Governo de Truss à beira do colapso com pressão de conservadores
A liderança de Liz Truss à frente do governo do Reino Unido está por um fio diante da pressão de parlamentares do Partido Conservador, que abertamente pediram a renúncia da primeira-ministra. Até ministros do gabinete discutem seu futuro.
Em um dia tumultuado no Parlamento na quarta-feira, Truss demitiu uma ministra sênior e uma votação rotineira na Câmara dos Comuns foi dominada pelo caos provocado por rebeldes do Partido Conservador.
Na manhã desta quinta-feira, o secretário de imprensa de Truss disse a jornalistas por mensagem de texto que Downing Street iniciaria uma ação disciplinar contra os conservadores que não apoiaram o governo em uma votação na quarta-feira sobre fraturamento hidráulico, que foi tratada como uma moção de confiança. Parlamentares já haviam sido ameaçados de expulsão do partido se não seguissem a mesma linha.
Mas a própria primeira-ministra também pode ser expulsa do cargo por seu partido, já que até alguns aliados mais próximos juntam forças para removê-la.
Ministros do gabinete participaram de conversas tarde da noite sobre se Truss deveria renunciar, de acordo com duas pessoas a par das discussões. E um número crescente de parlamentares do Partido Conservador agora quer que Truss renuncie imediatamente – até sua ex-aliada Sheryll Murray, segundo a qual a posição da primeira-ministra era “insustentável”, disse no Twitter.
“Precisamos efetuar uma mudança, francamente, hoje para acabar com esta confusão”, disse o veterano Crispin Blunt, do Partido Conservador, em entrevista à BBC. Simon Hoare, outro rebelde convicto do partido, afirmou que Truss tinha 12 horas para mudar a situação.
Mesmo a ministra de gabinete enviada para defender o governo na mídia não parecia confiante sobre as perspectivas para Truss. Questionada na Times Radio se Truss, de 47 anos, vai liderar os conservadores na próxima eleição – prevista para janeiro de 2025, no máximo – a ministra dos Transportes, Anne-Marie Trevelyan, disse: “No momento, esse ainda é o cenário”.
O problema para os rebeldes é a falta de um candidato óbvio que una o partido para substituir Truss como líder. O ex-ministro das Finanças Rishi Sunak e a líder da Câmara dos Comuns, Penny Mordaunt, são vistos como os candidatos mais prováveis, tendo ficado em segundo e terceiro lugar na disputa pela liderança há alguns meses.
Ainda assim, o risco para Truss é que os eventos comecem a se tornar uma bola de neve. Até ontem, havia uma visão amplamente difundida em seu partido de que uma mudança de liderança deveria esperar pelo menos até que um novo plano econômico fosse anunciado em 31 de outubro para acalmar os mercados financeiros.
Mas a demissão da ministra do Interior, Suella Braverman, por uma violação de segurança, que em tempos normais poderia lhe render uma mera repreensão, alienou uma parte da direita de seu partido, e a própria Braverman não mediu palavras em sua carta de despedida à primeira-ministra.
“Fingir que não cometemos erros, continuar como se todos não pudessem ver que os cometemos e esperar que as coisas magicamente deem certo não é política séria”, disse.
A demissão de Braverman seguiu a de Kwasi Kwarteng, que foi substituído como ministro das Finanças na semana passada por Jeremy Hunt. Que Truss tenha nomeado Grant Shapps para substituir Braverman é um sinal do nível de fragilidade da primeira-ministra. Há apenas duas semanas, na conferência do Partido Conservador, ele conspirava abertamente para expulsá-la.
Em apenas seis semanas no cargo, Truss já provocou uma onda vendedora da libra, foi socorrida pelo Banco da Inglaterra, abandonou quase todo o seu programa de políticas e demitiu dois de seus aliados políticos mais próximos.
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