GetNinjas se espelha na parceria Pan-Méliuz e entra em nova fase com serviços financeiros
Após o sucesso de adesão do cartão de crédito do Méliuz (CASH3), chegou a vez do GetNinjas (NINJ3) se aventurar na competitiva indústria de serviços financeiros tendo o Banco Pan (BPAN4) como parceiro.
A startup que conecta clientes a prestadores de serviços recentemente anunciou que está na fase final das negociações com o banco digital para oferecer produtos e serviços financeiros aos profissionais da plataforma. Pela parceria, o GetNinjas disponibilizará os produtos do Pan à sua base de profissionais cadastrados.
Em um primeiro momento, o usuário terá à disposição a conta bancária e o cartão de crédito. Mais para frente, outras modalidades, como crédito pessoal, adquirência e seguros, devem entrar no portfólio do GetNinjas.
A integração da base do Pan na plataforma também está prevista para acontecer. Os clientes do banco poderão se cadastrar no GetNinjas como profissionais e também solicitar serviços como clientes.
Segundo Eduardo L’Hotellier, CEO e co-fundador do GetNinjas, a parceria, além de ser estratégica pelo posicionamento alinhado entre as duas empresas, com foco no segmento de microempreendedorismo, traz a experiência do Pan da época em que desenvolveu um cartão em conjunto com o Méliuz.
“Não é segredo que a parceria Pan-Méliuz foi incrível para os dois lados”, comentou o executivo, em entrevista ao Money Times. “A gente viu que o Pan fazia mais sentido pelo posicionamento, o interesse e a experiência em trabalhar com empresas de tecnologia. O Pan já sabia trabalhar com empresas inovadoras, de alto crescimento”.
O Pan e o Méliuz anunciaram a parceria em 2019. O cartão chegou ao mercado com o diferencial de oferecer cashback com base no volume mensal de pagamentos e nas compras no e-commerce.
O lançamento deu certo. O Méliuz encerrou o segundo trimestre do ano com 6 milhões de solicitações para o cartão co-branded desde o lançamento. Só entre abril e junho de 2021, 1,5 milhão de novos pedidos foram realizados, recorde para um único trimestre.
Fidelizando a clientela
Um dos maiores desafios do GetNinjas é aumentar a recorrência (ou seja, quando o usuário retorna à plataforma), e nisso a parceria com o Pan pode ajudar.
Ao fim de junho de 2021, o percentual de profissionais ativos recorrentes no aplicativo da companhia ficou próximo a 60%. A venda de moedas cresceu 57% no primeiro semestre do ano, atingindo R$ 35,7 milhões.
Além da parceria com o Pan, o GetNinjas está focado em ampliar a atuação geográfica e, principalmente, as categorias da sua plataforma.
Atualmente, o GetNinjas conta com mais de 500 categorias diferentes no aplicativo. A ideia é trabalhar na expansão do portfólio para torná-lo cada vez mais completo. O GetNinjas quer ser uma plataforma de serviços onde “o cliente encontra de tudo”.
“Um fato curioso: a gente percebeu um aumento na busca por professor de skate por conta da medalha olímpica. Essa é a mágica. O cliente não precisa pensar duas vezes; ele vai saber que no GetNinjas vai encontrar de tudo. Desde o professor de skate, que, obviamente, é uma categoria pequena comparada às outras, mas interessante de ter na cobertura, até o pintor ou o professor de inglês, que são serviços mais usuais, corriqueiros”, contou L’Hotellier.
Pensando também nas tendências do mercado, o GetNinjas está entrando com novas soluções para atender a crescente demanda de alguns setores. Esse é o caso do GetNinjas Go, serviço de design, tecnologia e marketing lançado no início de 2021, em meio ao crescimento dos canais digitais.
Afinal… O que é GetNinjas?
O GetNinjas fez sua estreia na B3 (B3SA3) em maio deste ano. No primeiro dia de negociação, as ações da companhia fecharam o pregão no vermelho, registrando queda 3,75%. O cenário não mudou muito desde então. O papel da startup, embora tenha fechado a última sexta-feira com valorização expressiva de 18,72% em um movimento de correção, acumula perdas de 15,3%.
