ou mais tarde” no Brasil.

Com as ofertas públicas iniciais de ações em compasso de espera, mais fusões e aquisições podem começar a surgir. “Muitos gestores de fundos de private equity que, antes desta crise, pensavam que os preços dos ativos estavam muito inflacionados, agora podem ver uma oportunidade de compra”, disse Alessandro Zema, country head do Morgan Stanley no Brasil. “Esses fundos estão muito líquidos após a captação de recursos nos últimos 12 meses.”

Lin, do Bank of America, disse que fundos de pensão, fundos soberanos, family-offices e fundos de capital de risco agora também têm uma oportunidade de comprar, acrescentando que o mercado de fusões e aquisições pode se recuperar rapidamente.

Por enquanto, porém, a maioria das discussões sobre fusões está suspensa ou pelo menos adiada por algumas semanas, disse Eduardo Miras, chefe do banco de investimentos do Citigroup no Brasil.

“Alguns processos que começaram recentemente avançam, embora em um ritmo mais lento”, permitindo que compradores, vendedores e assessores se adaptem ao novo ambiente de home office.

Os conselhos das empresas estão se reunindo para discutir medidas de emergência e a maioria não tem tempo para analisar uma proposta de aquisição.

Os compradores que precisam de financiamento enfrentarão mais desafios, porque os termos serão mais restritivos daqui para frente, enquanto outros preferem manter sua liquidez até que tenham mais visibilidade sobre as perspectivas de receita, disse Miras.

Os bancos estão oferecendo linhas de crédito para as maiores empresas, de acordo com Gustavo Siqueira, chefe do mercado de capitais de renda fixa do Morgan Stanley no Brasil. “A maioria dos grandes vencimentos da dívida em dólar acontece em 2021, então ainda há tempo para rolar”, disse Siqueira.

Com o mercado de dívida local e internacional fechado, Pereira, do Credit Suisse também espera mais demanda por crédito, mesmo das grandes corporações.

“Somos um banco muito diversificado no Brasil, portanto estamos dedicando um tempo maior para conversar com nossos clientes de private banking, enquanto nossa corretora também está aumentando o volume de transações de sales and trading”, disse ele.

A experiência de quarentena tem sido um processo de aprendizado para muitos e, quando terminar, os bancos podem concluir que é possível cortar custos com transporte e viagens e, ao mesmo tempo, aumentar a produtividade, disse Pereira.

”Algumas conversas sobre negócios podem ser feitas perfeitamente usando videoconferências em vez de reuniões presenciais”, disse ele.

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