Economia

Haddad x Campos Neto: Como o Banco Central pode ajudar o Brasil a crescer?

30 dez 2022, 8:52 - atualizado em 30 dez 2022, 8:52
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Banco Central tem duas cartas na manga para estimular a economia: juros e crédito. (Imagem: Agência Brasil)

*Por Juliana Américo e Lucas Simões

Desde que foi confirmado como futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad vem tentando ganhar a confiança do mercado. Uma das estratégias é se aproximar do Banco Central e do seu presidente, Roberto Campos Neto.

Após reuniões, ambos sinalizaram uma boa relação. No entanto, Haddad já passou a bola para o Banco Central querendo saber como a autoridade monetária vai ajudar a pasta na recuperação econômica do país.

Vale lembrar que no terceiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) nacional desacelerou para 0,4%, após uma alta na atividade econômica de 2,2% no primeiro semestre. Parte desse recuo é resultado do aperto monetário promovido pelo Banco Central para controlar a inflação.

Veja como o Banco central pode aquecer a economia

Primeira opção: Juros

A redução da taxa Selic em 2023 seria o gatilho não somente para reaquecer a economia brasileira, como também destravaria o valuation de diversas ações e fundos imobiliários que andam bastante amassados na Bolsa brasileira por conta do aperto monetário.

O ano novo começa com a taxa básica de juros brasileira a 13,75% ao ano, bem acima dos 9,25% há 12 meses , quando o BC teve de apertar os cintos para combater uma inflação galopante no país.

“O Brasil foi um dos primeiros países no mundo a elevar juros e será um dos primeiros a vê-los caírem em 2023. Contudo, os riscos fiscais que pairam sobre as contas públicas brasileiras no próximo governo diminuem o espaço de cortes da taxa Selic no ano”, pondera Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital.

Além da inflação brasileira já ter dado os primeiros sinais de dificuldade para as próximas reuniões do Copom, deixando os meses de deflação lá no retrovisor, o pleno ciclo de alta de juros nos Estados Unidos dificulta a vida de Campos Neto em ajudar a Haddad na economia.

O Federal Reserve (banco central dos EUA) começou a elevar juros em março de 2022, com um primeiro ajuste de 0,25 ponto percentual (pp). A partir de junho, a autoridade monetária do país engatou quatro subidas consecutivas de 0,75 pp, algo até então histórico por lá.

Em dezembro, os juros nos EUA tiveram um incremento de 0,5 pp e variam com taxa entre 4,25% a 4,50% ao ano. As projeções para 2023 chegam a apontar que as taxas podem encostar em 6% ao ano.

Pelo diferencial de juros entre o Brasil e os EUA, o Copom terá pouquíssimo espaço para reduzir a Selic em 2023, mesmo que a economia brasileira ande bem.

Isso ajuda a explicar o porquê a maioria dos bancos e corretoras têm elevado suas expectativas de Selic em 2023, algo bastante nítido no relatório Focus mais recente.

Segunda opção: Crédito

Além da redução dos juros, o Banco Central também pode promover uma redução do depósito compulsório, mexendo assim no crédito.

No final de 2021, a autoridade monetária elevou de 17% para 20% a alíquota para o depósito compulsório a prazo.

O depósito compulsório é um percentual do dinheiro dos bancos que fica retido pelo Banco Central para garantir a segurança do sistema financeiro e é remunerado pela Selic.

Durante a pandemia, o Banco Central reduziu esse percentual de 25% para 17%. Isso permitiu que R$ 330 bilhões fossem injetados na economia. No entanto, ao elevar o patamar, a estimativa é de que foram retirados R$ 42 bilhões de circulação.

Faz parte do novo governo o plano de fortalecer e democratizar o acesso ao crédito, o que pode incentivar o Banco Central a flexibilizar as regras de concessão de crédito.

“Lula já sinalizou que planeja que os bancos públicos atuem no sentido de estimular o crédito. Ele acredita que grande parte do aquecimento do comércio decorre do poder de compra na mão da população de baixa renda”, afirma Marcelo Castanha Ramos, sócio da Matriz Capital.

No entanto, ele destaca que a medida é arriscada. Isso porque a projeção é de queda da Selic a partir do ano que vem, mas ainda assim os juros estarão em um patamar elevado.

“Esta medida não só pode não surtir o mesmo efeito que teve no passado, como também vai deixar a população mais endividada”, diz.

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