Para L’Hotellier, parte do desempenho negativo é explicada pelo timing. O CEO destacou o momento de queda vivido pelas techs – no último mês, não só as ações do GetNinjas caíram, como também os papéis de Mosaico (MOSI3), Sinqia (SQIA3), Bemobi (BMOB3) e até Méliuz.
“Todas as empresas de tecnologia sofreram bastante nesse período. O aumento de juros acaba tendo um impacto maior nas companhias que têm uma expectativa mais futura de geração de caixa, de lucro. Isso tem esse efeito no papel”, disse.
Outra explicação é que o mercado ainda parece ter dúvidas sobre o modelo de negócio do GetNinjas.
“Sim, existem ainda dúvidas sobre o modelo de negócio. É um fato que, trabalhando, vamos atrair mais investidores para a companhia e, consequentemente, uma melhor negociação”, afirmou L’Hotellier.
O GetNinjas é uma plataforma que conecta quem está procurando por algum tipo de serviço ao profissional que oferece o serviço. Enquanto o aplicativo é gratuito para o cliente, para o profissional funciona como um programa pré-pago. Ele paga por um pacote de créditos (moedas), que são usados para cada cliente que o GetNinjas introduz a ele. A cobrança é realizada no momento que o profissional envia a mensagem ao cliente.
Hábitos que ficaram
L’Hotellier está otimista com o segundo semestre. Mesmo com a flexibilização das medidas restritivas e a população voltando às ruas, o executivo acredita que a procura por serviços em residências (reformas e reparos, por exemplo) vai aumentar.
“Apesar da volta de alguns escritórios, o home office é algo que estará mais forte. Serviços de reparo doméstico continuarão fortes. Fora isso, serviços online, como aulas e psicólogo, vão continuar. O hábito ficou”, disse o CEO.
Questionado se o GetNinjas está com a agenda de M&A (fusões e aquisições) ativa, o executivo disse que a companhia tem conversado com algumas empresas do mercado que complementam a oferta do aplicativo.
“A gente tem olhado, conversado, e faz parte da estratégia em algum momento trazer complementaridades ao nosso negócio”, afirmou. “A gente tem diversas verticais no GetNinjas. Estamos conversando com os líderes dessas verticais, entendendo quais têm mais aderência ao nosso momento. Estamos olhando alguns serviços que possam ajudar a vida do autônomo e do microempreendedor”.
Aceleração do ecossistema pode demorar?
O GetNinjas reportou prejuízo líquido de R$ 17,8 milhões no segundo trimestre do ano, ante lucro de R$ 282 mil em igual período de 2020.
A receita líquida totalizou R$ 15,4 milhões, alta de 55% no comparativo anual. Já o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) atingiu montante negativo de R$ 19,1 milhões, com margem de –124%, pressionado pela aceleração dos custos com marketing e vendas no intuito de aumentar o envolvimento com clientes e profissionais da plataforma.
Na avaliação da Ágora Investimentos, a aceleração do ecossistema da companhia pode demorar mais que o esperado. Com a empresa dando continuidade aos investimentos em pessoal, vendas e marketing, as despesas seguirão elevadas.
“O aumento da receita pode levar mais tempo do que o esperado – apesar da jornada de alto custo para criar o efeito de rede tão necessário para clientes e profissionais”, disse a corretora.
Apesar de uma perspectiva de longo prazo positiva, a Ágora vê um curto/médio prazo desafiador para o GetNinjas.
“Embora mantendo nossa visão construtiva sobre o potencial do mercado para serviços online, reconhecemos que o curto/médio prazo envolverá algum grau de risco de execução, o que pode atrasar a geração de receita e, consequentemente, o potencial da empresa para aumentar a lucratividade”, explicou.
Os investimentos em marketing no segundo trimestre levaram a um crescimento de 314% no número de novos profissionais cadastrados na plataforma do GetNinjas, atingindo 567 mil em volume.
O número de profissionais ativos nos últimos 12 meses encerrados no fim de junho foi de 179 mil, alta de 78% comparado com o mesmo período de 2020.
No trimestre, os clientes realizaram 1.301 mil pedidos, crescimento de 40% na comparação ano a ano. Os pedidos se concentraram, principalmente, nas categorias de serviços domésticos, consultoria, reformas e reparos e assistência técnica.