Gringo fez o ‘L’? Dólar derrete e encerra 1º semestre no menor patamar em 7 anos
O dólar à vista encerrou a sexta-feira com queda superior a 1% ante o real, em sintonia com o exterior, onde a moeda norte-americana também cedia ante a maior parte das divisas, e em meio a uma percepção positiva sobre a economia brasileira, após o Conselho Monetário Nacional (CMN) ter mantido a meta de inflação em 3% para os próximos anos.
A moeda norte-americana recuou mais de 8% no mercado à vista nos primeiros seis meses de 2023.
A última queda mais intensa para o período foi em 2016, quando o dólar tombou 18,8%. Além disso, a divisa estrangeira caminha para ter a maior queda para junho desde 2021, quando recuou 4,7%.
O dólar à vista fechou o dia cotado a R$ 4,78 na venda, com baixa de 1,19%. Na semana, a moeda norte-americana acumulou alta de 0,24%.
Na B3, às 17:17 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,86%, a R$ 4,8190.
Pela manhã, a moeda norte-americana chegou a marcar a máxima de R$ 4,88 (+0,80%) às 9h01, com investidores comprados (posicionados na alta das cotações) tentando elevar a Ptax do dia.
A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central com base nas cotações do mercado à vista e que serve de referência para a liquidação de contratos futuros.
No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar (no sentido de baixa das cotações).
Ainda pela manhã, no entanto, ficou claro que o viés predominante seria de baixa para a moeda norte-americana, tanto em função do cenário externo quanto do interno.
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Lá fora, dados da economia dos EUA colocaram o dólar em trajetória de baixa ante outras divisas.
O núcleo do índice de preços PCE — que o Federal Reserve tem como referência para sua meta de inflação de 2% — subiu 0,3% em maio, após alta de 0,4% no mês anterior.
Já os gastos do consumidor subiram 0,1% no mês passado, informou o Departamento de Comércio, após alta de 0,6% em abril.
Os dois números reforçaram as avaliações de que o Federal Reserve poderá ser menos duro em sua política monetária para conter a inflação, o que pesou sobre o dólar.
No Brasil, o viés também era baixista. Isso porque no fim da tarde de quinta-feira o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que a meta de inflação a ser perseguida pelo Banco Central seguiria em 3% em 2024 e 2025 e anunciou que o percentual também serviria de referência para o ano de 2026, o que foi bem visto pelo mercado financeiro.
Profissionais ouvidos pela Reuters afirmaram que isso reduziu parte do risco ainda embutido nos ativos, incluindo os cambiais.
Ao mesmo tempo, Haddad afirmou que a partir de 2025 o BC irá perseguir uma meta contínua, não limitada ao ano-calendário. Com isso, o governo busca suavizar a política monetária em momentos de crise econômica, dando ao BC mais tempo para atingir a meta.
A reação no mercado futuro de juros foi de queda firme das taxas, em meio à perspectiva de que a taxa básica Selic poderá atingir patamares menores. Juros mais baixos, em tese, tornam o Brasil menos atrativo aos investimentos estrangeiros, o que serviria de impulso ao dólar.
A avaliação no mercado, no entanto, era de que ainda que o diferencial de juros entre o Brasil e o exterior diminua, o país seguirá atrativo ao capital estrangeiro, ainda mais em um ambiente de menos risco.
“Já precificam corte da Selic em agosto”, comentou José Faria Júnior, diretor da consultoria Wagner Investimentos. “Hoje o país tem juro real em torno de 10%. Com o corte da Selic, pode ficar em torno de 8% ou 9%. Ainda assim é muito juro real”, avaliou.
Para o consultor, o dólar à vista tem espaço para voltar às mínimas vistas em 2022, com cotações em torno de 4,65.
Quando o Federal Reserve iniciar o processo de cortes de juros nos EUA — algo que deve acontecer apenas em 2024 — as cotações no Brasil podem cair ainda mais, avalia Faria Júnior.No fim da tarde, o dólar ainda sustentava perdas antes as demais divisas no exterior.
Às 17:17 (de Brasília), o índice do dólar –que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas– caía 0,40%, a 102,920.
Pela manhã, o BC vendeu todos os 16.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados na rolagem dos vencimentos de agosto.
Com Flavya Pereira