Há chances do Copom manter a Selic em 10,50%? Entenda a opinião de quem acredita que sim
Apesar de os diretores do Banco Central (BC) brasileiro terem subido o tom nas últimas comunicações antes da decisão sobre a Selic desta semana, eles enfatizaram a ausência de um guidance para esta reunião.
Grande parte do mercado já está convencida de que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve voltar a subir a taxa básica de juros, mas há quem ainda defenda a manutenção dos juros no atual patamar de 10,50% ao ano.
As opções de Copom, contratos que permitem a negociação da variação da taxa, se dividem entre uma alta de 0,25 ponto percentual (p.p.) (R$ 76,50), de 0,50 p.p. (R$ 15) e um movimento mais dovish (manutenção – R$ 8,75). Quanto maior o preço, maior o número de investidores que acreditam em cada um dos movimentos.
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Para o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, o balanço de riscos está “relativamente equilibrado”, principalmente devido ao fator externo. A casa não prevê alterações na Selic no encontro de setembro.
Em entrevista ao Money Times, o economista aponta três fatores que poderiam justificar uma eventual manutenção da taxa pelo Copom:
- inflação marginalmente mais benigna em termos estruturais;
- convergência da inflação dentro do horizonte relevante; e
- condições internacionais menos adversas desde a última reunião.
Por que manter os juros?
Inflação e PIB
A começar pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o economista-chefe da Ativa afirma que, além de ter surpreendido com um resultado inferior ao esperado, a inflação de agosto veio “marginalmente mais benigna em termos estruturais”.
O IPCA do mês passado apresentou deflação de 0,02%. Com isso, o headline caiu de 4,5% para 4,2%, enquanto a média dos núcleos passou de 3,82% para 3,78%.
“Todas as declarações dos diretores do BC reafirmaram a dependência dos dados para a tomada de decisão, o que faz com que a surpresa baixista e estruturalmente benigna do IPCA mantenha viva a possibilidade de manutenção da Selic”, diz.
Sanchez ainda ressalta que o Produto Interno Bruto (PIB) subiu acima das expectativas no segundo semestre, mas os canais de transmissão da atividade e do mercado de trabalho para a inflação parecem “relativamente menos obstruídos”.
“Os coeficientes indicam que, com o mercado de trabalho e com o PIB do jeito que está, nós deveríamos ter uma pressão inflacionária muito maior — algo que não está ocorrendo”, afirma.
Ainda em relação à inflação, as estimativas da Ativa apontam que o índice ficará no patamar de 3,1% em 18 meses, se o Copom mantiver a Selic em 10,50% até meados do ano que vem. “Isso significa que a atribuição do Banco Central estará satisfeita, dado que o desvio é mínimo”.
Cenário externo
Sanchez também destaca que as condições externas parecem menos adversas desde a última reunião do Copom, quando optaram por manter a Selic sem alteração.
“Nós tínhamos um ambiente internacional muito mais adverso, muito menos incerteza sobre o ciclo de juros do Federal Reserve e o crescimento da China estava mais robusto. Hoje, o ambiente externo está mais tranquilo”, diz.
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Ação dovish, com uma comunicação hawkish
Apesar de esperar uma ação dovish (suave) do BC na reunião de setembro, o economista-chefe da Ativa não descarta a necessidade de uma comunicação hawkish (dura).
Sanchez ressalta que, se mantiverem a Selic estável, os diretores alegarão que se trata de uma condução necessária, mas também vão dizer que estão dispostos a subi-los.
“Não vão querer anular a possibilidade de um ciclo altista caso venha a ser necessário”, afirma.
Ainda assim, a projeção da Ativa é de que os juros sejam mantidos no patamar de 10,50% até meados do ano que vem. O afrouxamento da política monetária deve voltar no segundo semestre, se as expectativas de inflação ficarem acomodadas, o IPCA corrente continuar benigno e as condições internacionais não se tornarem novamente adversas.
Manutenção da Selic será ‘contraproducente’
Sanchez ainda diz que, se o BC optar pela manutenção da Selic, pode abalar sua credibilidade. Isso porque a maioria do mercado cogita uma alta e os diretores não deram um posicionamento mais “acomodadíssimo” antes de entrarem no período de silêncio.
“Os diretores têm tirado o [corte de] 0,50 ponto percentual da mesa, mas têm insistido que há ainda uma possibilidade de elevar o juro em 0,25 p.p., se for necessário”, afirma.
“Se o mercado for pego com uma estabilidade, pode vir a ser contraproducente”.