Opinião

Guerra comercial é favorável ao ouro? Será que o metal chega a US$ 1.600?

16 out 2019, 7:11 - atualizado em 16 out 2019, 7:58
Ouro
Para o colunista é preciso analisar o histórico de preços do ouro e sua correlação com a guerra comercial (Imagem: Michaela Handrek-Rehle/Bloomberg)

Por Barani Krishnan/Investing.com

O ouro voltou a flertar com a cotação de US$ 1.500 ontem em Nova York, quando os contratos futuros do metal cruzaram esse patamar, mas depois recuaram antes do fechamento. O lingote, por sua vez, também ficou próximo da sua antiga resistência e deve testar novamente essa região ainda nesta semana.

Mais uma vez, as apostas nesse ativo de segurança estão sendo impulsionadas pela guerra comercial. E, mais uma vez, o mundo parece estar aceitando essa lógica simples sem questionar muito.

Mas, será que o enfrentamento comercial entre EUA e China é realmente bom para o ouro? Será que essa disputa poderá fazer com que o metal amarelo ultrapasse os US$ 1.600 antes do fim do ano – alvo almejado pelos investidores do ouro?

Para responder a isso, precisamos analisar o histórico de preços do ouro e sua correlação com a guerra comercial.

Ouro Semanal
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Fator importante: a guerra comercial pode atuar a favor de ambos os lados no ouro

Vamos voltar a janeiro de 2018, quando toda essa questão da guerra comercial teve início. Foi nessa época que o presidente dos EUA, Donald Trump, aplicou tarifas aparentemente inócuas sobre painéis solares e máquinas de lavar residenciais da China. Em seguida, Trump impôs um encargo de 25% sobre o aço chinês e de 10% sobre o alumínio.

As rodadas tarifárias seguintes aconteceram em meados de 2018, mais especificamente nos meses de julho, agosto e setembro, em uma rápida sucessão. Já estamos oficialmente vivendo essa guerra comercial há 464 dias, em que os EUA estão aplicando tarifas exclusivamente sobre US$ 550 bilhões em produtos chineses. E a China está retaliando com tarifas sobre US$ 185 bilhões em produtos norte-americanos.

Agora, vamos ver como os preços do ouro se comportaram nos últimos 20 meses. Ao longo de 2018, o ouro perdeu o patamar de US$ 1.300 por onça em janeiro e atingiu US$ 1.200 em outubro.

O declínio mais acentuado, no entanto, ocorreu entre abril e setembro de 2018, quando a retórica e as ações subsequentes se acirraram durante a disputa. Depois de uma disparada em meados deste ano, quando o metal atingiu as máximas de seis anos um pouco abaixo de US$ 1.560, o ouro vem oscilando sem direção.

Em parte, essa dificuldade pode ser atribuída à realização de lucros em regiões de sobrecompra. Mas a narrativa que ouvimos com mais frequência é que o acordo comercial entre EUA e China pode finalmente estar a caminho, assim como o fim do impasse no Brexit.

A conclusão de dois dos maiores obstáculos para os negócios no mundo reduz a necessidade de se proteger com ativos de segurança, como o ouro, costumamos ouvir.

Mas isso é apenas metade da história.

Uso do ouro para fabricação de joias na China está começando a cair

A parte que raramente ouvimos é que o estresse causado à economia e à confiança no crescimento da China por conta da guerra comercial também está pesando sobre a demanda de ouro usado na fabricação de joias, ornamentos e aplicações industriais.

A bem da verdade, a China ainda é a maior compradora mundial de lingotes de ouro. O banco central do país adquiriu cerca de 10 toneladas de barras do metal apenas em julho, elevando suas reservas para 62,26 milhões de onças, ou cerca de 1.945 toneladas.

Mas, por outro lado, seu setor comercial está enfrentando uma demanda fraca pelo ouro. Apesar de a demanda de joias na China ter aumentando 3% ano a ano em 2018, atingindo a máxima de três anos de 672,5 toneladas, houve uma queda de 3% nessa demanda apenas no quarto trimestre.

