Gol negocia relação mais próxima com American Airlines e United
A Gol Linhas Aéreas, maior empresa aérea do país, está em conversas para estreitar laços com a American Airlines e a United Airlines depois do fim da parceria com a Delta.
As empresas estão em discussões para acordos de codeshare, que permitem que as companhias coloquem passageiros em voos das parceiras, disse Richard Lark, diretor financeiro da Gol, em entrevista em Nova York na terça-feira. Seria um passo à frente nos acordos que a Gol já tem com ambas as aéreas, os chamados interline agreements.
“Estamos em conversas com United e American sobre converter esses acordos em codeshares, e podemos ter ambas como parceiras,” disse Lark. Um acerto com uma ou ambas pode acontecer “nos próximos meses”.
A movimentação da Gol acontece após o anúncio da Delta, em setembro, de que venderá suas ações na empresa brasileira para adquirir 20% da rival Latam. Um relacionamento mais próximo com a Gol seria especialmente benéfico para a American, que ficou sem um parceiro na América do Sul depois que a proposta de parceria com a Latam encontrou barreiras legais — o que levou a empresa chilena a se unir a Delta.
A United já tem uma parceria com a Azul, a terceira maior empresa no mercado doméstico, atrás de Gol e Latam. A United tem uma fatia de 8% na Azul e também está em conversas para uma joint venture com a Avianca e a Copa.
A American disse que não tem comentários a fazer no momento. A United também não quis comentar.
A Delta não sinalizou quando e como pretende vender suas ações da Gol, segundo Lark. A empresa tem uma fatia de 9%, segundo o website da Gol, e as conversas com American e United não incluem compra de participação, ele disse.
“A empresa não tem necessidade de financiamento por esta via”, afirmou Lark.
Imprevistos
A frota da Gol é composta exclusivamente de Boeings 737, incluindo sete aviões Max que estão sem voar desde março, após dois grandes acidentes.
A Gol espera que a Federal Aviation Administration dos EUA libere as aeronaves para voos em dezembro, decisão que deve ser seguida rapidamente pelo governo brasileiro, disse Lark, o que permitiria à Gol recolocar os aviões em uso já em janeiro.
Essa é uma visão mais otimista do que as da American, United e da Southwest Airlines, a maior operadora dos Max. As três empresas retiraram os aviões de seus planos de voo até março.
A Boeing afirmou semana passada que mesmo se a FAA retirar a proibição de voo do Max em dezembro, os reguladores ainda precisam aprovar o novo material de treinamento dos pilotos em janeiro.
A Gol também tirou de circulação algumas aeronaves 737 NG depois que reguladores exigiram a inspeção de uma parte da estrutura que liga as asas ao corpo dos aviões.
A frota da empresa foi mais afetada que a média por essa falha em parte por causa de condições específicas dos aeroportos brasileiros, com pistas mais curtas e um tipo de asfalto diferente, segundo Lark. A Gol também arrendou esses aviões de terceiros e não diretamente da Boeing, que customiza as aeronaves para essas circunstâncias.
Esses fatores, combinados com o modelo operacional da Gol, de uso intensivo dos aviões, fez com que 11 jatos fossem retirados de serviço, disse Lark — cerca de 9% da frota de 125 aeronaves. A Boeing na semana passada disse que menos de 5% da frota total dos NGs submetidos às inspeções tinham falhas.
Olhando para 2020, Lark está otimista em relação aos preços do petróleo e do real, ambos com papel importante nos negócios.
A Gol vê o barril do West Texas Intermediate em cerca de US$ 60 em 2020 e o Brent, uma referência global, um pouco acima de US$ 70.
Lark também espera que o real — que já caiu cerca de 7,8% contra o dólar este ano até quarta-feira — fique estável ou suba nos próximos seis a 12 meses.
Até o final do ano que vem, o dólar poderia chegar perto de R$ 3,6, segundo ele — nível mais baixo do que os R$ 4 esperados pela média dos analistas compiladas pela Bloomberg.
Apesar de a economia brasileira ainda estar se recuperando num ritmo aquém do esperado, a Gol já vê um crescimento na demanda por viagens.
“A base de clientes corporativos tem sido o principal driver nos últimos dois anos, absorvendo grande parte dos aumentos de preços de passagens”, disse. Em setembro, a empresa “começou a ver sinais de vida no consumidor brasileiro, no viajante de lazer”.