Governo anula leilão de arroz importado; Neri Geller deixa o ministério da Agricultura
O Governo Federal decidiu anular o leilão para compra de 300 mil toneladas de arroz importado realizado na semana passada, afirmou o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, nesta terça-feira (11). O leilão foi anulado após suspeitas de irregularidades publicadas na mídia brasileira. Ele disse ainda que não há data prevista para o novo leilão.
“Nenhum centavo do dinheiro público foi gasto até agora. A segurança jurídica e o zelo com o dinheiro público são princípios inegociáveis. É isso que justifica a decisão tomada”, afirmou o presidente da Conab, Edegar Pretto.
O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, pediu demissão do cargo após suspeitas de conflito interesse ligado ao leilão, disse uma fonte com conhecimento do assunto. O pedido foi aceito pelo ministro Carlos Fávaro.
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A saída de Geller estaria ligada ao fato de o ex-assessor Robson França ter representado, por meio da Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso, empresas vencedoras no leilão, conforme reportagens publicadas no jornal O Estado de S. Paulo e Valor Econômico.
Vale lembrar que na semana passada, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão sobre o leilão e a importação do grão.
Ainda segundo uma fonte ouvida pela Reuters, o filho de Geller, Marcelo, é sócio de França. Pretto citou questionamentos sobre a capacidade técnica e financeira das empresas ganhadoras do leilão.
Em entrevista, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, ressaltou que serão construídos mecanismos para avaliar as empresas que vão participar do novo leilão.
“Quem habilitava as empresas a participar do leilão era a Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso e não a Conab, com isso, nós só sabíamos após o resultado quem a bolsa habilitou e quem venceu. Haviam empresas que não contavam com capacidade financeira para operar um volume deste tamanho”, disse.
Importação trouxe desincentivo para o setor do arroz, diz analista
A medida foi anunciada após a tragédia climática no Rio Grande do Sul, estado que responde por cerca de 70% da safra nacional. No entanto, os produtores argumentam que a colheita estava quase toda finalizada quando começaram a ocorrer as inundações, sem impacto relevante na produção.
O analista de arroz da Safras & Mercado, Evandro Oliveira, ressalta que a medida de zerar a tarifa de importação trouxe apenas desincentivo ao mercado do arroz no Brasil.
“Se o Governo estivesse tão preocupado com os preços do grão neste ano, ele teria atuado nos custos de produção desse ciclo, que chegaram a R$ 100 por saca. Inclusive, antes da calamidade, o Governo do RS tentou aumentar os impostos dos produtos da cesta básica, que só não ocorreu pelas enchentes. Para as próximas safras, a tendência é que o arroz conte com menores áreas plantadas. Ao invés de subsidiar um produto de fora, por que não subsidiar um produto nosso?”, questiona.
Ademais, as exportações do arroz estão fracas neste ano. “Temos pouco volume para exportar e nossos preços não estão atrativos. Neste momento, os EUA tomaram conta do mercado, já que eles estão com melhores preços”, conclui.
*Com informações da Reuters