Economia

Governo pode elevar meta de inflação de 2025, diz Kanczuk

17 jan 2023, 14:57 - atualizado em 18 jan 2023, 15:40
Governo
“O mercado vê que há expansão fiscal, o que normalmente termina em inflação, e a forma de evitar isso é o BC aumentar os juros”, disse Kanczuk, que foi diretor de política econômica do Banco Central até o final de 2021 (Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva provavelmente aumentará a meta de inflação para 2025 em uma tentativa de evitar que o Banco Central tenha de elevar os juros para níveis mais altos para conter a inflação, de acordo com um ex-membro do Copom.

Fabio Kanczuk, atual head de macroeconomia da Asa Investments, vê “probabilidade razoável” de o governo elevar a meta de inflação para algo entre 4% e 4,5%, a partir do patamar de 3% previsto para 2024. Isso poderia dar ao Banco Central mais espaço para lidar com os aumentos de preços que provavelmente serão alimentados pelos planos de gastos de Lula.

“O mercado vê que há expansão fiscal, o que normalmente termina em inflação, e a forma de evitar isso é o BC aumentar os juros”, disse Kanczuk, que foi diretor de política econômica do Banco Central até o final de 2021, em entrevista.

As metas de inflação, introduzidas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 1999, são determinadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão responsável por estabelecer metas para políticas monetárias e de crédito que são perseguidas pelo Banco Central.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem assento no CMN, mas os ministros de Lula são maioria, incluindo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento, Simone Tebet.

Depois de manter metas de inflação de 4,5% por décadas, o CMN começou a reduzi-las gradualmente em um quarto de ponto base ao ano a partir de 2019. O órgão pretendia trazer o Brasil, um país que havia sofrido surtos de hiperinflação na década de 1980, para um patamar mais em linha com o ritmo dos aumentos de preços observados em outras economias em desenvolvimento.

O esforço para consolidar níveis mais baixos de inflação foi possibilitado por reformas estruturais aprovadas pelo Congresso, incluindo a reforma da Previdência em 2019, que freou o crescimento explosivo dos gastos com a previdência.

Uma reversão dessa estratégia pode ser vista com desconfiança pelos investidores que já se preocupam com gastos excessivos no governo Lula. Campos Neto disse no ano passado que mudar as metas de inflação não ajudaria na credibilidade.

Desancorando expectativas

Economistas do mercado, também preocupados com as perspectivas fiscais, começaram a projetar a inflação acima da meta para 2025.

A pesquisa Focus do BC mostra que eles veem os preços subindo 3,5% naquele ano, acima da meta de 3%.

As expectativas continuaram a piorar mesmo depois que Haddad divulgou na semana passada um plano para ao menos reduzir pela metade o déficit fiscal primário do país, que não leva em conta o pagamento de juros, para algo entre 0,5% e 1% do Produto Interno Bruto.

Kanczuk disse que é contraditório para o Copom começar a cortar a taxa básica Selic, atualmente em 13,75% ao ano, enquanto as expectativas de inflação para 2025 permanecem acima da meta. Ele também teme que o plano de Haddad, baseado principalmente no aumento da receita do governo e menos nos cortes de gastos, seja insuficiente para manter a dívida bruta do Brasil em torno de 75% do PIB nos próximos quatro anos, conforme afirmou o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, na semana passada.

A pesquisa Focus do BC mostra que eles veem os preços subindo 3,5% naquele ano, acima da meta de 3% (Imagem: Banco Central/Antônio Cruz)

Enquanto Haddad tenta conter o déficit fiscal, Kanczuk está pessimista sobre as perspectivas econômicas, considerando o impacto dos gastos públicos na inflação e a trajetória das taxas de juros. Ele estima que a dívida bruta aumentará para 90% do PIB até o final do mandato de Lula e vê a economia estagnada este ano.

Isso é um golpe para os planos de Haddad de reduzir o déficit, considerando que sua estratégia também se baseia nas expectativas de mais receita do governo decorrente de uma economia em rápido crescimento. Haddad revelou o plano na semana passada em uma apresentação repleta de críticas não tão veladas ao Banco Central, dizendo que as políticas do BC agora terão grande impacto nas perspectivas econômicas do país.

Para Kankzuc, o BC tem agora sua autonomia prevista na Constituição e deve continuar ignorando as provocações como sempre fez no passado.

“Desentendimentos entre o Banco Central e o ministério da Fazenda são normais”, disse. “Só não sei o porquê do tom provocativo.”

bloomberg@moneytimes.com.br