Guerra comercial desvia fluxo de fundos da Ásia para América Latina
Quando se trata das tensões EUA–China, as perdas da Ásia têm se convertido em ganhos para a América Latina.
Fundos de investimentos listados nos EUA que investem em títulos e ações da Ásia registraram vendas líquidas de US$ 1,4 bilhão nas últimas duas semanas até 29 de maio, ampliando um período de retiradas iniciado em fevereiro.
ETFs semelhantes que investem na América Latina atraíram cerca de US$ 60 milhões em recursos durante o período de duas semanas, apesar da região ter se tornado o novo epicentro do coronavírus.
Ativos asiáticos têm mostrado melhor desempenho desde a mínima atingida na onda vendedora provocada pelo coronavírus.
Um índice de ações na região agora mostra queda de apenas 6% neste ano. Ações latino-americanas ainda registram queda superior a 30%.
Como ativos asiáticos correm risco de serem atingidos pelo fogo cruzado pela deterioração das relações entre as duas maiores economias do mundo, ativos da América Latina começam a identificar uma série de aspectos positivos.
Os preços de commodities como petróleo e cobre, que estão entre as principais exportações da região, começam a se recuperar, enquanto os valuations são vistos como relativamente atraentes devido ao pior desempenho do mercado latino-americano em relação aos pares globais.
“Podemos ver isso no contexto de uma transferência de liderança do nordeste da Ásia, que foi mais bem-sucedida em derrotar o vírus, para a América Latina, que ainda não reduziu tanto os casos, mas já mostra melhora da atividade”, disse Morgan Harting, que ajuda a administrar US$ 1,2 bilhão no fundo de multiativos de mercados da AllianceBernstein, em Nova York.
“Os investidores parecem muito focados nos dados da atividade.”
Os sinais de recuperação na América Latina ainda estão ameaçados pelo agravamento do surto de vírus. Mesmo com a reabertura da atividade em algumas partes do Brasil, incluindo o epicentro São Paulo, o país registrou recorde de mortes diárias de Covid-19 na quarta-feira.
O México teve o primeiro aumento diário de mais de 1 mil mortes.
Para Mark Mobius, cofundador da Mobius Capital Founders, o impacto do vírus na América Latina não será tão grande devido à população mais jovem.
Segundo ele, os ativos de mercados emergentes estão em forte tendência de alta, e o movimento deve continuar em meio à recuperação em forma de V.
Ian Beattie, codiretor de investimentos e responsável por mercados emergentes da NS Partners, em Londres, disse que a empresa está ajustando a estratégia do portfólio de mercados emergentes para refletir eventos monetários recentes, com maior exposição a mercados, setores e ações cíclicos.
“Tivemos um bom desempenho na China no acumulado do ano e agora pensamos em reduzir nossa alocação lá para aumentar no Brasil e em outros lugares”, disse.
(Atualizada às 10h27 – horário de Brasília)