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‘Há uma crise no agro e podemos ver recuperação judicial de outras empresas da Bolsa’, vê diretor do Ministério da Agricultura

30 set 2024, 20:16 - atualizado em 01 out 2024, 12:55
agro recuperação judicial
Diretor de gestão de risco no agro diz que Plano Safra está desconectado da realidade e que programa beneficia apenas bancos (Foto: Divulgação)

O diretor de gestão de risco agropecuário do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Jonatas Pulquerio, disse, em conversa com o Money Times, que o agro do Brasil vive um problema estrutural, com uma crise desencadeada pela queda dos preços das commodities e quebras de safra por problemas climáticos. O setor acendeu um alerta após o pedido de recuperação judicial da AgroGalaxy (AGXY3) e do Portal Agro.

Na semana passada, Pulquerio participou de uma conversa com Sebastian Popik, fundador da gestora Aqua Capital, que controla a AgroGalaxy. De acordo com o diretor do Mapa, há chance para novos pedidos de recuperação judicial dentro do setor ainda em 2024, até mesmo para empresas listadas na Bolsa.

“A Aqua Capital, seja para o setor público ou privado, não quer esconder nada, e sim mostrar que o agro está vivendo uma crise. A AgroGalaxy tem uma carteira de crédito com o produtor. Quem entrou em dívida e quebrou foi o produtor. E isso foi repassado para a revenda, que está fora do Plano Safra. Só que quando isso acontece no sistema bancário, o governo entra e renegocia, porque há um instrumento para tal. Com isso, não há risco para os bancos”, explica.

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Pulquerio reforça que o grande problema é a falta de liquidez com o vencimento de dívidas de curto prazo. “É difícil prevermos outros casos (de RJ’s de empresas do agro listadas). Mas a realidade que me passaram na conversa com a Aqua Capital é de que o produtor está com problemas. E se esse cenário existe, vamos ver outras RJ’s”.

Diretor do Mapa vê ‘Plano Safra desconectado da realidade’

Para o diretor do Mapa, o Plano Safra, que completa 30 anos em 2026, e que foi concebido em um cenário onde o produtor rural buscava crédito apenas em bancos, precisa ser repensado. Segundo ele, o programa foi estruturado para o sistema bancário, e hoje, pela evolução do setor, os bancos deixaram de ter exclusividade no financiamento ao agro.

“Atualmente, os produtores buscam crédito no mercado de capitais, e o pequeno agricultor, em especial, nas revendas. Com isso, as revendas, que estão fora do sistema, atuam como se fossem um banco, liberando crédito através de insumos. O Plano Safra está desconectado da realidade, precisamos repensá-lo com outra ótica. Fora isso, não há dados públicos no Ministério da Agricultura sobre o custo da renegociação das dívidas dos produtores”, discorre.

Além disso, Pulquerio defende a melhora da governança pelo produtor rural, já que em períodos de “vacas gordas”, o agricultor, em sua maioria, deixa de fazer uma reserva financeira.

“Quando o momento é bom, o produtor pensa em um novo apartamento, carro ou expandir a sua terra. E quando há uma crise, a primeira coisa que ele pensa é não pagar, buscando estender sua dívida para ter uma liquidez de caixa. Em nenhuma hipótese ele pensa em vender algum bem ou patrimônio”, comenta.

O diretor diz que o Plano Safra deveria ter levado em conta o mercado de capitais há tempos, e que a política agrícola do Ministério da Agricultura precisa de uma oxigenação de perfil e gestores.

“O Plano Safra está do mesmo jeito há quase 30 anos, atendendo apenas o sistema bancário, que lucra muito com as operações. O Banco do Brasil (BBAS3) é um exemplo claro, ele só vive do Plano Safra”. 

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