Hapvida (HAPV3) sob investigação: Investidores erraram a mão com as ações? Analistas veem queda ‘exagerada’
A Hapvida (HAPV3) engatou a maior queda do Ibovespa nesta segunda-feira (22). O recuo de mais de 5% na sessão chega após notícias recentes de que o grupo está sendo acusado de descumprir liminares judiciais favoráveis aos seus beneficiários.
Segundo matéria divulgada na última quinta (18) pelo Estadão, a maior empresa de planos de saúde do Brasil está sendo investigada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP) após acusações contra o grupo de falta de atendimento médico aos pacientes.
Um levantamento do Estadão apontou mais de cem casos de descumprimento somente nos últimos oito meses.
Após a divulgação da reportagem, investidores repercutiram a notícia negativa, o que fez com que os papéis da Hapvida caíssem quase 7% no pregão de quinta (perda de R$ 2,4 bilhões em valor de mercado).
Em nota de esclarecimento à CVM na última sexta (19), a Hapvida disse que não possui qualquer política ou diretriz para o descumprimento sistemático ou ordenado de decisões judiciais.
No comunicado, a companhia afirmou que é certo que, no curso do recebimento e operacionalização do cumprimento de algumas decisões, podem ocorrer “intercorrências que, embora indesejadas, estão dentro da atividade constante de aperfeiçoamento da sua operação”.
A Hapvida ressaltou que, como não teve acesso integral aos levantamentos divulgados na reportagem do Estadão e elaborados por escritórios de advocacia que patrocinam disputas contra a companhia, buscará mais informações para realizar “com a devida urgência diligências nesse sentido”.
“Caso necessário, [a companhia] avaliará se existem quaisquer medidas a serem reportadas ou adotadas a respeito”, completou.
A Hapvida também informou que tomou conhecimento do procedimento investigatório em tramitação junto ao MPE-SP.
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Investidores erraram a mão com HAPV3?
A avaliação de analistas da XP Investimentos é que os investidores fizeram “muito barulho para pouca causa”. Segundo a corretora, o caso não parece tão assustador se olhar mais de perto.
A XP destaca que, em seus registros, a Hapvida afirma que todos os processos classificados como risco provável de perda foram totalmente provisionados, enquanto nenhuma provisão é feita em caso de possível risco de perda.
“Nesse sentido, de acordo com os números da companhia, existe o equivalente a R$ 1,8 bilhão de processos cíveis não provisionados, sendo que R$ 816 milhões envolvem diretamente beneficiários” (ou R$ 2,3 bilhões e R$ 1 bilhão no total, respectivamente)”, levantam os analistas.
De acordo com a XP, o último número representa um terço do total de valor de mercado que a empresa perdeu nas negociações de quinta, “levando-nos a assumir que a derrocada foi exagerada”.
O Bradesco BBI é da mesma opinião. Embora o fluxo de notícias sobre o caso possa afetar a reputação da empresa e levantar preocupações do mercado quanto às adições líquidas de novos beneficiários e margens de lucro, a queda de 7% da ação parece, na avaliação da casa, excessiva.
O BBI elenca quatro pontos para entender por que a reação dos investidores com as ações foi mais dura do que deveria ter sido.
Primeiro, o descumprimento das liminares pela Hapvida não se deve à existência de uma política ou diretriz, mas possíveis complicações, defende.
“Outros grandes players também não cumprem integralmente as liminares, segundo apurou o Estadão.”
Em segundo lugar, o BBI destaca que as contingências da Hapvida relacionadas à cobertura de assistência médica e carência não provisionadas no terceiro trimestre do ano passado foram de R$ 0,2 bilhão, ou 0,6% do seu valor de mercado.
O terceiro ponto diz que as reclamações judiciais são uma questão setorial, visto que aumentaram em todos os níveis. Citando o posicionamento da Hapvida, o BBI diz que a maioria das reclamações é questionada pelas empresas, pois envolvem em alguns casos fraudes e solicitações não cobertas contratualmente.
Por fim, o último e quarto ponto mostra que os indicadores de qualidade global de Hapvida e NotreDame Intermédica estão acima da média o setor.
Em meio à desvalorização dos papéis, a XP reitera sua recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 5,70.