Política

Governadores alertam para risco de ‛colapso total’ em rede hospitalar

15 mar 2021, 13:49 - atualizado em 15 mar 2021, 13:49
Senado
O encontro contou com os governadores de São Paulo, Espírito Santo, Maranhão e Rio Grande do Sul (Imagem: Reprodução/Tv Senado)

A pandemia de coronavírus pode provocar um colapso em hospitais públicos e privados do país até o fim de março.

O alerta é de governadores que participaram nesta segunda-feira (15) de uma audiência pública promovida pela comissão temporária do Senado que acompanha a evolução da covid-19.

O encontro contou com os governadores de São Paulo, Espírito Santo, Maranhão e Rio Grande do Sul.

O governador de São Paulo, João Doria, disse que a pandemia de coronavírus provocou sobrecarga na rede hospitalar, especialmente nos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI). Para ele, a estrutura está “à beira de um colapso total”.

— Jovens com 18, 19, 20 e 25 anos sendo hospitalizados em UTIs. São Paulo tem a mais robusta estrutura hospitalar da América Latina, em hospitais públicos e privados. Já estamos chegando quase a 90% da ocupação de todos os leitos e rapidamente tendo uma necessidade de disponibilizar mais leitos. E o problema não é disponibilizar mais leitos: é não termos recursos humanos. Não há condição de formarmos profissionais para as ações em UTIs. Estamos todos no Brasil vivendo um momento de profunda dificuldade e à beira de um colapso total — disse.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, advertiu que “a velocidade e a agressividade do vírus” aceleraram a demanda por novos leitos de UTI.

Ele relatou que, há apenas um mês, o estado tinha 800 pacientes em leitos para covid-19. Agora, são mais de 2,5 mil, além outros 6 mil em leitos clínicos.

— A escalada do mês de fevereiro foi cinco vezes mais agressiva do que se viu nas outras ondas. Fugiu completamente ao normal da própria pandemia. Vamos até o inicio do mês de abril com crescimento de ocupação de leitos e vamos ter ainda, infelizmente, aumento de mortalidade por mais algumas semanas. Tivemos no ano passado cerca de 500 óbitos por semana. Já estamos em 1,2 mil. E, infelizmente, as projeções indicam que chegaremos a 2 mil óbitos por semana — afirmou.

O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, disse que a situação do estado se agravou muito na última semana: a ocupação de leitos saltou de 70% para 88%.

Ele lembra que a maioria dos estados brasileiros atravessa situação semelhante — o que pode impactar o número de mortos, que já ultrapassa os 278 mil.

— Estamos com mais de 20 estados com o sistema em colapso. Enquanto o sistema está atendendo, o óbito pode ser um pouco mais controlado. Depois que o sistema entra em colapso, as pessoas passam a perder a vida em leitos de unidades de pronto atendimento. Este é um problema grave — alerta.

Segundo dados obtidos pelo senador Izalci Lucas (PSDB-DF), dos 12 mil leitos financiados em dezembro do ano passado, a União reduziu o pagamento para apenas 3 mil (Imagem: Pedro França/Agência Senado)

Custeio de UTIs

O governador do Maranhão, Flávio Dino, cobrou da União o pagamento por leitos de UTI criados nos estados. Ele entrou na Justiça para assegurar o credenciamento das unidades de terapia intensiva, que foram desabilitadas no início deste ano.

— Chegamos a ter apenas 300 pacientes com coronavírus internados no Maranhão com dezembro. Hoje vamos chegando a 2 mil novamente. Tivemos uma multiplicação por seis em dois meses, praticamente. São 1.568 leitos estaduais para coronavírus, fora municípios e rede privada. Com ocupação girando entre 80% e 90% a várias semanas — afirmou.

Segundo dados obtidos pelo senador Izalci Lucas (PSDB-DF), dos 12 mil leitos financiados em dezembro do ano passado, a União reduziu o pagamento para apenas 3 mil em todo o país.

O governador paulista João Doria, que também entrou na Justiça para assegurar o recredenciamento, classificou como “inacreditável” a postura do Ministério da Saúde.

— A ministra Rosa Weber [do Supremo Tribunal Federal] solicitou a Ministério da Saúde que dissesse por que não está cumprindo a determinação de homologar os leitos. O Ministério da Saúde disse à Procuradoria-Geral da República que está homologando. Mas não está. Vamos denunciar isso. Em São Paulo, estamos cobrindo o custo no momento mais crítico da pandemia. É inacreditável o Ministério da Saúde desobedecer a uma determinação da Corte Suprema no meio de uma pandemia — afirmou.

O senador Otto Alencar (PSD-BA) demonstrou apreensão com o tema.

— É algo que preocupa bastante, com o aumento dos casos que necessitam do tratamento com UTI. Creio que o governo federal pode ainda, mesmo que tardiamente, restabelecer essa relação de cooperação com os estados. O que assistimos ao longo do primeiro ano foi o confronto do governo federal com os governadores — disse.

A senadora Zenaide Maia (Pros-RN) alertou para o impacto da pandemia sobre o tratamento de outras enfermidades.

— Quantas pessoas estão morrendo em consequência da covid? Os leitos hospitalares e UTIs estão todos à disposição da covid. Conheço pessoas que estão há um ano com diagnóstico de câncer e não têm condição de ser operadas porque necessitam de leitos de UTIs de suporte e não têm. Essa chacina, esse genocídio é muito maior do que a gente está presenciando — denunciou.

Insumos e Orçamento

O governador Flávio Dino, do Maranhão, defendeu a compra centralizada de medicamentos e insumos para pacientes internados com coronavírus. Para ele, a medida poderia reduzir custos e assegurar a distribuição dos produtos.

— Sabemos que há muitas assimetrias em termos nacionais. Precisamos olhar como está o mercado. Os governadores têm tido há vários meses dificuldade para adquirir insumos estratégicos. Não queremos doação, a gente quer poder comprar insumos que são fundamentais, como anestésicos e bloqueadores musculares. E há sempre o temor em relação ao oxigênio — afirmou.

O governador Renato Casagrande, do Espírito Santo, cobrou a atenção do Congresso Nacional ao orçamento da Saúde para este ano. Ele lembrou que, apesar da necessidade de enfrentamento à pandemia de coronavírus, a proposta em discussão no Parlamento (PLN 28/2020) reduz a previsão de despesas em relação a 2020.

— É muito importante que não tenhamos redução do valor do orçamento da Saúde deste ano, que ainda será apreciado. O que está proposto é menor em quase R$ 50 bilhões. Seria muito bom ficar atento para a possibilidade de ampliação do financiamento da Saúde, uma vez que estamos passando a pior fase da pandemia no Brasil — disse.