Hackers russos geram caos em mercado de derivativos da Europa
Um ataque cibernético de uma gangue de hackers russa forçou vários grandes bancos e corretoras na Europa a processarem transações com derivativos manualmente.
O ataque da Lockbit à ION Trading UK, que fornece software ao mercado financeiro, afetou 42 de seus clientes, segundo correspondência da ION obtida pela Bloomberg, cujo conteúdo foi confirmado por um representante da empresa.
O software da ION é usado para concluir negociações de derivativos nos mercados de ações, títulos e commodities, e a interrupção afetou processos vitais, como o cálculo de chamadas de margem e relatórios regulatórios sobre grandes posições, de acordo com operadores afetados.
Empresas de software como a ION floresceram à medida que as negociações nas bolsas globais se tornaram mais rápidas e automatizadas, e elas se tornaram uma parte cada vez mais crucial para o funcionamento dos mercados financeiros modernos.
Sistemas rivais de processamento de transações também foram afetados devido à dificuldade de fazer a compensação de negociações realizadas via ION e, como solução alternativa, algumas negociações estão sendo processadas manualmente, disseram os operadores.
A Futures Industry Association — que representa o mercado de derivativos, com membros que incluem os maiores bancos do mundo e bolsas como a B3 no Brasil — realizou várias teleconferências para discutir o incidente com participantes do mercado na terça e quarta-feira, disseram.
A bolsa ICE Futures Europe disse que estendeu o horário limite para os membros realizarem ajustes de posições por duas horas até novo aviso.
Em uma mensagem aos clientes vista pela Bloomberg na terça-feira, a unidade americana de compensação do ABN Amro disse que a interrupção atrasaria seu processamento durante a noite e que continuaria a operar manualmente nesta quarta-feira. Um porta-voz do banco disse que a mensagem foi enviada aos clientes como precaução, mas que o banco conseguiu manter os negócios funcionando normalmente depois de implementar um sistema de backup.
Steve Adamske, porta-voz da Commodity Futures Trading Commission, que regula o mercado de derivativos dos EUA, disse que está ciente do incidente da ION e está “trabalhando em estreita colaboração com as partes afetadas, reguladores e outros participantes do mercado para garantir uma resolução ordenada”.
A Lockbit, uma das gangues de ransomware mais prolíficas do mundo, usa software malicioso para criptografar arquivos nos computadores de suas vítimas, tornando-os inoperáveis.
A gangue então exige pagamento para desbloquear os arquivos. O grupo está ativo desde pelo menos janeiro de 2020 e já hackeou até 1.000 vítimas nos EUA e em todo o mundo, extorquindo pelo menos US$ 100 milhões em pedidos de resgate, de acordo com o Departamento de Justiça dos EUA.