Meio Ambiente

Há suspeita de ação orquestrada em queimadas na Amazônia, diz Raquel Dodge

26 ago 2019, 21:23 - atualizado em 26 ago 2019, 21:23
A procuradora-geral anunciou que o inquérito vai apurar incentivos de quem realizou queimadas em terras federais e em unidades de conservação federal (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou nesta segunda-feira que há uma “suspeita de ação orquestrada” nas ações que levaram a queimadas na região amazônica e que isso justificou determinação dela para abrir inquérito a fim de identificar e punir os responsáveis pelos atos criminosos.

“Há suspeita ação orquestrada, há suspeita de uma atuação que foi longamente cultivada para chegar a esse resultado. O que nós percebemos da conversa de hoje é que há sinais disso, há elementos que justificam a abertura de inquérito para investigar e punir os infratores”, disse Dodge, em entrevista após se reunir em Brasília com representantes do Ministério Público Federal e de Estados que compõem o bioma.

A procuradora-geral anunciou que o inquérito vai apurar incentivos de quem realizou queimadas em terras federais e em unidades de conservação federal. Ela não quis adiantar quantos suspeitos estão na mira das investigações porque o foco das queimadas é grande e ele ocorreu em vários municípios de vários Estados que compõem a Amazônia Legal.

Dodge disse que os ramos do Ministério Público decidiram criar uma frente pela Amazônia com o objetivo de adotar ações coordenadas e preventivas em relação à floresta. Questionada se discursos radicais e cortes de orçamento levam a um favorecimento de ações criminosas na região, ela não respondeu e disse apenas que o Ministério Público está “olhando para a frente”.

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Desmatar custa caro

O procurador da República Joel Bogo, presente ao encontro e que atua no Acre, disse em entrevista que já há diversos inquéritos instaurados pela força-tarefa do MPF na Amazônia nos quais grandes pecuaristas já foram alvos de investigação e que há organizações criminosas que foram denunciadas.

Segundo Bogo, é preciso avançar e identificar outros grupos criminosos. Ele destacou que realizar queimadas custa caro.

“Desmatamento ilegal de grandes proporções é praticado sim por agentes do crime organizado, inclusive pela capitalização, desmatamento custo caro, não se desmata sem capital, sem recursos”, disse, ao citar que, para desmatar mil hectares, a despesa é de 1 milhão de reais.

O coordenador da Câmara de Meio Ambiente do MPF, subprocurador-geral Nívio de Freitas, foi na linha do colega do Acre sobre o custo elevado do desmatamento e disse que a prática não ajuda os agricultores de modo geral.

“Essa não é uma questão de atuação em prol da agricultura, até porque essas pessoas que fazem isso elas vão contra os interesses dos agricultores que atuam dentro da legalidade, é um momento gravíssimo”, disse.

Freitas descartou a participação de organizações não-governamentais nas queimadas da região, suspeita levantada pelo presidente Jair Bolsonaro dias atrás.

“Se há uma coisa que não há indicativo, não há indicativo nenhum, pelo contrário, as ONGs atuam em colaboração com os órgãos públicos”, disse.

“Normalmente não são produtores rurais, são pessoas criminosas que desmatam a Amazônia, tocam fogo no afã de posteriormente conseguir legitimar essas terras”, completou.