Arena do Pavini

Guide revê cenários e estima Ibovespa em 68.800 pontos no melhor dos casos

26 maio 2017, 2:07 - atualizado em 05 nov 2017, 14:02

Por Ângelo Pavini, da Arena do Pavini

Dependendo do cenário político, o Índice Bovespa pode variar de 54.500 pontos a 68.800 pontos e o dólar, de R$ 3,10 a R$ 3,65 nas estimativas da Guide Investimentos, que reajustou suas projeções de mercado por conta da crise política iniciada na semana passada. A corretora traçou três cenários de acordo com os desdobramentos da crise e do processo de saída do presidente Michel Temer do governo.

O que os cenários mostram é que há pouco ganho para os investidores em ações mesmo com o desdobramento mais otimista. As chances de queda dos juros, porém, ainda continuam, mas em ritmo mais lento, o que pode beneficiar a renda fixa.

O cenário mais provável, com 50% de chance de acontecer, é que as dúvidas sobre o futuro de Temer durem um pouco mais de tempo, a equipe econômica seja mantida, mas com espaço limitado de manobra para aprovar as reformas. A reforma trabalhista até pode passar, mas a da Previdência, não, apesar de haver alguma chance no médio prazo.

A corretora acredita em uma transição via eleição indireta, com algum candidato de centro-direita e um Congresso de coalização apoiando o novo mandatário. Nesse caso, a recuperação da economia vai demorar ainda mais e o país pode voltar a ser rebaixado pelas agências de rating. O juro Selic cairia um pouco mais devagar, para terminar próximo do projetado hoje pelo mercado, 8,5% ao ano. Os mercados teriam assim uma pressão moderada e menor pressão cambial, com o Ibovespa entre 59.800 e 65.000 pontos. A moeda americana ficari entre R$ 3,25 e R$ 3,45 e o risco-Brasil, medido pelos CDS, entre 2,30 e 2,80 pontos percentuais.

Já o cenário otimista, para a Guide, teria chance de 30% de acontecer e incluiria uma saída rápida de Temer, com a equipe econômica blindada e com condições de levar adiante as reformas no Congresso. Nesse cenário, Temer renunciaria ou seria cassado, com um processo de transição rápido e um Congresso de coalização que elegeria um nome de centro-direita . A recuperação da economia, porém, ainda sofreria algum atraso, e os juros seguiriam uma trajetória de queda mais conservadora que a inicialmente esperada, mas acabando nos mesmos 8,5% ao ano. E os mercados reagiriam melhor, com a bolsa entre 65 mil e 68.800 pontos e o dólar entre R$ 3,10 e R$ 3,25.

O cenário pessimista, com chance de 20% de acontecer, segundo a Guide, prevê Temer continuando no poder fragilizado por muito mais tempo ou seria substituído por um nome sem capacidade de articular o consenso no Congresso para continuar com a política atual de reformas ou ainda a aprovação de eleições diretas, que seriam a opção mais demorada e custosa.

O custo político e econômico seria muito alto, comprometendo a recuperação ainda frágil da economia e com rebaixamento do rating do país. Nos mercados, haveria deterioração adicional dos preços dos ativos, com o Ibovespa entre 54.500 pontos e 59.800 pontos. O dólar oscilaria entre R$ 3,45 e R$ 3,65 e o risco país subiria para 2,80 a 3,30 pontos percentuais.

Abaixo, os três cenários traçados pela Guide.

 

Cenário-Base: alguma incerteza

1. Cenário central (probabilidade1 : 50%);

2. Dúvidas sobre o futuro de Temer duram um pouco mais de tempo; equipe econômica é mantida, embora com certa limitação para levar as reformas adiante (por conta da política & Congresso);

Reforma Trabalhista pode caminhar nas comissões e no Senado;

Reforma da Previdência é muito menos provável (embora não deva ser descartada no

médio prazo).

3. Processo de transição se dá via eleições indiretas, com algum candidato de “centro-direita”, numa espécie de “Congresso de coalizão”;

4. Custo médio em termos políticos e econômicos para o país, retardando a recuperação da economia que já era gradual. Possibilidade de mais revisões de rating/perspectivas do crédito soberano;

5. BC2 : ainda há espaço para cortar a Selic nos próximos meses, possivelmente mais conservador, mas com juros terminal3 não muito diferente do que o projetado até então;

6. Mercados: percepção de risco moderada, menor pressão de depreciação cambial, e perspectiva para a bolsa menos deteriorada para o médio prazo.

Cenário Otimista: voltando aos trilhos

1. Cenário alternativo (probabilidade1 : 30%);

2. Dúvidas sobre o futuro de Temer duram pouco tempo; equipe econômica é mantida, blindada, e sem maiores limitações para levar as reformas adiante (apesar da política & Congresso);

3. Temer renuncia e/ou processo de transição é relativamente “rápido”, sem maiores apelações à Justiça, evitando o prolongamento excessivo das incertezas; eleições indiretas, com algum candidato de “centro-direita”, numa espécie de “Congresso de coalizão”;

4. Custo médio/baixo em termos políticos e econômicos para o país, apesar de retardar a recuperação da economia que já era gradual;

5. BC2 : ainda há espaço para cortar a Selic nos próximos meses, possivelmente mais conservador, mas com juros terminal3 não muito diferente do que o projetado até então;

6. Mercados: perspectivas de melhora gradual, embora não-linear, da percepção de risco-país; retomada do patamar mais valorizado do Real e manutenção da perspectiva mais otimista para a bolsa no médio prazo.

Cenário Pessimista: maior deterioração

1. Cenário alternativo (probabilidade1 : 20%);

2. Dúvidas sobre o futuro de Temer duram por mais tempo; equipe econômica sofre algum revés/baixa; sem capacidade de manter uma agenda minimamente reformista (e sem força política);

3. Temer continua muito fragilizado ou transição via eleições indiretas elege algum candidato de sem capacidade de chegar a consensos ou transição via eleições diretas – opção que deve ser uma saída ainda mais demorada e custosa, com dúvidas ainda maiores sobre “as regras do jogo”;

4. Custo alto em termos políticos e econômicos para o país, retardando e comprometendo qualquer tipo de recuperação da economia. Mais revisões de rating/perspectivas de crédito soberano;

5. BC2 : pouco espaço para continuar com cortes de juros, e possível interrupção do ciclo de flexibilização, tentando conter eventuais efeitos negativos de 2ª ordem (risco & dólar em alta);

6. Mercados: perspectiva de deterioração adicional da percepção de risco, depreciação cambial mais significativa e queda mais acentuada da bolsa nos próximos meses.