Halvings como combustível para a indústria
Uma das minhas coisas preferidas sobre a narrativa de halving (redução pela metade na recompensa por bloco) é que vamos passar grande parte de 2020 discutindo sobre o impacto de algo que está se desenvolvendo desde a concepção do protocolo do Bitcoin.
Será uma contribuição bem significativa (e bem-conhecida) de muitos que direcionará valor ao bitcoin em meio a uma “corrida de touros” parabólica de 11 anos.
É por isso que eu agradeço por nossos analistas de pesquisa, Jack Purdy e Ryan Watkins, terem unido esforços e apresentado um manual sobre halving e derrubaram algumas das narrativas mais tolas que dizem que veremos um choque de oferta em maio.
É tentador entrar na onda dessa narrativa porque é boa para “hodlers”, mas provavelmente a recompensa já está precificada. Semana passada, Nic Carter fez uma excelente análise da Hipótese do Mercado Eficiente (HME) e como ela perpetua em cripto (apesar de ser uma leitura de meia-hora).
Correndo o risco de contradizer a mim e à pesquisa de meus colegas, eu gostaria de pensar no outro lado desse debate e argumentar por que o halving ainda pode ser uma catálise dessa vez.
Falarei sobre três coisas (que não têm nada a ver com o modelo ridículo de stock-to-flow): o fortalecimento da narrativa do ouro, a apresentação de novas e grandes tribos e o ímpeto de ativos.
O fortalecimento da narrativa do ouro
Eu escrevi, em minhas teses para 2020, que a coisa mais importante para apoiarmos como uma narrativa de investimento seria a combinação de ouro, como parte de uma cesta resistente à inflação: uma mistura de ouro com ouro digital, em que bitcoin seja o beneficiário principal da rotação geracional de ativos de investimento, de “boomers” a “millennials”.
Esse halving específico diminui, oficialmente, a taxa de expansão monetária do bitcoin abaixo do alvo de inflação de 2% definido pelo Fed pela primeira vez.
Isso é de extrema importância, de um ponto de vista narrativo.
Talvez eu esteja exagerando, mas eu acredito no fortalecimento da narrativa de que “o bitcoin agora é menos inflacionário que a Fed” seja um momento decisivo que marca a evolução do bitcoin de beta à produção como um autêntico ouro digital.
É hora de ir além da história a longo prazo de que “o bitcoin tem um fornecimento fixo”.
E, nesse ambiente macro específico, isso é algo bem poderoso.
A apresentação de novas e grandes tribos
O fortalecimento da narrativa de ouro digital vem em uma época verdadeiramente ideal, quando investidores institucionais estão mergulhando nas águas de cripto.
Essa nova tribo é, em ordens de magnitude (sim, no plural), maior e mais influente do que a série de investidores anterior e já existente. Essa expansão tribal também aconteceu (talvez por coincidência) nos outros dois halvings.
Após o halving de 2012, vimos a expansão do grupo tecno-libertário para o grupo libertário de varejo, em que Coinbase e Mt.Gox dispararam em importância e a mineração ficou “profissionalizada” (eu sei que a maioria das empresas de mineração eram piadas/golpes, mas estou falando sobre o surgimento dos circuitos integrados de aplicação específica, ASICs).
Após o halving de 2016, vimos a expansão da audiência cripto, do grupo libertário de varejo para o grupo geral de varejo.
A bolha das ICOs ajudou porque atraiu uma massa de novos especuladores que estavam realmente interessados nos rendimentos de até cem vezes, mas acharam ter pedido a oportunidade do bitcoin.
Quando o bitcoin voltou com tudo, as empresas “blockchain, não bitcoin” de 2015 olharam cripto com mais atenção.
A última explosão abençoou a indústria com um excesso de capital para construir a infraestrutura necessária para o próximo superciclo (não diga, não diga… Carlota Perez. Aff, eu disse).
E agora essa infraestrutura está apenas esperando por esses novos clientes que poderiam infundir cem vezes mais liquidez no sistema que já existe.
O ímpeto de ativos (ou o ciclo virtuoso)
Aqui é onde minha experiência resulta em uma opinião um pouco diferente dos defensores da HME: ter participado de grandes conferências, como a Consensus, me faz perceber o poder do marketing em elevações de preço e escassez de fornecimento.
Para ilustrar, todos em cripto sabem sobre a conferência de 2017 da Consensus após o evento bem-sucedido de halving em 2016.
Logicamente, eu esperava que nossa receita de vendas de ingressos em 2017 seria mais suave e menos parabólica (ou seja, que tivesse mais venda de ingressos antecipados) do que a curva de receita de 2016.
Não rolou.
Na verdade, existe uma lei universal, a qual todos os organizadores de conferência conhecem, que é a “data duplicada”. Aproximadamente seis semanas antes do evento, você pode ter sua receita atual de ingressos e dobrá-la para prever o seu total.
Em cripto, eu posso te dizer que a “data duplicada” é bem próxima de um ataque de pânico 3,5 semanas adiantado.
Algo que você pode fazer para estender a “data duplicada” anteriormente (para que você não tenha um ataque cardíaco ou cancele o evento) é fazer marketing pra caramba da escassez artificial e dos futuros aumentos de preço.
A data dos aumentos de preço ou a exaustão de ingressos de baixo preço faz as pessoas levantarem a bunda e irem comprar os malditos ingressos.
Eu vejo o halving de forma similar: um acontecimento de marketing de superciclo em criptoativos vai acelerar conforme o aumento de preço.
O mercado ainda subestima o impacto que o fortalecimento da narrativa de ouro digital, a entrada de novos investidores “megabaleias” e o ímpeto comercial vão ter este ano. Acredito na HME, mas também sou cético de que cripto se tornou um mercado racional e eficaz.
Veremos.