Internacional

Governos devem reduzir endividamento após crise, diz Bundesbank

17 abr 2020, 7:32 - atualizado em 17 abr 2020, 7:33
Presidente do Banco Bundesbank, Jens Weidmann
Weidmann, cuja candidatura à presidência do Banco Central Europeu no ano passado foi prejudicada por preocupações de que sua postura financeira conservadora impediria o combate a crises (Imagem: Facebook/Deutsche Bundesbank)

O presidente do Bundesbank, Jens Weidmann, elogiou os governos da zona do euro pelos gastos “significativos e impressionantes” na batalha contra o coronavírus, mas alertou que os países precisarão apertar os orçamentos assim que a emergência passar.

Weidmann, cuja candidatura à presidência do Banco Central Europeu no ano passado foi prejudicada por preocupações de que sua postura financeira conservadora impediria o combate a crises, disse em entrevista por e-mail à Bloomberg que a economia precisará de amplo apoio por algum tempo.

Ele também argumentou que a “pandemia mostra claramente a importância de uma política fiscal sólida”.

“Uma postura fiscal extremamente expansionista não pode ser sustentada permanentemente”, disse. “No futuro, todos os países terão que se concentrar em reduzir os índices de endividamento muito altos e garantir a aceitação no mercado de capitais, e fazer isso de maneira compatível com nossas regras fiscais.”

Os comentários atingem o foco do debate sobre como a Europa deve lidar com as consequências do coronavírus. Governos do bloco de 19 países destinaram centenas de bilhões de euros para apoiar pequenas empresas e compensar os salários perdidos.

Nações como Alemanha e Países Baixos rejeitaram ferramentas que compartilhariam os custos, como títulos conjuntos, e se concentraram em disponibilizar empréstimos para países mais atingidos, como Itália e Espanha. Já muito endividados, esses países mediterrâneos temem um aperto de austeridade se depois forem pressionados a reduzir o endividamento.

Investidores refletem suas preocupações. O spread entre os rendimentos dos títulos italianos e espanhóis em comparação com os alemães aumentou, relembrando a crise da dívida de 2012. Alguns acham que serão necessárias mais ações fiscais ou monetárias.

“Ainda não é possível dizer com certeza se as medidas adotadas até o momento serão suficientes”, disse Weidmann, de 51 anos, que faz parte do Conselho de Governadores do BCE. “A política monetária tem dado uma grande e importante contribuição no âmbito de seu mandato e continuará desempenhando seu papel.”

O BCE prometeu comprar mais de 1 trilhão de euros (US$ 1,1 trilhão) em dívida pública e privada neste ano e está oferecendo dinheiro quase ilimitado aos bancos para garantir que continuem canalizando crédito para empresas e famílias.

Os confinamentos para enfrentar a pandemia atingiram o continente com a pior crise econômica desde a Segunda Guerra Mundial. O Fundo Monetário Internacional prevê retração econômica anual de 7,5% para a zona euro.

Isso pressupõe que a pandemia desapareça no segundo semestre e as medidas de contenção possam ser gradualmente revertidas, um cenário que Weidmann descreveu como “geralmente plausível”.

Nesta semana, o FMI realiza as reuniões de primavera virtualmente pela primeira vez. O credor de Washington concedeu bilhões de dólares em ajuda aos países mais vulneráveis, aprovou alívio do serviço da dívida para 25 estados de baixa renda e estabeleceu linhas de liquidez de curto prazo para evitar a escassez global de dólares.

Weidmann chamou essa linha de liquidez de “adição importante” ao kit de ferramentas do FMI e a suspensão dos pagamentos do serviço da dívida como “crucial” para permitir que países pobres concentrem recursos no apoio aos cidadãos.