Fed: Powell deve enfatizar paciência e aprimorar comunicação com mercado
Em face às críticas recorrentes dos investidores e das pressões advindas do governo durante o último dezembro, o presidente do Federal Reserve Jerome Powell iniciará nova estratégia de comunicação do banco central com o mercado, enfatizando a leniência no ciclo de aperto monetário, mensagem essa não passada no último mês de 2018 e responsável pela alta volatilidade nos índices acionários norte-americanos.
Às 17h00 (horário de Brasília), o FOMC (Federal Open Market Committee) deverá manter a Fed Funds Rate no atual patamar, de 2,25% a 2,5% ao ano, na conclusão do encontro de dois dias que se encerra nesta quarta-feira (30). Trinta minutos depois, o chairman Powell concederá entrevista coletiva a jornalistas, dando início à nova era de comunicação do Federal Reserve.
O evento ocorre quase oito anos depois que Ben Bernanke, ex-presidente do Federal Reserve, realizou a primeira conferência a jornalistas. Oficiais da autarquia acreditam que a tal estratégia aumenta o entendimento pelos investidores das intenções do banco central. Por outro lado, eleva-se o risco de cometer gafes: as ações norte-americanas caíram ao patamar mínimo de 20 meses após Powell indicar em 19 de dezembro de 2018 “alguns aumentos graduais” na taxa básica de juro dos EUA, levando até a rumores de que Trump ensejaria a demissão de Powell.
A pesquisa realizada pela Bloomberg indica que a parte contendo “algumas elevações graduais” deverá ser retirada para 5% dos respondentes. Outros 31% acreditam que a afirmação será substituída pelo vocábulo “paciente”. Outros 36% responderam ser incerta a mudança na afirmação, e 29% apontam manutenção da frase indicativa de aumento futuro na Fed Funds Rate.
“Estamos entrando em um momento complicado para as comunicações”, disse Stephen Stanley, economista-chefe do Amherst Pierpont Securities. “Foi fácil quando o Fed estava elevando as taxas em todos os encontros, mas agora o que ocorre é que o Fed quer destacar a ideia da dependência de dados”, completou Stanley a Bloomberg.
Cautela predomina
O FOMC deverá listar riscos ao crescimento oriundos da paralisação de cinco semanas do governo dos EUA, o que também dificultou projeções econômicas devido à postergação de indicadores importantes.
Para Roberto Perli, partner da Cornerstone Macro em Washington e ex-economista do Fed, acredita na extrema cautela de Powell na entrevista. “Ele continuará a declarar que está atento aos riscos, atento ao horizonte econômico, e não utilizará a palavra “autopiloto” em referência a taxas, balanço de ativos ou qualquer coisa”, disse à Bloomberg.