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‘Gringo comprou Lula’, diz gestor, após dólar derreter 5% com eleição

02 nov 2022, 11:00 - atualizado em 01 nov 2022, 20:02
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Dólar contrariou expectativas do mercado e, no primeiro momento, caiu R$ 0,30 após eleição de Lula com ajuste local e fluxo estrangeiro (Imagem: Pixabay)

O dólar à vista despencou mais de 5%, ou R$ 0,30, em duas sessões após a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que volta a ser presidente da República a partir de 2023, pela terceira vez.

O comportamento da moeda norte-americana contraria, no primeiro momento, as expectativas do mercado de que haveria estresse na taxa de câmbio, que poderia chegar à faixa entre R$ 5,50 e R$ 5,60.

Na segunda-feira, o dólar abriu a sessão a R$ 5,40, até renovar mínimas a R$ 5,21. No pregão seguinte, a moeda renovou mínimas a R$ 5,08 até fechar ao menor valor desde o início de setembro, a R$ 5,11.

O sócio e gestor da Galapagos Capital, Fábio Guarda, explica que o investidor local foi para o primeiro turno das eleições “tenso”, com aposta de alta da moeda estrangeira. “O mercado entrou outubro com uma tensão muito grande e as posições vieram muito defensivas”, comenta.

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Receio de contestações

Segundo ele, ao longo do segundo turno, com o acirramento das campanhas eleitorais de Lula e do presidente Jair Bolsonaro, o mercado foi “colocando bastante risco do processo eleitoral no preço do dólar”, com receios de que haveria uma contestação do resultado da eleição ainda no domingo.

“Não teve essa contestação. Daí, o primeiro movimento foi um rali do investidor brasileiro. Quem estava vendido na bolsa [brasileira] zerou essas posições. Assim, começou a queda do dólar”, diz.

Estrangeiro ‘comprou Lula’

Guardia destaca que, além do movimento local, houve uma forte entrada de investidor estrangeiro na B3. O sócio-analista da Eleven Financial, Raphael Figueredo, comentou em sua conta no Twitter que, na segunda-feira (31 de outubro), o Ibovespa operava com um volume de R$ 47,2 bilhões. “Não é brinquedo não, hein. Sim, [são] gringos”, escreveu na rede social.

“Nos últimos meses, esse volume médio ficou em R$ 30 bilhões”, acrescenta o sócio-analista da Ajax Asset, Rafael Passos. O gestor da Galapagos avalia que o “gringo” é mais favorável à Lula por ter uma agenda ambiental e ESG (práticas de governança ambiental, social e corporativa) mais participativa e global.

“O investidor [estrangeiro] comprou a eleição de Lula”, diz, acrescentando que gringos comprariam ativos brasileiros de qualquer jeito, transcendendo Lula e Bolsonaro.

“O Brasil deve ser a ‘menina dos olhos’ nos próximos dois, três anos. Mas é inegável que o Lula tem um trânsito muito melhor. Ele tem uma figura mais palatável ao olhar estrangeiro”, ressalta.

Em evento promovido pela Empiricus Investimentos, o sócio-fundador da gestora SPX Capital, Rogério Xavier, reiterou que Lula puxará investimentos estrangeiros. “Lula tem uma agenda mais amigável do ponto de vista do meio ambiente, na questão das armas, política externa. A gente, no Brasil, esgarçou demais os limites desses assuntos, dando pouca importância ao mundo e quase se isolando”, disse.

Xavier acredita que essa reaproximação do país das pautas de interesse do estrangeiro deverá trazer de volta a atenção deles para o Brasil e, com isso, o fluxo de investimento.

Dólar pode cair mais…

Daqui a pouco, à tarde, tem a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), na qual a expectativa é de que elevação da taxa de juros, mais uma vez em 0,75 ponto percentual (p.p.).

Para Guarda, da Galapagos, caso o Fed sinalize que deverá reduzir o ritmo de alta de juros nas próximas reuniões, há fôlego para o dólar cair mais no mercado doméstico, podendo furar o nível de R$ 5.

…ou pode subir

Porém, há um fator que pode, de fato, estressar a taxa de câmbio: os nomes que irão compor o governo do PT. Ontem, Geraldo Alckmin, vice-presidente eleito, foi anunciado como coordenador de transição do governo Lula. Mas o mercado quer saber mesmo é quem vai assumir os Ministérios da Fazenda (hoje, da Economia) e da Casa Civil.

O gestor da Galapagos observa que há nomes que agradam mais ao mercado do que outros, como o de Henrique Meirelles para a Fazenda. De 2003 a 2010, nos dois governos de Lula, Meirelles foi presidente do Banco Central (BC) e, anos depois, ele assumiu o Ministério da Fazenda no governo de Michel Temer.

O profissional da gestora pondera que a melhor decisão de Lula seria indicar um nome do PT, com perfil político, para assumir a Casa Civil, enquanto para a Fazenda, um economista mais próximo do mercado. “Nomes que o mercado não aprova tanto certamente estressariam o dólar”, comenta.

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