Gestores apostam em Vale para navegar cenário turbulento
Investidores têm aumentado suas posições em Vale (VALE3), apostando na mineradora como uma das principais oportunidades em meio à sangria na bolsa brasileira.
Em março, as ações da Vale despencaram para o menor nível em três anos diante da disrupção nas cadeias de produção globais e dos cortes das estimativas de crescimento provocados pela pandemia de coronavírus.
O papel subiu mais de 20% na última semana, mas ainda é negociado no nível mais baixo desde 2019, após o rompimento da barragem de Brumadinho, que matou 270 pessoas.
“A Vale é uma oportunidade como as que acontecem a cada 10, 15 anos”, disse Paolo Di Sora, diretor de investimentos da RPS Capital, durante videoconferência realizada pelo Banco BTG Pactual.
Uma das razões por trás do otimismo é o fato de a mineradora se beneficiar da alta do dólar em relação ao real, pois a maior parte da receita da empresa é atrelada à moeda estrangeira.
O real acumula baixa superior a 23% neste ano, um dos piores desempenhos no mundo. Di Sora disse que o valuation da ação chegou a implicar dólar em cerca de R$ 3,50, muito abaixo do câmbio atual de R$ 5,26.
A Adam Capital também está entre os otimistas. De acordo com Márcio Appel, que fundou a gestora de ativos em 2016 com André Salgado, a ação da Vale parece atraente mesmo em cenários adversos para os preços do minério de ferro.
“Se eu tivesse que escolher uma ação brasileira que está particularmente barata, seria a Vale”, disse Appel em videoconferência realizada na terça-feira pelo Itaú Unibanco.
De acordo com o Goldman Sachs, que elevou a recomendação para o ADR da Vale para equivalente à compra, o preço atual da ação não implica crescimento de volume e assume preços de minério de ferro a US$ 65 a tonelada por um longo período, o que o banco considera improvável.
O minério de ferro acumula baixa de 11% neste ano, negociado em cerca de US$ 80 a tonelada, uma queda menos drástica do que a vista em outras commodities em meio a expectativas de aumento dos estímulos na China.
Caio Ribeiro, do Credit Suisse, também avalia o desconto atual como exagerado, especialmente considerando “fortes perspectivas de geração de caixa”, segundo relatório.
No balanço do quarto trimestre, a Vale disse que a geração de caixa permitiu reduzir a dívida líquida para cerca de US$ 4,9 bilhões, o menor nível desde 2008.
A empresa também acessou US$ 5 bilhões em linhas de crédito para reforçar o caixa em meio à recente turbulência.
“Hoje a nossa principal métrica é se uma determinada empresa é capaz de sobreviver a cenários de estresse”, disse Felipe Campos, sócio-fundador da Navi Capital, em entrevista.
“A Vale tem caixa sólido, custos menores e certamente entra nessa lista.”