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Governo “esfacelou” a Petrobras (PETR3), diz assessor de Lula

08 fev 2022, 12:20 - atualizado em 08 fev 2022, 12:20
“A dependência das importações aumentou”, disse Mello falando sobre a Petrobras

O Brasil precisa de ferramentas além da taxa de juros para conter os choques de preços que ajudaram a colocar a inflação acima de 10% pela primeira vez em quase seis anos, de acordo com um dos conselheiros econômicos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Guilherme Mello, 38, integrante de um grupo que assessora o candidato petista em questões econômicas, afirma que o Brasil perdeu parte da capacidade de suavizar oscilações bruscas nos preços de alimentos e de combustíveis ao enfraquecer a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e mudar o foco de atuação da Petrobras (PETR3;PETR4), tornando-a mais dependente das importações.

O Brasil está enfraquecido para lidar com o impacto das quebras da cadeia de suprimento alimentar no pós-pandemia porque governos anteriores destruíram instrumentos de coordenação e de regulação, incluindo sua capacidade de armazenar milho, feijão, arroz, entre outros grãos amplamente consumidos, afirmou em entrevista por videoconferência de sua casa em Campinas.

“Hoje, a Conab não tem estoque praticamente nenhum, de nenhum alimento. Como vamos interferir em preço se não temos estoque regulador?”, disse Mello, criticando a decisão do Banco Central de aumentar agressivamente as taxas de juros.

“Com desemprego alto, pobreza, miséria e fome, promover recessão para controlar a inflação é um instrumento amargo demais”.

Mello faz parte de um grupo de economistas que estudou na Unicamp e defende o investimento público para impulsionar a produção e corrigir desequilíbrios entre oferta e demanda que afetam a inflação, em vez de depender apenas da política monetária para regular a oferta de dinheiro.

Em 2018, ele coordenou o programa econômico de Fernando Haddad, que concorreu à presidência pelo PT enquanto Lula estava preso.

O BC aumentou a taxa básica de juros em 8,75 pontos percentuais desde março do ano passado, o maior valor de qualquer grande autoridade monetária durante a pandemia, com novos aumentos, em ritmo mais lento, ainda previstos para este ano. No entanto, as expectativas de inflação continuam a aumentar.

Estado enfraquecido

O Brasil viu o enfraquecimento de outros reguladores ambientais importantes, como Ibama e ICMBio, além do BNDES, disse Mello.

No caso da Petrobras, decisões recentes mudaram o foco da empresa para áreas mais rentáveis ​​de exploração de petróleo em vez de refino, deixando-a incapaz de produzir e controlar o preço de grande parte do combustível consumido no Brasil.

“A dependência das importações aumentou”, disse Mello. “Um dos motivos para o aumento do preço dos combustíveis é porque Brasil desmembrou, esfacelou a empresa e a transformou numa empresa basicamente de exportação de petróleo cru, perdendo instrumentos de gestão de política econômica que dispunhamos antes. Ficamos à mercê do preço do petróleo no mercado externo e do câmbio, que é um dos mais voláteis do mundo”.

Embora concorde que o Banco Central não tem outra opção além de aumentar as taxas de juros no curto prazo, Mello disse que os formuladores de políticas estão desconsiderando seu mandato secundário de promover o pleno emprego, conforme definido na lei de autonomia recém-aprovada. “Nas atas do BC, a palavra emprego não aparece em vários momentos”, disse ele.

Estado à frente do crescimento

Mello propõe uma mudança na política econômica promovida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, inclusive com a retomada do BNDES como instrumento para impulsionar o crescimento. “Nenhum empresário sai na frente no meio de uma recessão. Quem sai na frente e garante é o Estado.”

Durante os governos de Lula e de sua sucessora Dilma Rousseff, o BNDES foi criticado por conduzir a política dos chamados campeões nacionais entre as empresas brasileiras ao conceder empréstimos consideráveis ​​a taxas abaixo do mercado, muitas vezes para empresas com boas relações com o governo.

Mello diz que Lula precisará construir alianças para vencer e será pragmático e não ideológico para governar, se eleito.

“Lula é pragmático desde sempre. Apesar de 2003 ser cenário grave do ponto de visto econômico, hoje do ponto de vista institucional temos situação mais grave”, afirmou.

“É importante o que Lula vem falando de construir um movimento. Não é só uma candidatura de um partido, é um movimento político de resgate e de reconstrução, Vai ser preciso um arranjo político amplo.”

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