Guerra na Ucrânia: Putin realmente fracassou na invasão do país vizinho?

A guerra na Ucrânia completou um mês nesta quinta-feira (24). As tensões entre Kiev e Moscou começaram após o governo de Vladimir Putin acumular tropas na fronteira do país ucraniano e autorizar o que ele chamou de “operação militar” no país na madrugada do dia 24 de fevereiro.

São vários os motivos que a Rússia alega para o início do conflito, que vão desde uma possível entrada da Ucrânia para a Otan, a proteção de suas fronteiras e uma suposta “desnazificação” do país comandado por Volodymyr Zelensky.

A invasão começou naquela madrugada e os especialistas decretaram na ocasião: a Ucrânia não tem chance. O poder militar da Rússia é consideravelmente maior, então o esperado era que fosse um conflito rápido e certeiro.

Não foi o que aconteceu. Um mês depois, não há sinalização sobre um cessar fogo. Os ucranianos civis foram às ruas para endossar a resistência.

Justamente por isso, a sensação é de que Putin pode ter fracassado e que o ataque ao país vizinho foi um tiro no pé.

Putin fracassou contra a Ucrânia no primeiro mês?

Para Maurício Santoro, cientista político e professor do Departamento de Relações Internacionais da UERJ, Putin de fato fracassou neste primeiro mês, visto que o desempenho militar Russo tem sido muito abaixo do esperado.

“A previsão de que os russos ocupariam as principais cidades da Ucrânia se mostrou errada. A única cidade que está próxima de ser tomada é Mariupol, que é importante por causa da conexão entre a Crimeia e as província separatistas., mas ainda assim, é uma cidade pequena, com apenas 500 mil habitantes, ou seja, muito aquém daquilo que já era esperado desde o início da guerra”, diz.

O analista ainda destaca, por exemplo, a forma surpreendente com a qual a resistência ucraniana segue. “A gente está vendo uma resistência muito profunda do Povo ucraniano com uma mobilização muito grande por parte da sociedade do governo e um impacto fortíssimo de sanções internacionais contra Rússia”, afirma.

Por outro lado, Leonardo Paz, analista de inteligência do FGV NPII (Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV), acredita que é difícil fazer proposições sobre um fracasso ou não do Kremlin, visto que um mês de guerra é “muito pouco”.

“A Rússia está fracassando? Claro que não! Eu diria que um mês é muito pouco para uma guerra e se inteligência americana previu que Kiev cairia em 48 horas é uma falha dos EUA de estimar as coisas de forma errada. A inteligência americana está alardeando que os Russos fracassaram sobre uma interpretação do que eles esperavam do como seria a guerra. No meu ponto de vista, isso é uma narrativa dos EUA para mostrar que a Rússia está pior que esperado”, analisa.

No entanto, Paz pondera que havia uma expectativa de Moscou para uma aderência de parte dos ucranianos às tropas russas, o que não aconteceu.

Primeiro mês de guerra na Ucrânia é bom para Zelensky

Mesmo com divergências sobre o fracasso ou não, os analistas concordam que no momento atual, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, se saiu melhor neste primeiro mês de guerra.

Segundo Santoro, não há dúvidas do bom desempenho de Zelensky, tendo em vista que a imagem de Putin foi fortemente atingida pela guerra.

Além disso, o cientista político afirma que até a capacidade de liderança do presidente russo dentro do seu próprio país tem sido questionada. Por isso ele classifica que esse “é de longe um momento mais difícil nesses anos em que Putin está no poder”.

“Zelensky virou um grande símbolo da resistência ucraniana contra a invasão russa em contraste com esse estilo mais frio do Putin, que está muito simbolizado por aquelas imagens dele sentado em longas mesas e muito afastado dos seus próprios assessores e dos seus generais” explica.

Para Leonardo Paz, o primeiro mês da guerra na Ucrânia foi positivo para Zelensky, visto que ele superou as expectativas, principalmente se levado em conta o fato de que ele não é um político de carreira.

“Ele está tendo de papel de herói da história, principalmente após recusar de sair do país, ele tem pontuado a população para se auto defender o que, eu acho uma irresponsabilidade completa também, eu jamais teria feito isso, mas a mídia, de maneira geral, tem configurado isso  tudo de forma heroica”, avalia.