Governadores reagem ao pedido de Bolsonaro para que população entre em hospitais e faça vídeos
O presidente Jair Bolsonaro pediu na quinta-feira que as pessoas entrem em hospitais e façam vídeos dos leitos destinados a pacientes contaminados com Covid-19, doença respiratória causada pelo novo coronavírus, para mostrar se há ou não há lotação dessas unidades.
“Seria bom você fazer na ponta da linha. Tem hospital de campanha perto de você, tem hospital público, arranja uma maneira de entrar lá e filmar”, disse o presidente na transmissão semanal que faz em suas redes sociais.
“Muita gente está fazendo isso, mas mais gente tem que fazer para mostrar se os leitos estão ocupados ou não. Se os gastos são compatíveis ou não. Isso nos ajuda. Tudo que chega para mim nas redes sociais a gente faz um filtro e eu encaminho para a Polícia Federal ou para a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e lá eles veem o que fazer com esses dados”, acrescentou.
A sugestão de Bolsonaro, além de colocar em risco de contaminação pessoas que entram em unidades hospitalares que têm pacientes portadores de Covid-19, pode violar a privacidade dos doentes e das equipes médicas que atuam nesses locais.
A declaração do presidente foi duramente critica por governadores do Nordeste.
“No último episódio, que choca a todos, o presidente da República usa as redes sociais para incentivar as pessoas a invadirem hospitais, indo de encontro a todos os protocolos médicos, desrespeitando profissionais e colocando a vida das pessoas em risco, principalmente aquelas que estão internadas nessas unidades de saúde”, disseram os governadores em uma carta aberta.
“O presidente Bolsonaro segue, assim, o mesmo método inconsequente que o levou a incentivar aglomerações por todo o país, contrariando as orientações científicas”, acrescentam.
No início deste mês, deputados estaduais entraram no hospital de campanha montado no complexo do Anhembi pela prefeitura de São Paulo com auxílio de recursos do governo do Estado – alguns deles sem máscaras e outros equipamentos de proteção individual -, geraram tumulto e filmaram pacientes e leitos vazios.
Vídeos publicados nas redes sociais mostraram profissionais de saúde em trajes de proteção pedindo que os parlamentares e seus assessores usassem máscaras.
A prefeitura disse que os leitos vazios ficam preparados para serem utilizados em caso de necessidade e que o hospital de campanha atende casos de baixa e média complexidade – não casos graves – e que este tipo de unidade ajudou a aliviar a pressão sobre os hospitais regulares.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, a Covid-19 já infectou 828.810 pessoas no Brasil, com 41.828 mortes.