Fawad Razaqzada, analista técnico de commodities e câmbio do portal forex.com, escreveu na segunda-feira:

“O fim da guerra comercial entre EUA e China não será necessariamente ruim para o ouro, já que a perspectiva de alta na demanda física de um dos maiores países consumidores, senão o maior, pode dar suporte aos preços”.

Outro aspecto que tem afetado o ouro nas últimas semanas é o dólar estadunidense. O Índice do Dólar, que mede a moeda americana contra uma cesta de seis divisas, atingiu a máxima de quase dois anos e meio a 99,33 em setembro e já subiu mais de 2% no acumulado do ano. Embora isso possa não parecer relevante diante dos picos de seis anos do ouro e da sua valorização anual de 13%, a alta no dólar tem sido um obstáculo intermitente para o metal amarelo nas últimas semanas.

Nas palavras da consultoria de metais preciosos Sunshine Profits:

“A ação dos preços do ouro sugere que, ao contrário da teoria, a guerra comercial tem sido negativa para o metal amarelo, pois está fortalecendo o dólar estadunidense, seu principal concorrente.”

Não descarte – ainda – a possibilidade de o ouro atingir US$ 1.600

Ainda estou confiante de que o ouro alcançará US$ 1.600, ou talvez mais, antes do fim do ano, preparando o terreno para testar sua máxima histórica acima de US$ 1.900 em 2020.

Minha convicção se baseia nas duas oportunidades que o Federal Reserve tem para cortar as taxas de juros antes do fim de 2019, já que é possível haver um corte de 25 pontos-base em cada uma delas, fazendo com que a flexibilização total no ano chegue a 2 pontos. Se o ouro conseguir ganhar – e manter – uma valorização de US$ 50 em cada reunião do Fed, em outubro e dezembro, é possível que os preços superem US$ 1.600.

Também estou cético quanto à capacidade dos EUA e da China de resolver suas diferenças até o fim deste ano, selando um acordo comercial capaz de acabar com o antagonismo entre si. Apesar da minha explicação sobre como a guerra comercial influencia ambos os lados da demanda de ouro, o argumento popular é que o impasse dá suporte ao metal amarelo. Sem uma solução para esse impasse, a expectativa é que o metal continue se segurando.

Andy Hecht, colunista de commodities no Investing.com, compartilha meu ponto de vista, dizendo que a queda nas taxas de juros, a tendência de alta no ouro em todas as moedas, os altos e baixos da guerra comercial e uma variedade problemas envolvendo desde o Irã até o Brexit e o impeachment do presidente Trump podem incentivar compras no ouro em um piscar de olhos.

Segundo Hecht:

“Não ficaria surpreso se um dia eu acordasse pela manhã e visse o ouro em uma nova máxima acima do nível de US$ 1.600 por onça.”

Razaqzada, do site forex.com, cita fatores técnicos e físicos que também explicam por que o ouro pode romper os US$ 1.600 até dezembro.

O analista afirma que os gráficos semanais do ouro mostram que o Índice de Força Relativa (IFR) está desacelerando ao sair da condição de sobrecompra, principalmente por causa do tempo, e não da ação dos preços. Segundo ele, isso é um bom sinal de que o ouro está se segurando perto das máximas sem ceder muito.

Ele também cita os US$ 3,9 bilhões de entradas líquidas registradas por fundos globais lastreados em ouro e produtos em similares no mês de setembro, fazendo com que as posses coletivas do metal atingissem a máxima histórica de 2.808 toneladas, ultrapassando os níveis do final de 2012, quando o ouro era cotado a cerca de US$ 1.700.

Se essas posses dos fundos merecem algum crédito, então o ouro pode subir pelo menos outros US$ 200 a partir dos níveis atuais, segundo ele.

Razaqzada diz ainda:

“O ouro já disparou por quatro meses consecutivos, valorizando-se em oito dos últimos doze meses, além de ter rompido uma consolidação de 6 anos e superado diversos níveis de resistência e médias móveis.”

“Por essas razões, damos preferência a padrões de alta nos preços que surgirem daqui para frente.”

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