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GWI aumenta participação na Gafisa para 37,32% para votar mudanças na gestão

21 set 2018, 18:56 - atualizado em 21 set 2018, 18:56

Gafisa

Por Arena do Pavini – O Grupo GWI, do empresário Mu Hak You, do qual faz parte a gestora GWI Asset Management, aumentou a participação no capital votante da construtora Gafisa para 16.704.119 ações ordinárias, anunciou hoje a empresa. Esse percentual equivale a 37,32% das ações ordinárias emitidas pela companhia. Antes, a GWI tinha 30,2% das ações. Dessa forma, a GWI se consolida como maior acionista individual da Gafisa e se prepara para propor mudanças na gestão da companhia na assembléia marcada para 25 de setembro, semana que vem.

No início de agosto, a Gafisa divulgou um fato relevante informando que a GWI, proprietária de 25,7% das ações da companhia, convocou uma assembléia para trocar os integrantes atuais do Conselho de Administração e eleger indicados por ela. A empresa luta para se recuperar da forte crise do setor, que reduziu as vendas de imóveis e aumentou a devolução de unidades, os chamados distratos.

Disputa pelo poder

A decisão deu início a uma disputa pelo poder na empresa e pelo comando da companhia. As consultorias de governança corporativa Glass Lewis e Institucional Shareholder Services (ISS), que assessoram investidores em tomadas de decisões, recomendaram aos acionistas da Gafisa que votem contra a proposta de destituição do conselho de administração na assembleia.

Para analistas, a troca da gestão da Gafisa seria negativa para a companhia. Segundo a Guide Investimentos, a atual gestão da Gafisa vem conseguindo apresentar melhora operacional no início do ano, e uma eventual restituição do conselho seria negativa para o direcionamento estratégico da Gafisa. No primeiro semestre deste ano, houve ligeiro crescimento das vendas brutas, redução no nível de distratos e esforços para a venda de estoque. A destituição da atual administração pode aumentar incertezas e pressionar ainda mais os papéis da Gafisa.

Segundo a Guide, a GWI detém hoje dois dos sete assentos do conselho. Contudo, o grupo quer ampliar seu controle, pois está insatisfeita com a administração da incorporadora e tem questionado as práticas da atual gestão. A gestora solicitou a troca de todo o conselho da companhia, eleito em abril, por indicados próprios. A pauta será tratada na AGE de acionistas, dia 25.

Controle sem oferta pública após fim da pílula de veneno

A GWI atingiu participação relevante na Gafisa no ano passado. A gestora foi quem sugeriu a alteração da regra que definia que o acionista que atingisse 30% do capital da empresa fosse obrigado a fazer uma oferta pública de aquisição das demais ações, a chamada “pílula de veneno”. Na mudança, aprovada em janeiro deste ano, apesar de manifestação contrária da administração, esse limite subiu para 50% – abrindo caminho para a GWI comprar mais ações no mercado, sem ter que arcar com custo de uma Oferta Pública de Ações (OPA) aos demais minoritários.

O BB Investimentos diz que vê esse movimento promovido pela GWI com cautela, pois o conselho executivo da Gafisa vem tomando medidas para criar valor para a empresa pela retomada de lançamentos comprovadamente adequados e que contribuirão para a melhoria das margens e sua gradual desalavancagem. No entanto, a mudança no Conselho de Administração pode eventualmente alterar o plano de ação que está ocorrendo atualmente e causar impactos negativos nas operações.

Empresário já se envolveu em outras disputas

Não é a primeira polêmica em que o empresário Mu Hak You se envolve no mercado de capitais. Influente na comunidade coreana e avesso a entrevistas e fotos, ele é conhecido por suas apostas altas e teve seu primeiro sucesso na bolsa ao comprar ações da Lojas Americanas, disputando o controle da empresa com o grupo de Jorge Paulo Lemann e seus sócios, conhecidos como os “três mosqueteiros”. Ele foi conselheiro da rede varejista até ter de vender a participação para cobrir perdas nos mercados com a crise de 2011.

Pouco antes, em 2008, na crise do subprime nos EUA, fundos de ações de sua gestora, a GWI, tiveram fortes prejuízos, de até 90%, ao fazer apostas alavancadas em papéis de poucas empresas. Apesar das perdas, Mu Hak manteve a confiança dos investidores e recuperou a gestora, preservando, porém, a estratégia de forte alavancagem, especialmente com papéis da Marfrig.

