“Guedes ficará marcado como um dos caras que mataram o teto de gastos”, afirma Raul Velloso
O Dia do Fico de Paulo Guedes custará muito caro ao ministro da Economia. Para ser mais preciso: o preço para que ele permaneça no governo será sua completa desmoralização diante do mercado, que ainda nutria alguma esperança de que ele seria o fiador de uma política fiscal austera, diante do ímpeto populista do presidente Jair Bolsonaro.
“O Guedes vai ficar marcado como um dos caras que matou o teto. O controle fiscal foi amplamente abalado”, afirmou o economista e especialista em contas públicas Raul Velloso ao Money Times. Para Velloso, Guedes perdeu o controle da agenda econômica, o que pode abrir, inclusive, um precedente perigoso para Bolsonaro.
A avaliação de Velloso ecoa declarações do próprio ministro. Na tarde de hoje (22), após se reunir com o presidente Jair Bolsonaro, alimentando ainda mais os boatos de que sairia do governo, Guedes concedeu uma entrevista coletiva em que jogou a toalha (e as chaves dos cofres públicos) para o ex-capitão.
Em alto e bom som, o ministro afirmou que não quer tirar nota 10 em austeridade fiscal, enquanto houver brasileiros passando fome. “Preferimos ajuste fiscal um pouco menos intenso e abraço no social um pouco mais longo”, disse ele à imprensa no auditório do Ministério da Economia, ao lado de Bolsonaro.
Da boca pra fora
“No governo Bolsonaro, a prioridade não será o equacionamento fiscal. É claro que ele vai fazer um discurso diferente. Mas na prática, vai abrir as comportas. Ele está prometendo, por exemplo, compensar os caminhoneiros autônomos pelo aumento do diesel. Isso não tem nada haver com controle fiscal, aquele modelo que o Paulo Guedes vinha seguindo”, afirma Velloso.
Para o economista, o ministro seguirá até o final do mandato, buscando a reeleição junto com o presidente. “Bolsonaro e Guedes fizeram uma espécie de abraço de matar ou morrer. Ou eles conseguem a reeleição, ou eles vão morrer politicamente”, argumenta.
Ainda segundo o especialista em contas públicas, o ministro se encantou com o poder. “Ele não vai sair. Ele vai até o fim. É a opção pelo poder”, completa.
A saída de Guedes voltou à pauta com o pedido de demissão apresentado por assessores próximos ontem, na esteira de suas declarações de que necessita de uma “licença” para gastar mais, a fim de acomodar o Auxílio Brasil de R$ 400, principal arma de Bolsonaro para recuperar a popularidade e sonhar com a reeleição em 2022.