Governistas traçam estratégias para controlar rumos da CPI da Covid
Senadores alinhados ao Palácio do Planalto traçaram uma série de estratégias para controlar os rumos da CPI da Covid, segundo fontes ouvidas pela Reuters, no momento em que a comissão deverá ter seu foco de atuação definido nesta terça-feira pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
A investigação parlamentar ganhou impulso após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso ter determinado na semana passada que o Senado instalasse uma CPI para apurar eventuais omissões e irregularidades do governo federal na pandemia.
Desde então, a estratégia de governistas com o apoio do presidente Jair Bolsonaro, que não deseja a investigação– é atuar em todas as frentes para tentar adiar ou, se não for possível, controlar os rumos da CPI, disseram fontes à Reuters.
Segundo uma delas, a intenção é tentar garantir uma investigação ampliada que envolva, além do governo federal, Estados e municípios.
O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) apresentou um pedido de CPI nesses moldes e já conta com o apoio, segundo sua assessoria, de 41 dos 81 senadores.
“Por que querem tanto impedir a instalação de uma CPI mais ampla nessa pandemia? Nós somos os representantes dos Estados e o nosso foco é investigar a União, mas também as centenas de bilhões de reais que foram enviados aos Estados e municípios para o enfrentamento ao coronavírus”, disse Girão nesta terça, em postagem no Twitter.
O próprio Bolsonaro reconheceu a estratégia em conversa por telefone com o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), que foi gravada e divulgada pelo parlamentar, na qual o presidente disse temer um “relatório sacana” da comissão caso a apuração se concentre apenas no governo federal.
Entretanto, há dúvidas sobre o amparo regimental dessa linha de comissão de inquérito porque, em tese, uma CPI no Senado não poderia apurar fatos relativos a Estados e municípios.
Rodrigo Pacheco decidiu consultar a Secretaria-Geral para tomar uma decisão a respeito, que deve ser anunciada nesta terça.
“Quem quer investigar tudo, não faz nada”, resumiu uma fonte a respeito da estratégia da CPI ampliada.
Outra frente é buscar ganhar tempo e desacelerar o ímpeto da CPI, disse a mesma fonte. Para tanto, está em discussão, por exemplo, adiar o início dos trabalhos da comissão com o argumento de que não seria oportuno instalá-la pelos riscos de contaminação diante do pior momento da pandemia no país.
A intenção é defender o avanço da vacinação e buscar esfriar os ânimos da investigação parlamentar.
Outra linha de atuação é buscar influenciar ao máximo a condução da CPI, conforme a fonte. A intenção é tentar garantir uma maioria de senadores alinhados ao Palácio do Planalto entre as 11 cadeiras de titulares da comissão, em especial para os dois nomes responsáveis pela condução das apurações, o presidente e o relator da CPI.
A avaliação de fontes do Senado é que a Casa tende a ser mais governista ou mesmo neutra e não tem imposto dificuldades, de maneira geral, para o governo.
Uma das fontes disse que Rodrigo Pacheco que se elegeu com o apoio de Bolsonaro não vai atrapalhar, mas não vai “colocar gasolina” em relação à CPI.
Na quarta, o STF vai se reunir para apreciar a decisão liminar de Barroso de determinar a instalação da CPI.
A tendência do Supremo é chancelar a medida, mas deverá deixar a cargo do Senado a decisão sobre o funcionamento do colegiado na pandemia.