Gestores defendem mudança na meta de inflação
Alguns dos gestores mais respeitados do país defenderam nesta quarta-feira (15) um aumento na meta de inflação, em linha com o que tem dito o presidente Lula.
Mais importante para o mercado, disseram, deveria ser a credibilidade da nova âncora fiscal. “Define uma nova meta, deixa o pessoal entender como funcionará”, afirmou o sócio-fundador da JGP André Jakurski.
O gestor, que falou durante painel do CEO Conference 2023, evento promovido pelo BTG Pactual, destacou que a âncora seria mais importante do que ficar “perseguindo a PEC 110” [reforma tributária], que, segundo ele, não terá efeito fiscal no longo prazo.
Sem citar recuperações judiciais especificas, Jakurski disse ainda ver um “aperto de crédito razoável depois dos eventos recentes” e diante do patamar atual da Selic, a 13,75%.
Luis Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset, definiu a meta atual, cujo centro é 3,25% em 2023, como “irrealista”. “Não é uma coisa boa para o Brasil”, afirmou.
O gestor defendeu medidas de longo prazo do governo e criticou projetos com foco no resultado das eleições. “Desoneração da gasolina e diesel geraram R$ 60 bilhões anualizados. Como você volta [aos valores de antes]?
Para Stuhlberger, o Congresso, quando presidente quer, abaixa impostos e aumenta gastos. “O inverso não é verdadeiro”, destacou, lembrando que a aprovação de PECs que geraram, segundo ele, despesas de algo em torno de R$ 200 bilhões.
Xavier: É preciso separar as discussões
Para Rogério Xavier, da SPX Capital, incerteza fiscal e metas de inflação são dois assuntos diferentes. O primeiro, segundo ele, deve ser endereçado ao ministro da Economia, Fernando Haddad, O segundo problema, disse, é do presidente do BC, Roberto Campos Neto.
“Ninguém tem coragem de falar para o ministro que o problema hoje [para os agentes econômicos] é a incerteza sobre a âncora fiscal”, afirmou, reiterando que a discussão sobre meta de inflação está “completamente errada”.
“Dizer que sociedade quis essa meta… Qual sociedade? As pessoas no supermercado convivem com inflação de 10%, 12%”, disse o gestor.
Xavier destacou que o sistema de metas de inflação, que começou há mais de 20 anos, atingiu a inflação de 3% só uma vez, e de 2,95% em 2016. “Se a gente tem reunião a cada ano para reavaliar as metas de inflação, por que é um dogma tão grande corrigir?”
O gestor defendeu que o argumento de que a mudança desancoraria as expectativas não é válido porque as expectativas já estão desancoradas. “O mesmos analistas que criticam mudança da meta agora eram os que antes [no auge da pandemia] queriam a Selic a 0”.
Para Xavier, o BC, que teve, segundo ele, uma boa atuação ao elevar a taxa de juros rapidamente, fez uma “barbeiragem sem tamanho” ao colocar a Selic em patamares de 2%, com “forward guidance de que a gente estaria rumando para a deflação no Brasil”.