Economia

Governo culpa Selic sobre desaceleração do PIB; pressão para BC reduzir os juros aumenta

02 mar 2023, 13:54 - atualizado em 02 mar 2023, 13:54
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PIB: Com Selic alta, a tendência é de que as pessoas gastem menos, fazendo com que a economia desacelere. (Imagem: Shutterstock)

O Produto Interno do Bruto (PIB) apresentou crescimento de 2,9% em 2022. Apesar da alta, a atividade econômica entrou em um movimento de queda.

Em 2021, por exemplo, o crescimento do PIB foi de 5%, segundo as revisões do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, nos últimos três meses do ano passado, foi registrada queda de 0,2%, enquanto a atividade econômica do terceiro trimestre foi revisada para baixo, de 0,4% para 0,3%.

Ou seja, a economia brasileira está desacelerando e o governo culpa o aperto monetário promovido pelo Banco Central. Em março de 2021, o BC começou a aumentar a Selic na tentativa de controlar a inflação. Hoje, a taxa básica de juros se encontra no patamar de 13,75% ao ano desde agosto.

Basicamente, com os juros mais caros, consumidor paga mais para ter acesso ao crédito. A tendência, então, é de que as pessoas gastem menos, fazendo com que a economia desacelere.

E isso foi visto nos números do setor de Serviços. No 4º trimestre, apesar de o segmento registrar anta de 0,2%, houve queda de 0,9% no Comércio. No resultado anual, o setor de Serviços liderou com alta de 4,2%, puxado pela reabertura econômica no início do ano.

“Apesar do resultado relativamente em linha, a qualidade dos dados se mostrou ruim, principalmente com a Formação Bruta de Capital Fixo. Vale destacar que os bens de capital servem como termômetro para o aquecimento econômico futuro”, destaca Guilherme Sousa, economista da Ativa Investimentos.

Os dados de 2022 mostram que houve alta de 0,9% da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), somando R$ 1,9 trilhão.

Segundo a Reuters, em conversa com jornalistas nesta quinta-feira (02), o ministro Fernando Haddad descartou a possibilidade de recessão econômica. Ele também afirmou que a retração do PIB é um reflexo da alta dos juros promovida pelo Banco Central. “Evidentemente, a manutenção das taxas nesse patamar enseja…uma desaceleração da economia”, disse.

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O lado político do PIB

No entanto, mas do que econômico, o PIB do ano passado parece refletir o cenário político brasileiro.

Renan Suehasu, planejador financeiro e sócio da A7 Capital, aponta para o aumento significativo do consumo das famílias (4,3%), que foi um setor que se beneficiou nos últimos meses com os incentivos e benefícios do governo.

Durante as eleições de 2022, o então presidente Jair Bolsonaro usou a máquina pública para ampliar o valor pago pelo Auxílio Brasil, além liberar subsídios em relação aos combustíveis.

“Destaque negativo para o setor de agropecuária, que teve um decréscimo de 1,7% ao longo de 2022. Isso por conta de existir uma grande insatisfação da classe com relação aos resultados das eleições. Acredito que isso pode ter tido impactado nos investimentos desse setor”, afirma.

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A carta na manga contra a Selic

Desde que tomou posse, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem tecendo duras críticas à política econômica do Banco Central. Para Lula, a Selic está muito alta, dificultando o crédito, e a inflação não está respondendo o suficiente.

Em entrevistas, o presidente chegou a sugerir a revisão das metas de inflação e tenta convencer o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de reduzir a taxa básica de juros.

Com o resultado do PIB, ainda que seja um retrovisor, o governo agora tem mais uma carta na manga para pressionar a autoridade monetária a repensar o patamar da Selic.

A Secretaria de Política Econômica, do Ministério da Fazenda, afirma que o PIB de 2022 mostra um arrefecimento significativo no ritmo de crescimento e que a desaceleração acentuada repercute o ciclo contracionista da política monetária.

E o governo tem motivos para se preocupar. Segundo a análise do Banco Original, olhando para frente, por um lado temos a desaceleração global, os desafios fiscais do governo Lula, as condições financeiras apertadas e as preocupações que cercam o mercado de crédito, desenhando uma perda contínua de fôlego da atividade.

“Por outro, temos como contraponto a reabertura chinesa, as transferências de renda por parte do governo brasileiro e um mercado de trabalho ainda aquecido, além de promessa de safras recordes no campo. Juntando tudo, projetamos um crescimento de 0,7% do PIB em 2023”, diz em relatório.