“Há um risco enorme de impeachment”, avalia Felipe Miranda
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Os mercados financeiros brasileiros estão em um frenesi após o pedido de demissão do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, realizado ao vivo e com detalhes de conversas feitas com o presidente, Jair Bolsonaro, que podem ser utilizadas como justificativa para um pedido de impeachment.
No pior momento do dia, até às 12h47, o Ibovespa (IBOV) havia apresentou queda de 9,58%, a 72.040 pontos. O dólar foi a R$ 5,7126, alta de 3,20%. O pânico não é visto nos mercados internacionais, com Wall Street em um dia calmo e no positivo.
Os juros futuros de longo prazo, mais associados à percepção de risco político-econômico, saltavam mais de 100 pontos-base, com a inclinação –uma medida de risco– em forte alta.
“O governo, em uma completa dificuldade de encontrar uma resposta à crise de saúde e econômica, agora enfrenta uma terceira crise, absolutamente constrangido, e sob um risco enorme de sofrer um processo de impeachment”, avalia Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus.

Miranda entende que agora o foco se voltará para o ministro da economia, Paulo Guedes, na expectativa de um posicionamento após as revelações feitas por Moro.
“Não me surpreenderia de ver o dólar acima de R$ 6, rapidamente, e um processo de queda vigorosa da Bolsa”, pontua.
O ex-juiz relatou que o presidente manifestou, claramente, a intenção de poder ligar diretamente para o diretor geral da Polícia Federal, obter informações, documentos e outros dados sobre investigações em andamento.
O agora ex-ministro afirma que não é papel da PF prestar esse tipo de informações a políticos, e convidou os ouvintes a imaginar o que aconteceria se, durante a Lava Jato, a ex-presidente Dilma Rousseff e seus ministros tivessem essa prerrogativa.
Bolsonaro divulgou nesta manhã, em sua conta do Twitter, a exoneração do diretor geral, Maurício Valeixo.
– Lei 13.047/2014
“Art. 2º-C. O cargo de Diretor-Geral, NOMEADO PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, é privativo de delegado de Polícia Federal integrante da classe especial.” pic.twitter.com/Sc7XT6wxkI
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) April 24, 2020
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Pedidos já feitos
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição no Senado, afirmou que pedirá o impeachment do presidente Jair Bolsonaro ainda hoje, diante das “graves denúncias feitas pelo agora ex-ministro da Justiça”. A declaração foi feita em sua conta no Twitter.
Entraremos ainda hoje com pedido de impeachment do Presidente da República, a partir das graves denúncias feitas pelo agora ex-ministro da justiça.
— Randolfe Rodrigues (@randolfeap) April 24, 2020
Na quinta-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello decidiu pedir à Câmara dos Deputados informações a respeito do andamento de um pedido de abertura de processo de impeachment por crime de responsabilidade contra o presidente Jair Bolsonaro apresentado por dois advogados, segundo decisão do magistrado divulgada nesta quinta-feira.
Os autores da ação questionaram o fato de o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ainda não ter se manifestado sobre o pedido, mesmo depois de mais de 15 dias de ele ter sido apresentado.
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Processo de impeachment
Caso algum pedido de abertura seja aceito por Rodrigo Maia, o presidente Bolsonaro será notificado e deve deixar o cargo, permanecendo afastado por até 180 dias.
Quem assume é o vice, Hamilton Mourão.
ele será analisado por uma comissão especial de 66 deputados titulares e igual número de suplentes, com presidente e relator eleitos.
Para ser aprovado na Câmara, o processo do impeachment deve ter o apoio de dois terços dos parlamentares, ou seja, 342 deputados.
O pedido vai ao Senado, que também cria uma comissão para julgar o mérito.
É marcada uma sessão do Congresso Nacional, comandada pelo presidente do STF, para uma votação final e afastamento definitivo.