Economia

Haddad: Postura moderada marca primeiro mês do ministro; mercado ainda o vê como fantoche de Lula

31 jan 2023, 10:17 - atualizado em 31 jan 2023, 10:17
Haddad e Lula
Fiel à Lula, Haddad tentou apaziguar ânimos de mercado em relação às falas polêmicas do presidente. (Imagem: Adriano Machado/Reuters)

Fernando Haddad está há um mês na cardeira de ministro da Fazenda, após o mercado torcer, e muito, o nariz para a escolha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No entanto, o fato de o ministro não ter um perfil técnico, parece não estar atrapalhando a sua atuação na pasta, vista como mista pelo mercado. Ainda assim, parte dos economistas e analistas têm um pé atrás com petista.

“Tem sido um pouco melhor do que o mercado esperava. A impressão que se tinha era mais conectada à todas as falas ditas por ele em torno da economia. No entanto, o que se viu na prática, foi uma postura mais moderada ao sentar na cadeira”, aponta Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos.

No entanto, nem tudo são flores. Haddad já começou o ano com uma derrota política quando Lula optou por manter a desoneração dos combustíveis.

Antonio van Moorsel, estrategista-chefe da Acqua Vero, destaca que tem um custo de, aproximadamente, R$ 25 bilhões aos cofres públicos.

“Não bastasse o impacto nas contas públicas, o mercado passou a suspeitar que a equipe econômica teria um papel decorativo no governo e o próprio Haddad reconheceu que a instância política profere a última palavra. Então, o mercado teme que ele seja um fantoche de Lula”, afirma.

Relembre o último mês de Fernando Haddad

Pacote econômico de Haddad

Haddad começou o ano e o seu mandato com o anúncio de um pacote de medidas, que serão adotadas pelo governo federal para promover a recuperação fiscal das contas públicas.

Caso as medidas tenham o impacto esperado, o déficit de R$ 231,5 bilhões previsto no Orçamento para 2023 se transformará em superávit de R$ 11,13 bilhões, nos cálculos da pasta. Assim, o pacote tem potencial de ajuste de R$ 242,6 bilhões, ou 2,26% do PIB.

As medidas dividem o mercado. Enquanto alguns dos anúncios são vistos com bons olhos no quesito arrecadação, outros parecem ter um impacto ainda incerto. Além disso, há a crítica de que o pacote é voltado para um aumento de arrecadação e não corte de gastos.

Davos e a reforma tributária

O ministro representou Lula no Fórum Econômico Mundial, junto com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

Na ocasião, Haddad fez questão de defender a reforma tributária e disse que quer aprovar o projeto ainda no primeiro semestre de 2023. A primeira parte da reforma será sobre o consumo, mas que até o final do ano terá outra votação sobre renda.

Essa, sim, foi uma notícia bem aceita pelo mercado, que mostrou que o governo está alinhado em algumas pautas que já eram demandadas.

Lula
O maior desafio de Haddad tem sido apaziguar falas de Lula em relação à economia.

“O ministro teve que apagar alguns incêndios de discursos acalorados realizados por Lula. Fica difícil falar em um equilíbrio fiscal quando do outro lado um presidente utiliza palavras que interferem negativamente nos rumos que a economia brasileira irá seguir”, aponta Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital.

Entre as falas polêmicas do presidente estão críticas à meta de inflação, autonomia do Banco Central, taxação de lucros e dividendos, uso do BNDES para financiamentos em outros países e a moeda comum entre Brasil e Argentina.

Basicamente, economistas e analistas ainda estão tentando compreender até que ponto as falas de Lula são palavras ao vento para um grupo de partidários que deseja ouvir discurso com viés político ou um aviso das mudanças que o Ministério da Fazenda deve realizar.

Gustavo ainda lembra que Haddad também teceu algumas críticas em relação ao Banco Central, principalmente quando o assunto é taxa de juros. “O ministro falou bastante de política monetária, o que, geralmente, não é algo comum que os ministro da Fazenda comentem”.

A grande preocupação é que mesmo tentando equilibrar a balança entre as falas de Lula e as expectativas do mercado, Haddad se mantém fiel ao presidente e que dificilmente se colocaria em uma posição de discordar de Lula.

“Haddad pouco terá independência de atuação, contrário da dupla Bolsonaro e Paulo Guedes”, afirma Marcus.

Arcabouço fiscal

A nova âncora fiscal é o calcanhar de Aquiles de Haddad. Embora ele prometa apresentar uma proposta de novo arcabouço fiscal ainda no primeiro semestre, o mercado tem incertezas em relação ao substituto do teto de gastos.

“O pacote de medidas foi de certa forma bem recebido pelo mercado, mas poderia ter sido melhor aceito se a gente já conhecesse o novo arcabouço fiscal. Não adianta nada termos um pacote de medidas que o objetivo é reduzir o déficit primário, mas não termos as perspectivas em relação às contas públicas”, afirma Antonio.

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