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Gestores evitam grandes bancos e dizem que o pior pode estar por vir

09 mar 2023, 17:13 - atualizado em 09 mar 2023, 17:38
bancos
Em fevereiro, os principais bancos seguiram anunciando intenção de crescer suas carteiras de crédito em 2023 entre 6-12%. (Foto: Flávya Pereira/Money Times)

Com o balanço do quarto trimestre dos bancos evidenciando os impactos do rombo bilionário da Americanas (AMER3), alguns gestores têm evitado ou diminuído a exposição ao setor.

O temor, dizem, é de que o país ainda não esteja no pior momento da inadimplência e das condições de crédito – ou seja, seria possível ver uma piora dos números das instituições nos próximos trimestres.

O gestor da Kínitro Capital, Marcelo Ornelas, conta que a casa não tem bancos desde 2018. Segundo ele, a tese é de que acontecerá com os bancos brasileiros o que aconteceu no exterior: acirramento da concorrência em segmentos específicos com o surgimento das fintechs levando a uma progressiva perda de participação de mercado.

Ornelas aponta que a Itaú Holding não compra ações do Itaú Unibanco (ITUB4) desde 2018 – o que, na avaliação dele, seria outro sinal de que o banco não é o melhor investimento hoje.

O gestor afirma que o múltiplo preço de tela dos bancos sobre o valor contábil tem convergido aos patamares do exterior. “Lá fora tem prêmio muito baixo, 15% a 20%. No Brasil tinha 100% de prêmio até pouco atrás”.

Ornelas diz que a carteira de crédito do Bradesco (BBDC4) e a do Santander (SANB11) são “muito carregadas” de pequenas e médias empresas, além de pessoas físicas. “Ainda vai demorar para limpar esses balanços“, afirma. Para ele, os bancos não vão melhorar. “Lá fora ainda não voltou a ser um bom investimento”.

O gestor diz que o Itaú “até saiu mais blindando” com o último balanço. Mas o problema com o crédito e inadimplência, diz, vai chegar no bancão. “Crise de crédito mal começou no Brasil”, afirma.

Um outro gestor disse que os grandes bancos parecem baratos, mas com uma série de riscos à frente.

Para o Banco Central, a economia não passa por um credit crunch (uma forte contração do crédito), apesar de a autarquia dizer monitorar de perto os efeitos do escândalo da Americanas, de acordo com a ata do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) divulgada nesta quinta-feira (9).

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‘Ressaca’ dos juros baixos

O analista Lucas Fernandes, da Encore Investimentos (gestora que também não tem exposição aos bancos), define o momento atual como o de “ressaca” do período de juros baixos.

Os bancos provisionaram muito na pandemia, mas daí passaram por um cenário “mega benigno”, segundo Fernandes, por conta do dinheiro injetado na economia. A partir do momento em que as provisões sobraram, os bancos viram espaço para serem mais agressivos na concessão de crédito.

Mas a persistência da inflação e a agressiva elevação da Selic, que saiu de 2% para 13,75%, agora penalizam pessoas e empresas que tomaram crédito quando a perspectiva era de juros baixos por muito tempo.

Nesse cenário, os índices de inadimplência pioraram. Se em um primeiro momento o problema parecia restrito ao universo de Pessoas Físicas, o rombo da Americanas virou gatilho para uma preocupação com a capacidade de as empresas cumprirem suas obrigações.

Fernandes define os próximos meses como essenciais para saber como está a situação do crédito no Brasil. “Se o mercado de emissão de dívida em cinco meses estiver pior, vou ficar mais preocupado”.

“O grande ponto agora é que a gente não tem muito dado para entender o que está acontecendo. Em janeiro, teve alguma desaceleração na concessão de crédito. Mas não sabe se é sazonal”, acrescenta.

A Kinea Investimentos, que não revelou se investe em bancos recentemente, afirmou em carta que as empresas do setor bancário “adotarão critérios bastante conservadores para concessão de crédito”.

A gestora vê as instituições, por ora, com projeções otimistas para o ano. Em fevereiro, lembra a Kinea, os principais bancos seguiram anunciando intenção de crescer suas carteiras de crédito em 2023 entre 6-12%.

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