Guilherme Sales: ascensão das criptomoedas – oportunidades, impactos e riscos
O mercado de criptomoedas tem deixado claro que chegou para ficar. Já adentrando sua segunda década, tem se preparado para novas máximas, atraindo os maiores investidores e instituições financeiras do mundo.
No entanto, os investidores e empresas que buscam adquirir criptomoedas possuem grandes desafios pela frente. O primeiro deles é a qualidade das informações, já que o assunto é relativamente novo e não há um histórico confiável.
Conhecimento técnico específico para gestão de portfólios desse tipo de ativo e a necessidade de grande adaptação nos processos internos também são exigidos.
Outra questão é o impacto que a volatilidade dos ativos poderia causar nos portfólios dos investidores e empresas, dado que a valorização da moeda varia constantemente.
As criptomoedas são um meio de troca que se popularizou em 2017, quando a capitalização do mercado dos criptoativos teve um aumento expressivo, impulsionada pelo surgimento de novas moedas e valorização muito acima dos patamares de ativos convencionais.
Esse rápido aumento atraiu o interesse de muitos, que rapidamente se familiarizaram com o nome “criptomoeda”. Com a popularização da moeda, notou-se uma grande migração dos investimentos tradicionais para o ativo digital.
A empresa de análise de negócios MicroStrategy, um dos maiores detentores corporativos de bitcoin (BTC), anunciou outro investimento de US$ 1 bilhão em bitcoin, em fevereiro deste ano.
Na semana anterior, foi divulgada a notícia de que o braço de investimento de US$ 150 bilhões do Morgan Stanley está planejando adicionar bitcoin ao seu portfólio.
Além disso, a potência bancária Goldman Sachs está montando uma mesa de negociação de criptomoedas, após recuar de um esforço para entrar no mercado depois da queda do bitcoin em 2018.
Impactos na Economia
Poucas pessoas pensavam que as criptomoedas algum dia causariam um impacto tão relevante no mundo. Muitos viram isso mais como um hobby obscuro ou um sonho de enriquecer pela valorização do ativo do que uma oportunidade séria de investimento. Hoje, a história é bem diferente.
Notícias sobre bitcoin e outras criptomoedas, como ethereum (ETH), litecoin (LTC) e até mesmo a recente criptomoeda criada como um meme, a dogecoin (DOGE), estão por toda parte.
Seja com intenção de enriquecer ou alertar sobre uma potencial bolha financeira, a maioria das pessoas já aceitou que os criptoativos trarão um impacto significativo na economia.
Além da utilização como forma de pagamento, empresas estão utilizando a tecnologia de criptografia para diversificar o portfólio de produtos.
Um dos casos é a Mastercard que, em parceria com a corretora Gemini, anunciou seu primeiro cartão de crédito com recompensas em criptomoedas.
Outro caso interessante de utilização dessas novas tecnologias é o da Pringles. Em um leilão virtual, a marca lançou 50 unidades de um novo produto digital, a “Crypto Crisp”, sob a forma de token não fungível (NFT).
O NFT é um tipo de token criptográfico que representa algo único, garantindo um certificado de autenticidade no meio digital. O “sabor” de batata é uma obra de arte virtual que começou a ser comercializada no valor de US$ 2,00 e já equivale a US$ 1.933,89.
Impactos nos Negócios
Muitas empresas estão se movimentando para se adequar à nova realidade das criptomoedas e empresas gigantes, como Tesla (TSLA; TSLA34) e Microsoft (MSFT), já possuem as criptomoedas em caixa e como forma de pagamento para venda de seus produtos.
No entanto, muitas das ameaças individuais inerentes à moeda também se manifestam e afetam os negócios, adicionando uma camada extra de incertezas.
Entre os impactos possíveis estão os altos custos envolvidos para garantir a conformidade regulatória do uso dessas moedas para transações de compra e venda, já que leis contra lavagem de dinheiro e de privacidade teriam que ser cumpridas em um nível de negócios individual, bem como em um nível global, envolvendo uma miríade de saldos e verificações.
Além disso, as instituições podem ser questionadas por várias agências jurisdicionais de aplicação da lei, cada uma com sua própria motivação, ao deixar de cumprir as muitas leis locais e estaduais diferentes.
Outro impacto iminente é a pressão que as empresas sofrerão para se adaptar e disponibilizar essa forma de pagamento para seus clientes, uma vez que grandes empresas já estão adotando.
A decisão de adotar essa estratégia envolveria uma revisão substancial de todo o processo de “order to cash” das companhias, necessitando uma redefinição completa de todos os processos e sistemas envolvidos nessa cadeia.
De forma geral, os criptoativos já conquistaram o mercado e investidores. Basta entendermos qual o nível de prontidão para utilização desse tipo de ativo.
A aceitação e a confiança do público ainda levarão algum tempo para se estabelecer. Mas, daqui para frente, é certa a constante necessidade de mudanças nos negócios para adaptação a essa forma de troca do mundo digital.
Guilherme Sales é associado na Peers Consulting há mais de três anos. Atualmente, atua como gerente associado e lidera as práticas de finanças da Peers. Formado em engenharia mecânica pela UNESP, possui cursos em negócios pela Business Training Company. Atuou também como consultor de analytics na operação do Brasil da Comdata España & Latam.