Os fundos foram bem enquanto o mercado subia, com a alavancagem multiplicando os ganhos das ações e atraindo mais clientes. Até que, em 2011, uma nova onda de perdas praticamente zerou o patrimônio das principais carteiras de ações da GWI. Um dos fundos ficou devendo milhões no mercado e a corretora responsável, a Socopa, foi obrigada a zerar compulsoriamente as posições, assumindo o prejuízo do cliente. Cobrado pela Socopa, Mu Hak alegou que as perdas não eram culpa dele, mas da corretora, que encerrou os negócios sem sua autorização. A Socopa levou então a caso para a Câmara Arbitral da B3. O resultado da disputa não foi divulgado, mas comentários do mercado são de que Mu Hak You teria pago a dívida com a Socopa com imóveis, um de seus ramos de investimento além das ações.

Multa de R$ 7,6 milhões e inabilitação por 5 anos

Em maio do ano passado, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) multou a GWI em R$ 7,6 milhões e suspendeu a autorização para administração profissional de carteira de valores mobiliários de Mu Hak por cinco anos. A punição foi pelas operações a termo (venda ou compra futura) com ações da Marfrig além do permitido por fundos de ações da GWI em 2011. Um dos fundos, que podia ter no máximo 70% do patrimônio em ações de uma só empresa, chegou a ter 90% em papéis do frigorífico, segundo o processo da CVM.

A GWI se defendeu alegando que o desenquadramento ocorreu por conta da forte oscilação dos papéis em virtude  de crises, e que o regulamento do fundo alertava os investidores para o risco que corriam. Mas o relator do processo na CVM, o diretor Henrique Machado, considerou que o problema foi a estratégia irresponsável do gestor, o próprio Mu Hak You, que expôs o fundo à forte concentração em um único papel, como já tinha feito em outras ocasiões.

Fundo chegou a ter 99,8% do patrimônio em Marfrig

O diretor relator destacou que, no final de junho de 2011, o fundo já possuía 4.581.700 ações da Marfrig (64,99% do seu patrimônio líquido) e, no mês seguinte, efetuou compras líquidas totalizando 768.300 ações, um acréscimo de 16,77%. Como apontado pelo Relator, isso, por si só, já seria suficiente para desenquadrar, de forma ativa, a carteira do Fundo. Henrique também salientou que, em 1º de agosto de 2011, o fundo agravou sua situação ao comprar 486.100 ações da Marfrig, passando o papel a representar 99,80% do patrimônio do fundo. Nesse dia, complementou o diretor, praticamente todos os ativos do fundo estavam aplicados em um mesmo emissor, em flagrante desrespeito à regra prevista no regulamento.

Briga com a Saraiva

Em 2016, ele se envolveu em uma disputa com a família proprietária da Saraiva, de quem comprou uma participação de 45% em ações preferenciais, sem direito a voto, conseguindo com isso um assento no Conselho de Administração da livraria, ocupado pelo próprio Mu Hak, e uma vaga no Conselho Fiscal, destinada à advogada e funcionária da GWI Asset, Ana Recart. Com a empresa em crise após vender a editora de livros didáticos para a Somos Educação, Mu Hak passou a interferir na gestão dos negócios comandados pela família, cobrando ajustes.

Até que, no feriado de Corpus Christi de 2016, dia 27 de maio, uma sexta-feira, ele fez uma visita-surpresa à sede da companhia acompanhado de Ana Recart, e deixou recados cobrando os diretores por não estarem trabalhando, mesmo com a empresa em dificuldades. A família considerou uma invasão a entrada de Mu Hak que, duas semanas depois, pediu a convocação de uma assembleia de acionistas para discutir medidas para “mitigar a possibilidade iminente de insolvência da empresa”.

Uma reunião do conselho foi chamada e o empresário mudou o tom e divulgou nos jornais que a assembleia de acionistas teria como tema “os desafios da Saraiva’.

Saída da Saraiva em 2017

A família levou a questão para a CVM, pedindo que a GWI tivesse seu direito de voto suspenso na assembleia, o que foi negado. Foi aberta então uma ação de responsabilidade contra o acionista e a advogada. Mu Hak e Ana Recart foram proibidos de exercer atividades no conselho da empresa. Pouco depois, a GWI decidiu deixar o investimento e começou a vender sua participação na Saraiva, zerando sua posição na empresa em maio de 2017.

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