Grão de ouro, produtores enfrentam uma época de grandes desafios para o milho
O milho, é uma espécie originária da América Central, e no Brasil, é um dos destaques de produção. No país, o grão apresenta duas principais safras, a de verão e a safrinha (ou segunda safra), a última ainda em campo nas lavouras neste período de outono.
Atualmente, os produtores enfrentam uma época de grandes desafios para o milho. Condições climáticas adversas, como o atraso no plantio e o excesso de chuva na colheita da soja, atrapalharam a janela de plantio dos agricultores de milho safrinha.
O resultado é que muitos plantaram em condições inadequadas de semeadura, enquanto outra grande parte adiou o plantio para o mês de março, mesmo com a incerteza se as chuvas iriam se estender, colocando em risco a produtividade.
De acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o terceiro prognóstico de milho em grão para 2021 (101,7 milhões de toneladas) estima um declínio de 1,5% em relação à safra 2020 (1,6 milhão de toneladas a menos).
Para os agrônomos Fabrício Amaral e Harley Sales tal cenário somado à alta demanda do milho no mercado externo, elevaram o preço do grãos com a possibilidade de subir ainda mais se for realmente confirmada uma quebra na safrinha.
“Se por um lado, essa valorização é boa para o produtor rural, que pode ter uma compensação financeira mesmo com uma produção possivelmente menor, a baixa oferta é bastante prejudicial para toda a cadeia agrícola nacional, que depende do grão para abastecer diversas frentes, com destaque para a ração animal, em atividades como a suinocultura e a avicultura”, avalia os especialistas em um estudo sobre a cultura.
Cotação
A cotação do milho no Brasil alcançou valores superiores a R$ 100,00 a saca. Com este cenário, que comemoramos o dia internacional do milho neste 24 de abril.
Mas para alguns exaltar o grão numa época em que está altamente valorizado no mercado não seria necessário.
Para Haroldo Tavares Elias, analista de socioeconomia da Epagri/Cepa o momento para alguns não é de comemoração. “Em um momento de escassez para os consumidores e, sobretudo, para os suinocultores, avicultores, produtores de leite e todo complexo agroindustrial de produção de proteína animal no Brasil o cenário pode soar até como provocação”.
O analista avalia também o cenário do grão em Santa Catarina, estado onde o valor econômico do cereal para a agropecuária catarinense é significativo, sendo 7,3% da produção agropecuária total, representando um valor próximo de R$ 3 bilhões.
“A demanda necessária para suprir as fábricas de rações e todo complexo agroindustrial catarinense ultrapassou a 7 milhões de toneladas em 2020. Em 2021, em função da quebra da safra catarinense, será necessário a aquisição de mais de 5 milhões de toneladas, vindas de outros estados e do exterior”, avalia Haroldo.
Santa Catarina
O ultimo censo agropecuário do IBGE levantou o número de 81 mil produtores de milho em Santa Catarina, o que denota, além da importância econômica, a questão social da atividade.
Soma os milhares de produtores das unidades descentralizadas do sistema de integração, que é a base da cadeia produtiva do complexo agroindustrial catarinense de proteína animal.
“Além do valor monetário apontado, grande número de produtores utilizam o cereal para autoconsumo, com uma enorme diversidade de variedades especiais, como os cultivares tradicionais, a pipoca, o milho verde e a canjica”, comenta o analista da Epagri/Cepa.
Também é importante destacar os subprodutos, desde o etanol, que já consome mais de 6 milhões de toneladas no Brasil, até o amido, a farinha para a broa, o curau brasileiro e a polenta italiana.
Por tudo isto, o milho deve ser valorizado para muito além do mercado de commodities, lembrando inclusive a sua importância para a alimentação direta.