Hedge funds miram Tether para nova aposta contra cripto
Antes de Sam Bankman-Fried ser preso nas Bahamas e acusado de fraude nesta semana, e antes do colapso de um ecossistema cripto de US$ 60 bilhões dizimar credores de ativos digitais em maio, havia o bicho-papão original do setor: a Tether.
Um grupo de hedge funds agora tem como foco a stablecoin, que com valor de mercado de US$ 66 bilhões poderia ser a próxima catástrofe a abalar o universo cripto – o que faria a implosão da corretora FTX de Bankman-Fried parecer pequena em comparação.
Fir Tree Capital Management e Viceroy Research estão entre as empresas vendidas em Tether, de acordo com pessoas a par das apostas – posições mantidas há meses à espera de lucrar com suas estratégias.
Os que defendem o “trade” – e os interessados – argumentam que o retorno pode chegar em breve, já que a turbulência no mercado cripto pode empurrar o valor da Tether abaixo de sua prometida paridade de 1 para 1 com o dólar. Entre as outras razões: o procurador dos EUA Damian Williams, que lidera o caso contra Bankman-Fried, também assumiu recentemente uma investigação sobre a Tether e se os executivos por trás da stablecoin cometeram crimes.
Ainda assim, a aposta contra a Tether não é tão simples. O Valiant, um hedge fund de São Francisco, assumiu a posição vendida no início deste ano, mas recuou e saiu ileso, segundo pessoas a par do assunto. O fundo apostaria contra a Tether novamente se pudesse fazê-lo sem arriscar as garantias, disseram as fontes.
O Coatue Management, de Philippe Laffont, e outros fundos analisaram a estratégia e também desistiram devido ao risco de contraparte, contaram pessoas a par do assunto.
“Não estou vendido em Tether – não encontrei o veículo”, disse Andrew Left, fundador da Citron Research, que faz apostas na queda de ativos. “Se alguém me mostrar uma maneira de fazer isso com o Goldman Sachs como contraparte, estou dentro.”
Left disse que está vendido na segunda maior criptomoeda do mundo, o Ether, que tem um contrato futuro bem regulamentado, mas não quis comentar o tamanho da posição.
Representantes do Fir Tree, Viceroy, Valiant e Coatue não comentaram.
A Tether, o terceiro token mais negociado do mundo, é considerada a espinha dorsal do ecossistema cripto, embora a estabilidade de sua taxa de câmbio com o dólar tenha sido questionada repetidamente desde que foi lançada em 2014.
Grande demais para quebrar
Alguns líderes da indústria cripto argumentam que a Tether é grande demais para quebrar sem colocar em risco todo o mercado de US$ 870 bilhões.
Em um sinal de sua importância, o rival de Bankman-Fried, Changpeng “CZ” Zhao, CEO da Binance, enviou-lhe mensagens antes do pedido de recuperação judicial da FTX, aconselhando-o a não pressionar o preço da Tether, de acordo com o depoimento que Bankman-Fried havia preparado para uma audiência no Congresso antes de sua prisão.
O fundador da FTX negou que tenha tentado manipular o preço da stablecoin.
A Tether havia enviado cerca de US$ 37 bilhões de seu token para a Alameda Research, empresa de investimentos da FTX, até o fim do ano passado, de acordo com a Protos, tornando a empresa de trading seu maior cliente.
A falência da FTX e de outras empresas “pode ser atribuída a negócios ruins, liderança ruim, administração ruim, empréstimos ruins e garantias ruins, nenhuma das quais tem nada a ver com a Tether”, disse o porta-voz da Tether Holdings, emissora da stablecoin.