Internacional

Ghosn espera dar volta por cima com apoio de libaneses

15 jan 2020, 15:14 - atualizado em 15 jan 2020, 15:14
Carlos Goshn, ex-presidente da Renault Nissan
“Hoje, tenho orgulho de ser libanês”, disse Ghosn em árabe em uma sala lotada em meio a aplausos e gritos de incentivo (Imgem: Reuters/Mohamed Azakir)

Momentos antes de iniciar sua ruidosa conferência de imprensa em Beirute na semana passada, Carlos Ghosn foi recebido com entusiasmo por uma multidão de jornalistas locais que se aglomeravam ao redor do púlpito, revezando-se para abraçar o titã automotivo foragido e tirar selfies.

Ghosn retribuiu alegremente a recepção calorosa. Durante seu discurso de 2 horas e meia, Ghosn elogiou o Líbano, para onde fugiu no fim do mês passado, ao mesmo tempo em que expressava sua amargura em relação à sociedade japonesa que, segundo ele, tentou destruí-lo.

“Hoje, tenho orgulho de ser libanês”, disse Ghosn em árabe em uma sala lotada em meio a aplausos e gritos de incentivo. “Porque, se existe um país que esteve ao meu lado em meio a essas dificuldades, é o Líbano.”

Ghosn pode ter rompido dramaticamente com o Japão, o país onde o renascimento da Nissan Motor liderado por ele o tornou um herói popular, mas agora o ex-executivo voltou para o Líbano, onde cresceu e ainda conta com o apoio dos círculos de elite que incluem o presidente.

Sua fuga da prisão domiciliar no Japão, digna de um filme, o tornou indiscutivelmente o mais conhecido residente do Líbano, e ele se apoia em um grupo de empresários influentes, advogados e autoridades do governo para ajudar a limpar seu nome.

Em um país cujos emigrantes superam os cidadãos que vivem no lar de origem, Ghosn é há muito tempo celebrado como a história de sucesso por excelência do Líbano – um executivo global sempre em movimento, adaptando-se sem esforço a diferentes culturas e idiomas e andando lado a lado das elites no Fórum Econômico Mundial de Davos.

Autoridades do governo não querem exagerar o nível de apoio oferecido a Ghosn, argumentando que é um serviço prestado a qualquer cidadão que entre no país legalmente. Embora exista um mandado de prisão internacional para Ghosn, o Líbano não tem acordo de extradição com o Japão, o que significa que ele está a salvo da deportação.

Apoiar seu filho pródigo sem parecer favorecer a elite endinheirada é um delicado ato de equilíbrio em um país que está cansado do tratamento preferencial para a classe alta. Os protestos anticorrupção derrubaram o governo em outubro, em meio a uma forte desaceleração econômica. Racionamento de energia, escassez de água e um florescente mercado negro da moeda local tornaram-se comuns.

Mesmo quando estava percorrendo o mundo, Ghosn manteve seus laços com o Líbano. Ele possui uma pequena participação no Saradar Bank, um dos principais bancos do país, e cofundou uma vinícola e um projeto imobiliário na região norte, coberta pela floresta de cedro que ficou famosa na bandeira nacional. A família Saradar tem desempenhado um papel fundamental no setor bancário do país há décadas e a empresa sobreviveu aos altos e baixos da prolongada guerra civil do Líbano.